Do Valor Econômico
Foto: Marcelo Camargo (Agência Brasil)
Um dos maiores responsáveis pela emissão de gases do efeito estufa (GEE), o setor de transportes corre contra o tempo para cumprir as metas de descarbonização em suas operações. As soluções parecem mais avançadas entre produtores de veículos automotivos, com a disponibilidade de combustíveis alternativos, sobretudo o etanol, e o avanço dos carros elétricos. Mas na aviação e no transporte marítimo, a questão parece ir longe. Segundo levantamento da Organização Mundial do Turismo (UNWTO), a atividade turística emite 8% das emissões globais de GEE. Só os transportes respondem por 49% das emissões do setor.
Uma viagem entre São Paulo e Nova York significa 1,5 tonelada de CO2 lançados na atmosfera, de acordo com cálculos da Moss, uma climatech de soluções para o combate de mudanças climáticas que emite certificados de compensação de emissões de GEE. O percurso de ida e volta na ponte aérea Rio-São Paulo representa 300 quilos de CO2 emitidos por viajante. “É mais barato compensar uma viagem entre São Paulo e Rio do que tomar uma água de coco na praia”, afirma Luis Adaime, CEO da Moss. Segundo ele, comprar um crédito de carbono para compensar as emissões nesse trecho não custa mais que R$ 4, metade do valor de um coco, dependendo da praia.
Batizado de “Meu Voo Compensa”, o programa de compensação da Gol foi lançado em 2021 e, até abril, havia registrado a neutralização de 14,1 mil toneladas de CO2, de maneira voluntária, pelos clientes, de acordo com Eduardo Calderon, diretor do centro operacional da companhia. O total de emissões compensadas até agora equivale a 3.526 hectares preservados em um ano, segundo ele. “Assim como o passageiro pode escolher o assento ou se vai despachar a bagagem, a opção de neutralizar a emissão de CO2 fica disponível no site da empresa”.
Um programa voltado a passageiros também foi adotado pela aérea Azul, no início deste ano. A companhia, porém, não informa quanto foi compensado até agora.
No início deste mês, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) assinou um acordo de cooperação com a ATPCO, organização fruto da união de mais de 400 companhias aéreas que reúne dados diversos sobre a indústria, como valor das tarifas praticadas em todo o mundo. Pelo acordo, a ATPCO vai inserir os dados do Iata CO2 Connecta, sobre emissões de dióxido de carbono nas rotas aéreas, em um aplicativo que já informa aos viajantes as comodidades que encontram a bordo.
“Os viajantes querem entender o impacto ambiental de seus voos de maneira consistente, transparente e confiável”, afirmou Willie Walsh, diretor geral da Iata, durante a assinatura do contrato de parceria que, segundo ele, vai permitir que os clientes tomem decisões de viagem usando cálculos de carbono de alta qualidade.
Este tipo de iniciativa tem seus méritos, principalmente pela função de educar o consumidor, mas é uma gota no oceano das emissões de GEE pela aviação, ainda movida a combustível fóssil, o mais poluente. A aposta tanto das fabricantes de avião, quanto das companhias áreas, é o desenvolvimento do chamado combustível verde. Sob a sigla SAF, de sustainable aviation fuel, o biocombustível é alvo de pesquisas que testam desde o uso de biomassa, resíduos agrícolas e florestais, até óleo de cozinha.
Segundo estudo da Bain, empresas e governos do mundo todo terão de investir algo próximo a US$ 1,3 trilhão no desenvolvimento e produção do SAF.
No setor de cruzeiros marítimos, o combustível de transição nessa indústria é o gás liquefeito de petróleo (GLP) neste primeiro momento, e o chamado hidrogênio verde que está em estudo e desenvolvimento, segundo Marco Ferraz, presidente no Brasil da Cruise Lines International Association (CLIA). O setor embarcou 20,4 milhões de turistas em 2022, frente a 4,8 milhões em 2020, auge da crise sanitária global. A expectativa para este ano é que sejam 30,5 milhões de passageiros.