Do PORTAL UNIBUS
Foto: Tomaz Silva (Agência Brasil)
Os ataques a ônibus na cidade do Rio de Janeiro resultaram em um prejuízo estimado em R$ 75 milhões nos últimos 12 meses, de acordo com o Sindicato das Empresas de Ônibus do Rio (RioÔnibus). Esse valor seria suficiente para adquirir cerca de 100 novos veículos que poderiam ser incorporados à frota do transporte público. Em diversas regiões da cidade, especialmente nas zonas norte e oeste, criminosos têm sequestrado ônibus para obstruir vias e formar barricadas em resposta a operações policiais.
Na última quinta-feira (17), quatro ônibus foram tomados por bandidos para bloquear ruas em duas áreas diferentes da cidade: dois na comunidade da Muzema, na zona oeste, e outros dois em Costa Barros, na zona norte. Esse tipo de crime já havia ocorrido um dia antes, quando nove ônibus também foram sequestrados e usados para obstruir vias durante uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na zona oeste.
A violência contra ônibus, segundo o RioÔnibus, tornou-se recorrente na capital fluminense. Somente nos últimos 12 meses, 136 veículos foram alvos de ações criminosas semelhantes, o que gera impacto direto na mobilidade urbana e na vida de motoristas e passageiros. Além do prejuízo financeiro e operacional, os ataques também contribuem para o aumento das tarifas, já que os custos com vandalismo e incêndios são repassados ao usuário.
De acordo com Paulo Valente, porta-voz do RioÔnibus, o prejuízo não se limita aos danos materiais, mas afeta diretamente a economia da cidade, que depende fortemente do transporte rodoviário. “A nossa economia funciona movida a ônibus. Boa parte da população utiliza o transporte público para realizar suas atividades diárias, e essa situação prejudica as empresas, a população e a imagem do estado”, afirma Valente.
A crescente insegurança no setor tem levado muitos motoristas a abandonar a profissão. Dados do Sindicato dos Rodoviários do Rio de Janeiro revelam que, entre 2022 e 2024, entre 200 e 250 profissionais deixaram o emprego devido a situações de violência, incluindo incêndios criminosos e agressões. Só no último ano, cerca de 140 motoristas pediram demissão, muitos sem sequer comunicar o sindicato.
A situação é agravada pelo controle de áreas da cidade por milícias e grupos criminosos, que utilizam o sequestro e o incêndio de ônibus como forma de demonstração de poder. O vice-presidente do Sindicato dos Rodoviários, José Sacramento de Santana, lamenta a falta de segurança para os profissionais e para a população. “Estamos entregues no Rio de Janeiro a um poder paralelo que domina a cidade. Faltam medidas de segurança tanto para os motoristas quanto para a população”, declara.
Além dos sequestros, a prática de vandalizar e incendiar ônibus tem se tornado comum em momentos de confronto entre criminosos e a polícia. Segundo a Secretaria de Estado de Polícia Militar, ações como essas são realizadas para atrapalhar operações em áreas dominadas pelo tráfico de drogas e pela milícia, como as comunidades da Muzema e de Costa Barros. Em algumas situações, ônibus são atravessados nas vias e incendiados para bloquear o trânsito e dificultar o trabalho das forças de segurança.
A RioÔnibus, que representa 29 operadoras de transporte na cidade, tem alertado para os impactos dessa violência no setor e no serviço prestado à população. Mesmo com os esforços das empresas em oferecer suporte psicológico aos motoristas, muitos profissionais continuam a solicitar transferência para linhas menos violentas ou pedem afastamento por motivos de saúde mental.