Por Automotive Business
Foto: Jonas Alves/Ilustração
As demandas do e-commerce seguem promovendo transformações no sistema de distribuição de cargas pelo Brasil. Depois de movimentar as vendas de caminhões e de mudar o perfil da frota da distribuição urbana, chegou a vez gerar oportunidades para as empresas de ônibus rodoviários, que passaram a transportar cada vez mais cargas vendidas pela internet.
De março do ano passado até agora, tornou-se comum ônibus levando mais encomenda do que passageiros nos principais trechos das operadoras. Acontece que essas empresas observaram que tinham em mãos estrutura e espaço suficiente para servir de ponte entre quem vende e quem compra itens por meio on-line.
Com os ônibus cada vez mais vazios em função das restrições de locomoção impostas pela Covid-19, não foi muito difícil chegar à conclusão de que o momento era favorável para se obter uma forma de renda alternativa ao negócio tradicional, um dos mais afetados pela pandemia.
“O avanço da vacinação e a proximidade do final do ano, que é um período de férias, deve movimentar as vendas de ônibus. Outro fator é o e-commerce, considerando que as empresas de transporte estão utilizando sua frota também para escoar encomendas”, disse Fabiano Todeschini, presidente da divisão de ônibus da Volvo, revelando um nicho em ascensão no mercado.
De complementar para receita principal: O serviço não é novo, é verdade. Há empresas que mantém a oferta há pelo menos dez anos, como é o caso da Buslog, uma subsidiária do Grupo JCA, que mantém as empresas rodoviárias 1001, Cometa e Catarinense. Acontece que eles viram saltarem os números de um serviço que antes tinha pequena participação no faturamento das companhias.
“Sempre foi uma receita adjacente, mas isso agora mudou. Em alguns trechos durante a pandemia se transportou mais carga do que pessoas. Viramos uma unidade de negócio que hoje entrega resultados relevantes para a companhia”, disse Marcelo Barreto, diretor da Buslog.
A companhia faturou R$ 50 milhões no ano passado apenas com os fretes de cargas realizados na região Sul e Sudeste, onde operam de forma regular os ônibus da sua frota. A demanda do e-commerce animou a empresa a trabalhar com planejamento que envolve triplicar esta receita nos próximos três anos.
O ônibus em dado momento representou o modal certo na hora certa. O executivo explicou que, com a taxa de ocupação em nível historicamente baixo, as operadoras passaram a reduzir a malha em trechos menos rentáveis. Em determinado momento, o volume de pedidos por transporte de carga começou a aumentar porque os clientes descobriram que havia um meio de transporte ocioso, com baixo custo na comparação com outros e, principalmente, com disponibilidade e frequência para cidades importantes.
“Há dois fenômenos a serem considerados a respeito da demanda. Houve na pandemia o derretimento da malha aérea. Outro ponto: as vendas on-line cresceram tanto que ocupou demais as frotas de veículos comerciais. O e-commerce envolve carga fracionada, e os caminhões saem para a distribuição com a carga consolidada, e isso aumenta o tempo de entrega. A operação dos ônibus rodoviários, por sua vez, é mais simples do ponto de vista logístico. Com ou sem carga, o ônibus vai partir em horários determinados, e isso atraiu os clientes”, contou Barreto, da Buslog.
Fabricantes comemoram:: Pelos cálculos da companhia, há na frota uma possibilidade de transportar 50 mil toneladas por mês nos bagageiros dos seus ônibus. A demanda é tamanha, disse Barreto, que a empresa pretende retomar o transporte em trechos que foram encerrados durante a pandemia. A carteira de clientes atendida, explicou o executivo, é formada em 50% por grandes companhias com as quais a Buslog mantém contrato de distribuição, e os outros 50% pequenas e médias empresas.
Há também acordos costurados com empresas parceiras que realizam o transporte na última milha, ou seja, do balcão da companhia até o endereço de quem comprou pela internet. Existe também a opção de se retirar os pacotes nos pontos de paradas dos ônibus.
O executivo afirmou que ainda é incerto saber se, de fato, este serviço em ascensão possa redundar em mais pedidos de ônibus junto às montadoras. Por outro lado, o que se pode projetar é que as fabricantes passem a cogitar a atividade na construção de novos chassis ou carroçarias, desenvolvendo veículos que possuam configuração dedicada em parte também para o transporte de carga fracionada, com compartimentos mais amplos, dentre outras possibilidades.
“Chegamos mais rápido do que o avião em algumas cidades, mesmo com o ônibus em velocidade menor”, finalizou o executivo.