Da Tribuna do Norte
Foto: Magnus Nascimento (Tribuna do Norte)
Desativadas há dois anos, as estações de transferências do Bairro Latino, na zona Sul, e de Igapó, na zona Norte, funcionam hoje como ponto de acúmulo de lixo e banheiro público. De acordo com a Secretaria de Mobilidade Urbana de Natal (STTU), as estruturas depredadas e abandonadas serão removidas “ainda neste ano” e darão lugar a terminais de ônibus urbanos, dentro da Nova Rede de Transporte Público, prevista para ser implementada após a licitação do setor. Apesar do planejamento da pasta, não há prazos para lançamento do edital de licitação dos transportes.
Inauguradas em 2015, as duas estações custaram cerca de R$ 2,5 milhões e foram utilizadas até 2020. Com a chegada da pandemia, a Prefeitura fechou as unidades para evitar a proliferação da covid-19, mas o que era para ser temporário acabou virando definitivo. Sem as estações, os passageiros passaram a utilizar paradas próximas, que nem sempre oferecem condições adequadas para aguardar os ônibus. É o caso da hoteleira Elioneide da Silva, que utilizava a Estação de Transferência do Bairro Latino para ir ao trabalho.
“Agora a gente fica aqui [na frente do Natal Shopping] disputando uma sombra para se proteger do sol. Lá era bom, a gente se sentiu mais seguro, no começo tinha ar-condicionado, mas hoje está assim. Sem condições nenhuma. Só serve para acumular lixo, deixar a cidade mais feia e ninguém faz nada. Venho de Ceará-Mirim, saio de casa de 5h e só volto de 22h. A situação só piora, quando tinha a Estação eu conseguia até passar menos tempo esperando, agora está uma negação”, conta Elioneide.
Segundo Alan Victor, técnico da STTU, a principal dificuldade para manter as estações funcionando foi em relação à segurança pública. “Estamos trabalhando para viabilizar a licitação e o transporte atual. Infelizmente a gente tem um problema sério de segurança pública, a gente vê que para recuperar ela agora para daqui a pouco ela já não ser mais utilizada não é viável. A estação foi depredada várias vezes, a gente fez a recuperação e depredaram de novo”, destaca o servidor da Mobilidade Urbana de Natal.
Ainda de acordo com a STTU, com a nova rede, a ideia é construir seis terminais de bairros no modelo “mini-shopping”, com praças, paradas de ônibus e pontos de comércio. O projeto prevê a instalação dos terminais de integração nas proximidades do Natal Shopping, Parque das Dunas, Parque dos Coqueiros, Soledade, Rodoviária e Cidade Satélite, além da implantação de uma Estação de Integração perto do Nordestão Santa Catarina, região tida como o “Centro da zona Norte” pela pasta.
Alan Victor diz que não há risco dos novos locais se tornarem obsoletos como as antigas estações. “A ideia é que não seja uma estrutura isolada. A comunidade do entorno, as pessoas que vão estar circulando vão passar por ali, as estruturas terão uma atividade comercial para que elas possam atrair outros tipos de usuários. A ideia é que não fique só restrito aos passageiros do transporte público. Vai ser um terminal estilo ‘praça’, com comércio, serviços públicos, unidade de saúde, vai ser um local de integração”, detalha.
A Estação de Transferência de Igapó, localizada na Av. João Medeiros Filho (sentido Redinha) está ainda mais deteriorada do que a do Bairro Latino. No local, sequer há “paredes” de acrílico que isolavam a unidade. Bancos, teto, instalações elétricas e de ar-condicionado foram completamente depredadas. Quem utilizava a estrutura e agora precisa esperar o ônibus sob sol e chuva reclama da situação. Aos 81 anos, a aposentada Maria de Lourdes Batista diz que as péssimas condições do sistema de transporte público da capital são crônicos.
“A situação é horrível e olhe que agora ainda tem essa parada aqui porque antes nem tinha. Precisei pegar o ônibus para fazer uma consulta. É um desrespeito muito grande, não só com os idosos, com todos. Enquanto a gente fica aqui esperando mais de hora por um ônibus, poderíamos estar numa estação dessa, com segurança, sentada, mas nem isso. Não fazem nada, vamos ver se nesse tempo de política fazem pelo menos uma reforma”, critica a moradora do Pajuçara.
A vendedora ambulante Maria Dulcicleide conta que foi diretamente afetada com a desativação da Estação de Igapó. Sem o fluxo intenso de passageiros, ela viu as vendas despencarem. “Eu tinha uma barraca aqui nesse canto que hoje está tomado pelo lixo. Antes eu vendia um açaí, uma pipoca, um bolo, o movimento era bom, mas hoje tem dia que eu não vendo nada. Aqui tava pior, mas de vez em quando eu dou uma limpada, passo a vassoura aqui na frente. Uma reforma resolvia isso aqui”, diz a comerciante.
Alan Victor explica que a reforma das estações é inviável. “A gente não conta com esses equipamentos, por isso a gente não vê a necessidade de fazer uma reforma num equipamento que com a nova rede de transporte não será utilizado. Na nova rede de transporte a gente vai trabalhar com os terminais de integração, então essas estações não serão utilizadas”, ressalta ele.
5 anos: Pensadas para oferecer maior facilidade e segurança para os usuários de transporte público, as estações operaram com um fluxo rotativo de aproximadamente 80 mil pessoas por mês, entre embarque e desembarque. O projeto contemplava ainda a implantação de outras quatro estações, mas que não saíram do papel: nos dois lados da Avenida Capitão-Mor Gouveia, próximo ao Terminal Rodoviário; na Cidade Alta; e na marginal da BR-101, do lado da Árvore de Mirassol.
Juntas, as estações tinham capacidade para 530 pessoas. As unidades ofereciam ambiente climatizado, internet Wi-Fi, assentos e segurança 24 horas. O custo operacional era de R$ 42 mil por mês. As duas estações de transferência recebiam 22 linhas de ônibus. À época, a Secretaria de Mobilidade Urbana de Natal esperava beneficiar diretamente 30% dos usuários da rede de transporte público.