Do O Estado de SP
Foto: Luiz Guadagnoli/Arquivo/Ilustração
O uso de bicicletas tem crescido em muitas capitais do Brasil, mas um levantamento feito pela plataforma Strava Metro mostra que na cidade de São Paulo houve diminuição de 10% dos deslocamentos não motorizados em 2021, em comparação com 2019, ano pré-pandemia. O recorte só engloba usuários do aplicativo (cerca de 12 milhões no Brasil), mas dá pistas sobre o porquê de a circulação de bicicletas ter diminuído na capital paulista no período e subido em outros locais.
O estudo mostra, por exemplo, que houve crescimento em Curitiba (31%), Rio (25%), Porto Alegre (24%), Brasília (21%), Belo Horizonte (20%) e Florianópolis (16%).
“Quando comparamos com 2020, em que muitas cidades tiveram grandes restrições de movimentação de pessoas, o maior aumento nos deslocamentos de bike aconteceu em Porto Alegre, com aumento de 56% entre janeiro e setembro. Até São Paulo viu o número crescer, na ordem de 27%”, diz a empresa.
HIPÓTESES.
“Não podemos cravar, mas temos algumas hipóteses para São Paulo ter reduzido os deslocamentos de bike neste ano em relação a 2019”, diz Rosana Fortes, gerente-geral do Strava no Brasil. “Na maior cidade do País, as pessoas adotaram o home office por mais tempo e ficaram em casa, fazendo apenas deslocamentos muito curtos. Outra possibilidade é por conta das restrições impostas na cidade, que foram mais rígidas e duraram mais tempo”, explica ela.
Paula Arantes, de 31 anos, é exemplo disso. Ela ia e voltava do trabalho todo dia de bicicleta, até que veio a pandemia. “Em março de 2020 entramos em home office e ainda não voltamos para o escritório. Daí eu nunca mais usei a bike com esse fim”, explica. Ela fazia o caminho do bairro de Pinheiros, onde mora, até o Itaim-bibi.
Letícia Lindenberg Lemos, doutora em Planejamento Urbano pela FAU e pós-doutoranda do Instituto de Matemática e Estatística da USP, lembra que a pandemia pode ter afetado de forma diferente a circulação de pessoas nas metrópoles. A capital , por exemplo, é a recordista de mortes pela doença em todo o País e tem quase 1 milhão de contaminados em números oficiais. “Outro ponto importante é sobre a faixa de renda das pessoas que usam esse aplicativo. Com certeza são aquelas que podem fazer home office. Mas teria de ver por que isso foi diferente nas outras cidades, pois o público seria o mesmo”, aponta Letícia.
Dados do contador automático de bicicletas da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-SP) mostram que realmente houve uma queda de circulação na ciclovia da Faria Lima, local de muitos escritórios comerciais. Se em outubro de 2019 houve quase 200 mil passagens de bicicletas pelo local nos dois sentidos, a partir de abril de 2020, com as restrições, o número despencou para 90 mil e se manteve oscilando entre 56 mil e 115 mil nos meses seguintes, sem voltar a patamares de 2019.
Já no corredor da Avenida Vergueiro houve aumento de circulação na pandemia, com pico em abril deste ano, em um dos momentos mais dramáticos da covid-19 no Brasil. A Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo), por sua vez, acredita que os números do Strava não refletem muito bem a realidade das ruas paulistanas. “Quem pedala na cidade pôde observar um aumento no número de ciclistas nas ruas, principalmente cicloentregadores. Só na capital, o número de bicicletas vendidas teve uma alta de 66% no ano passado em relação a 2019”, disse a entidade.
O Strava é um app que permite que as pessoas registrem seus deslocamentos, seja andando, correndo ou de bicicleta. A plataforma é gratuita e vem sendo usada mesmo para o auxílio de políticas públicas em cidades da Europa.