Da Folha de São Paulo
Foto: Thiago Martins/Ilustração
A Covid-19 desarrumou de vez o setor de ônibus urbanos. O segmento opera hoje com 50% a 55% dos passageiros em comparação ao período anterior à pandemia, de acordo com cálculos apresentados pela Mercedes-Benz.
A diminuição do número de usuários é recomendada neste momento para evitar aglomerações, mas o problema não é apenas esse. A crise vem de antes, com quedas acentudas entre 2014 e 2016 e um ensaio de recuperação nos três anos seguintes.
Com a Covid-19, a venda de chassis para ônibus acima de oito toneladas despencou 33,3% na comparação entre 2019 e 2020. Foram comercializadas 13.830 unidades ao longo do ano passado.
No primeiro bimestre de 2021, a perda acumulada é de 22,1%. Ao dividir o setor em categorias, é possível observar um grande desequilíbrio.
Por exemplo: as vendas de chassis para ônibus em janeiro e fevereiro foram puxadas pelo setor escolar, que cresceu 176% em relação ao mesmo período de 2020. Em geral, são compras feitas por meio do programa federal Caminho da Escola para renovar a frota de municípios.
A comercialização para fretamento também cresceu: alta de 26% no primeiro bimestre, segundo os dados da Mercedes. Esse segmento foi aquecido com o incremento das frotas privadas para transporte de funcionários. Como é preciso manter o distanciamento a bordo, a lotação máxima tem sido reduzida pela metade, sendo necessário aumentar o número de veículos em circulação.
Já os dados negativos estão concentrados nos segmentos de ônibus urbanos e rodoviários. As vendas de chassis para essas categorias no primeiro bimestre caíram 64% e 67%, respectivamente.
Os caminhões, no entanto, seguem no sentido oposto, com vendas impulsionadas pelo agronegócio. Esse setor que tem garantido a rentabilidade das fabricantes de veículos pesados.
Apesar do momento difícil, as montadoras mantêm a esperança na retomada —que é aguardada para 2022 e se baseia na vacinação em massa.
A Mercedes até está apostando em um novo produto, o Super Padron O 500 R 1830. É um chassi de dois eixos para ônibus urbanos de até 14 metros de comprimento, que foi pensando para atuar em corredores segregados e pode ter até cinco portas.
A montadora diz que será possível transportar até cem passageiros nos ônibus encarroçados sobre o novo chassi de motor dianteiro e dois eixos. A empresa afirma também que essa configuração gera menor custo de aquisição e de manutenção.
Ou seja, é aposta para uma retomada com menos dinheiro circulando e mais gente vacinada e disposta a retomar os deslocamentos em transporte público.