Do Agora RN
Foto: Andreivny Ferreira (UNIBUS RN)
A pandemia da Covid-19 intensificou fortemente a crise do setor de transportes. De acordo com o relatório “Transporte Público por Ônibus – 2 anos de Impactos da Pandemia de Covid-19”, elaborado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), os sistemas organizados de transporte público por ônibus urbano, presentes em 2.901 municípios brasileiros, tiveram uma perda acumulada de R$ 25,7 bilhões, entre março de 2020 e fevereiro de 2022, devido à pandemia.
Os dados mostram ainda que o impacto financeiro médio foi de R$ 1,12 bilhão por mês no período da pandemia, causado pela acelerada queda do número de passageiros e pela obrigatoriedade de manutenção, por parte das empresas, de uma oferta do serviço superior à demanda para garantir o distanciamento social no transporte público – em muitos casos, sem qualquer contrapartida dos poderes públicos locais.
Diante dos dados, o presidente da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Nordeste – Fetronor, Eudo Laranjeiras, considera que o setor está completamente esgotado: “O transporte já enfrentava uma crise, com o incentivo ao transporte individual em detrimento ao coletivo, afetando investimentos para o setor. Muitas empresas faliram ou foram vendidas para outros grupos ao longo dos últimos anos. A pandemia agravou ainda mais a situação, deixando o sistema sem passageiros, mas obrigando que as empresas continuassem em operação”, explica.
“A realidade é que o setor de transportes está completamente esgotado. Da forma como está, com o passageiro arcando todo o custo, essa crise tende a se intensificar. Precisamos do apoio do poder público de forma urgente”, considera Eudo.
Ainda de acordo com os dados do relatório, o estrangulamento financeiro do setor gerou também uma redução de 92.581 postos de trabalho, queda de 22,7% no nível de emprego direto existente no setor em dezembro de 2019, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), divulgados pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).
Nos dois anos de pandemia, também foram registrados 49 casos de interrupção dos serviços, por parte de 44 empresas e 5 consórcios que suspenderam suas atividades ou deixaram de operar, além de 16 casos de pedido de recuperação judicial, envolvendo 13 empresas e 3 consórcios. Houve ainda 379 paralisações temporárias, por greves ou protestos, motivadas, na maioria dos casos, por atrasos no pagamento de salários e benefícios, decorrentes das dificuldades de caixa das empresas, que afetaram 107 sistemas de transporte público de todo o país.
“Os dados nos mostram que o setor está colapsando. O resultado, infelizmente, é uma má prestação de serviço que agrava ainda mais o transporte público, com os usuários fugindo e buscando outros meios de locomoção. A discussão de forma séria e transparente para garantir esse serviço que é essencial, fundamental e muito importante para o nosso desenvolvimento, precisa ser feito”, afirma Eudo.