Comércio aberto e transporte lotado provocam temor de novos surtos de coronavírus

Do O Globo
Foto: Roberto Moreyra (Agência O Globo)

A decisão anunciada pelas prefeituras de Rio e São Paulo de aumentar o horário de funcionamento do comércio às vésperas do Dia das Mães é criticada por cientistas, temerosos de que aglomerações, em um momento de ampla circulação do coronavírus, provoque um novo avanço no índice de casos e mortes por Covid-19.

A abertura de serviços não essenciais, mesmo restrita, não é recomendada pelos especialistas, e, para eles, o poder público deve assumir a dívida dos comerciantes, criando mecanismos como incentivos fiscais e redução de tarifas, além de auxílio financeiro.

O deslocamento em massa da população para centros comerciais também gera preocupação, com transportes públicos lotados e como grandes fontes de contágio do vírus.

— A oferta de transporte público no Rio é muito baixa, então forma-se facilmente uma aglomeração — explica Romulo Orrico, professor de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ. — Além disso, há muitos deslocamentos longos, então temos um grande tempo de exposição a pessoas que podem estar infectadas. Precisamos incentivar a população a ficar em casa e aumentar a quantidade de ônibus.

Professor de Economia e coordenador do Núcleo de Preços ao Consumidor da FGV-RJ, André Braz avalia que a flexibilização para o funcionamento do comércio só deve ser iniciada após o “avanço considerável da vacinação”:

— Se não for assim, será um tiro no pé para a própria atividade econômica, que necessita da segurança proporcionada pelo imunizante para evitar esse movimento de abre e fecha — ressalta. — O poder público precisa garantir meios para que comércio e serviços, setores mais afetados pela pandemia, tenham fôlego para voltar a gerar renda e emprego, como a concessão de incentivos fiscais, o financiamento de dívidas e a redução temporária de tarifas.

Redução insustentável

Fernando Bozza, pesquisador da Fiocruz, indica que o Rio testemunhou uma queda no número de hospitalizações e óbitos, mas não há indício de que essa redução será “prolongada e sustentável”, ainda mais após a descoberta, divulgada nesta semana, de uma nova mutação do coronavírus no estado.

— Não há justificativas para encaminharmos para uma flexibilização rápida das medidas de restrição, especialmente com a chegada de uma variante mais transmissível — alerta. — É prudente manter o distanciamento social e esperar uma consistente queda dos casos e ampliação da vacinação. Estamos longe de um cenário epidemiológico confortável.

Doutor em Epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Paulo Petry avalia que a aglomeração do comércio levará o país a repetir a curva ascendente de casos e mortes observada após outros feriados, como Natal, réveillon e carnaval.

— Mas até pequenos encontros familiares demandam cuidado, porque devemos saber como cada um se cuida: se costuma ficar em casa, se usa transporte público.

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