Do Jornal do Commercio (Via Coluna Mobilidade)
Foto: Rafael Fernandes (Gentilmente cedida ao UNIBUS RN)
O aumento das passagens de ônibus da Região Metropolitana do Recife – de 9,69% e que ainda está sendo digerido pela população – poderia ter sido ainda maior caso os cobradores permanecessem nos ônibus. Seria de quase 20%, o que elevaria o anel A – o mais utilizado pelos passageiros (80%) – de R$ 3,75 para R$ 4,50 e, não, para R$ 4,10, como foi aprovado com folga pelo Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM), no dia 11/2/2022.
O argumento é do governo de Pernambuco, gestor do sistema de transporte por ônibus no Grande Recife, quando questionado sobre qual o real impacto da retirada dos cobradores de praticamente toda a frota do serviço. O questionamento foi feito em debate na Rádio Jornal.
Na verdade, como explicou Tomé Franca, secretário de Desenvolvimento Urbano de Pernambuco (Seduh) e presidente do CSTM, seria necessário dar um reajuste de 19,69%, sendo 9,69% do aumento sugerido e mais 10% referente ao custo dos cobradores. Na prática, o anel A subiria para R$ 4,488375, o que deveria ser arredondado pela Arpe para R$ 4,50.
“A planilha de custo apresentada pelo governo do Estado na reunião do Conselho não seria de um reajuste de quase 20%. Seria de 25,32%. Ou seja, o Estado teria que dar um aumento maior ou absorver um percentual maior dos custos”, explicou Tomé Franca.
O governo do Estado absorveu um pouco mais de 10% desse custo com o aumento de 9,69% das tarifas. Sem contar o custo alegado com a manutenção dos cobradores.
Retirada dos cobradores: O processo começou em 2015, foi interrompido pessoalmente pelo governador Paulo Câmara pela falta de planejamento e pouca oferta de canais para a compra digital dos créditos eletrônicos, para ser completamente liberado em 2020, no auge da primeira onda da pandemia de covid-19.
Apenas 18 das 380 linhas em operação, ou seja, o equivalente a 5% da oferta, operam com o cobrador. Todo o resto, segundo dados oficiais do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), está sem o profissional e tem o motorista atuando na dupla função.
Sinistros com ônibus e desgaste: A categoria rodoviária é unânime em afirmar que a retirada dos cobradores do sistema, sem a oferta fácil e sem custo para a compra dos créditos eletrônicos, tem colocado os motoristas em apuros na operação diária.
Denunciam, inclusive, que o estresse e a sobrecarga de tensão que é conduzir um veículo grande ao mesmo tempo em que recebe dinheiro e passa troco – algo ainda comum em muitas linhas e horários de pico – tem provocado um aumento de sinistros de trânsito envolvendo ônibus (não é mais acidente de trânsito que se diz).
Uma forte colisão entre dois coletivos ocorrida na manhã da segunda-feira (21/2), no Ibura, bairro da periferia da Zona Sul do Recife, e que deixou 17 pessoas feridas, foi citada como exemplo dessa pressão sobre os profissionais.
“Mais uma consequência da dupla função: colisão grave entre ônibus da Metropolitana e Vera Cruz no bairro Ibura. Não temos dúvidas: o estresse, a sobrecarga de trabalho, o cansaço físico e mental ocasionado pela dupla função geram vários acidentes. Até quando? Até um acidente fatal? Chega! acabar com a dupla função com o retorno imediato dos cobradores e cobradoras”, foi o posicionamento do Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco nas redes sociais.