Do PORTAL UNIBUS
Foto: Divulgação (Mercedes-Benz do Brasil)
A cidade de São Paulo vive um impasse no processo de eletrificação do transporte público: embora já conte com 449 ônibus elétricos, muitos veículos seguem fora de operação por falta de infraestrutura adequada para recarga nas garagens. Proibidos de adquirir novos ônibus a diesel, os operadores dependem exclusivamente da eletrificação, mas esbarram em entraves estruturais que paralisam o avanço da frota.
O problema tem causado impacto direto também nos fabricantes. A Mercedes-Benz, por exemplo, ainda não recebeu R$ 300 milhões referentes a 175 ônibus elétricos entregues em 2023, encomendados pelas empresas Viação Metrópole Paulista, Sambaíba e MobiBrasil. Os veículos estão prontos, mas permanecem fora das ruas, pois dependem da instalação dos pontos de recarga — responsabilidade da Enel, concessionária de energia da capital.
De acordo com Walter Barbosa, vice-presidente da Mercedes-Benz Ônibus, o modelo de financiamento adotado pela prefeitura de São Paulo prevê o pagamento somente após os veículos entrarem em operação, o que agrava a situação. “Esse sistema não leva em conta a complexidade do processo de eletrificação. Propomos um novo modelo que preveja, por exemplo, multas por descumprimento de prazos e pagamentos separados para fabricantes e fornecedores de energia”, defende o executivo.
Enquanto isso, outras cidades avançam com mais eficiência. Modelos elétricos da marca já operam em Vitória, Belo Horizonte, Curitiba e Rio de Janeiro, e também são exportados para Chile, Argentina e México. Em São Paulo, estão em operação 436 ônibus elétricos Mercedes-Benz — sendo 111 próprios da marca e 325 em parceria com a Eletra.
A expectativa agora gira em torno do modelo articulado eO500UA, apresentado na LatBus 2024, que será testado em 2025 e colocado em circulação a partir de 2026, com foco também na exportação para a América Latina. Os testes ocorrem em trechos urbanos e no centro de testes da montadora, em Iracemápolis (SP), em parceria com a Bosch.
Apesar da aposta nos elétricos, Barbosa alerta: o maior obstáculo ainda é a rede de fornecimento de energia, que opera em baixa tensão, enquanto os sistemas de recarga exigem média ou alta tensão. A transição exige tempo e investimentos robustos.
Ele lembra, porém, que a descarbonização não depende exclusivamente dos elétricos. Tecnologias como o motor Euro 6 combinado com combustíveis como biodiesel, diesel verde R5, HVO e biometano também podem contribuir, desde que haja estrutura adequada para abastecimento.