Do PORTAL UNIBUS
Foto: João Batista Alves Gomes (Flickr / NTU)
A Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) lançou, durante o Seminário Nacional NTU 2025, o Anuário NTU 2024-2025, documento que reúne os principais dados e tendências do transporte público coletivo por ônibus no Brasil. O levantamento mostra transformações profundas no modelo de financiamento, alerta para a estagnação dos investimentos em infraestrutura e destaca avanços institucionais que podem redefinir o futuro do setor.
O destaque do anuário é a chamada “revolução silenciosa” nos subsídios e na tarifa zero. Nos últimos cinco anos, o número de cidades que subsidiam o transporte coletivo mais que dobrou, passando de 120 para 241. Já os municípios com tarifa zero chegaram a 154 — sendo que, em 127 deles, o benefício é pleno e universal, válido em todos os dias da semana e para todos os passageiros.
Segundo a NTU, os resultados comprovam o impacto positivo dos subsídios na reconquista de usuários. Ainda assim, a entidade defende a criação de uma política nacional com diretrizes federais e fontes permanentes de financiamento. Hoje, os subsídios cobrem, em média, 30% dos custos do sistema brasileiro — percentual ainda distante dos 50% praticados na Europa.
Infraestrutura em ritmo lento
Apesar do avanço na política tarifária, os investimentos em infraestrutura seguem abaixo do necessário. Dados de 2023 indicam desaceleração na implantação de corredores, faixas exclusivas e sistemas BRT. Mesmo com o Novo PAC, o número de empreendimentos ativos e concluídos permanece insuficiente, o que compromete a eficiência operacional e a atratividade do ônibus como meio de transporte.
Para a NTU, a falta de infraestrutura dedicada significa mais tempo de viagem, menor conforto, custos mais altos e perda de competitividade frente a outros modais.
Recuperação operacional e desafios da frota
Os números de 2024 mostram sinais de recuperação no serviço: a oferta de quilometragem cresceu 10,3%, o total de passageiros transportados subiu 9,8% e os passageiros equivalentes (pagantes) avançaram 4,7%.
A diferença entre passageiros transportados e pagantes continua em expansão, reflexo do modelo de remuneração subsidiado. Em 2024, apenas 56,7% dos passageiros foram pagantes, contra 72% em 2021.
A frota nacional manteve idade média de 6 anos e 5 meses. Embora a renovação tenha evitado maior envelhecimento, o setor ainda enfrenta dificuldades de acesso a crédito com condições adequadas, o que limita a modernização dos veículos e a transição energética.
Por outro lado, os custos operacionais tiveram estabilidade: o diesel variou apenas 0,9% e os salários dos motoristas não registraram aumentos significativos. O custo por quilômetro chegou a cair 1%.
Avanços institucionais
No campo legislativo e fiscal, 2024 marcou progressos importantes. O Marco Legal do Transporte Público Coletivo, já aprovado no Senado e em análise na Câmara, promete trazer maior segurança jurídica, melhor governança e novos modelos de contrato.
Além disso, a regulamentação da Reforma Tributária garantiu isenção do novo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) para o transporte coletivo urbano, metropolitano e semiurbano. A medida representa alívio financeiro às empresas e deve refletir em mais eficiência no serviço.
Transporte coletivo como política de Estado
Para a NTU, os dados reforçam a urgência de consolidar o transporte coletivo como política pública estruturante, articulada com agendas de mobilidade, clima, inclusão e desenvolvimento urbano.
“Não há mobilidade sustentável sem transporte coletivo forte, acessível e eficiente. Os avanços registrados nos últimos anos são fruto da ação conjunta de municípios e operadores, mas ainda carecemos de uma estrutura federal permanente que reconheça o transporte público como prioridade nacional”, afirmou Francisco Christovam, presidente executivo da NTU.
O Anuário NTU 2024-2025 pode ser acessado neste link.