MG: Empresas de Belo Horizonte venderam 417 ônibus para evitar colapso; Mais 39 serão vendidos para empresas do Nordeste

Do Jornal O Tempo (MG)
Foto: Kleisson dos Santos (Ônibus Brasil)

As empresas de ônibus de Belo Horizonte venderam 417 veículos entre abril e dezembro de 2020. O motivo: evitar o colapso do transporte público durante a pandemia – 14,5% da frota à época. E a situação vai piorar, já que outros 39 veículos estão sendo negociados e devem ser enviados para o Nordeste – em um momento em que o número de passageiros está em ascensão e cresceu 6,4% entre janeiro e fevereiro deste ano, segundo a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans). Em média, cada veículo foi vendido por R$ 90 mil – totalizando cerca de R$ 41 milhões.

De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH), que repassou os dados à reportagem, a redução da frota ocorreu devido às medidas de isolamento, que “afastaram” os usuários dos ônibus. “Antes da Covid-19, tínhamos 1,2 milhão de passageiros diariamente, e o número caiu para 900 mil. Tivemos que reduzir a frota quando se viu que a pandemia não seria resolvida rapidamente”, justificou Raul Leite, presidente do SetraBH.

A chamada “baixa dos veículos” no sistema aconteceu com o aval da BHTrans. “Isso não foi feito de maneira unilateral. Ela (a empresa) permitiu a adequação. Tudo isso aconteceu para evitar o colapso naquele momento. Os empresários precisavam de recursos financeiros para suportar o pagamento dos salários”. O balanço mostra que o consórcio Pampulha, que atende a população da região de mesmo nome, além de Venda Nova, foi o que mais “dispensou” ônibus: 151.

Leite explica que a venda também ocorreu levando em consideração à vida útil de alguns veículos que estaria perto do fim. O contrato vigente entre a prefeitura e as empresas determina que os veículos podem circular até completar 10 anos de fabricação. Com a pandemia, esse período foi aumentado para 12 anos.

Análise: Para o engenheiro civil e mestre em transporte, Silvestre de Andrade, a prática adotada pelas empresas não é ilegal, mas o especialista faz uma ressalva. “A venda, diante da falta de passageiros, até faz sentido, pois é gestão empresarial. Só que a demanda de passageiros está aumentando e tem que analisar se faz sentido manter as práticas adotadas no momento do pico da pandemia. Aparentemente não (faz sentido)”.

Quem mora em Venda Nova e na Pampulha tem percebido, na prática, a redução no transporte. “A venda dos ônibus pode ter sido boa para as empresas, mas para nós, que somos usuários, só piorou. O coletivo está rodando muito mais cheio e sem falar que demora demais”, comenta o fotógrafo Elton do Carmo, 30, morador do bairro Lagoa.

O estoquista Guilherme Soares, 22, não poupa críticas. “Só piora e nada de melhora. É uma pouca vergonha o que fizeram. Tinham era de aumentar os ônibus, principalmente nos horários de pico”, desabafa. A BHTrans confirmou que a redução da frota foi autorizada, já que “o número de usuários caiu”. Fiscalizações são feitas, segundo a autarquia.

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