Covid-19: Pesquisadores da UFRN defendem frota integral de ônibus nas ruas para reduzir contágio do novo coronavírus em Natal

Do Portal Saiba Mais
Foto: José Augusto/Ilustração

Relatório elaborado por um grupo de pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica da UFRN aponta que entre os dias 12 e 28 de fevereiro, 39 pessoas morreram antes de conseguir acesso a um leito de UTI no Rio Grande do Norte. O documento foi lançado domingo, 28. O trabalho organizado por sete pesquisadores analisa a evolução da pandemia de Covid-19 no estado para fazer recomendações técnicas com base na ciência. Somente em Natal, 10 pacientes vieram a óbito no mesmo período enquanto aguardavam vaga numa Unidade de Terapia Intensiva.

Uma das principais recomendações do estudo elaborado pelos pesquisadores do LAIS/UFRN defende que as empresas de transporte público disponibilizem a frota total de ônibus à população. Do contrário, indica o documento, faz-se necessário aderir ao fechamento de todas as atividades não classificadas como essenciais por período de 21 dias. Assim, acreditam os cientistas, os usuários ficarão menos expostos ao coronavírus:

– A superlotação do transporte público coloca em risco a saúde pública do RN, em especial a que é observada na Região Metropolitana de Natal/RN e destacada diariamente pela imprensa. Aspecto esse que põe em risco a saúde pública do RN, sobretudo na cidade de Natal/RN, onde esse setor se destaca diariamente, na imprensa, por resistir em colocar 100% da frota em atividade. A redução da frota em 30% não se justifica, uma vez que todo o setor econômico e produtivo foi liberado para retornar às suas atividades. Ao contrário, as pessoas podem estar sendo expostas ao vírus ao andar em ônibus lotados”, diz o relatório, antes de concluir:

– Dessa forma, é fundamental que a totalidade da frota de ônibus seja disponibilizada para a população, a fim de reduzir o risco de contágio sem desassistir a população que precisa de um meio de mobilidade sanitariamente mais seguro. Não obstante, cabe destacar a necessidade de um maior controle sobre a quantidade de passageiros que acessam o veículo e a exigência do uso de máscara cobrindo corretamente a boca e o nariz”, destacam.

A Agência Saiba Mais procurou a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU) para mais informações sobre a situação da frota de transporte público em Natal, mas ainda não obteve retorno.

Atualmente, os ônibus circulam com 30% a menos de ônibus nas ruas.

Em entrevista a InterTV Cabugi na manhã de hoje (3), o consultor técnico das empresas de transporte público Nilson Queiroga disse que aumentar a frota nas ruas não resolveria o problema. E defendeu que, por decreto, o poder público estimule que a população utilize o transporte público em outros horários, afim de evitar os pico entre 7h e 8h e entre 17h e 18h.

Aglomerações

A análise começa a partir do período de campanhas eleitorais no Brasil, em setembro de 2020, quando, segundo a pesquisa, houve aumento do número de casos da doença aliado a frequentes aglomerações ocorridas também em outubro e novembro. Esses eventos teriam contribuído, segundo os cientistas, para uma “normalização” do elevado número de óbitos diários e “relaxamento” das medidas sanitárias.

Daí em diante, outros fatores, aliados com o crescimento da Taxa de Transmissibilidade (índice que mede quantas pessoas podem pegar o vírus de um único contaminado) contribuíram para o atual cenário de total agravamento da pandemia. Dentre eles, o maior uso de espaços públicos, principalmente de praias e parques, principalmente a partir de dezembro.

Atualmente, segundo o documento, o Estado apresenta uma taxa de transmissibilidade de 1,30, quando o ideal é abaixo de 1. A última vez que havíamos atingido esse pico foi no auge da pandemia, em 25 de maio de 2020.

Dessa forma, uma semana antes do Carnaval, já havia aumento gradual dos pedidos por internações em leitos covid-19. Situação que só se agravou na semana seguinte ao feriado prolongado. Em 28 de fevereiro, haviam 485 pacientes internados por covid-19 no RN. Destes, 251 fazem tratamento de UTIs. “Ou seja, mais de 50% das ocupações são de pacientes considerados graves”, analisa o relatório.

Por isso, uma das recomendações do relatório é para que governos criem medidas preventivas para evitar aglomerações nas praias e espaços públicos nos próximos feriados.

Todavia, a pesquisa faz um retorno a abril de 2020 para tratar sobre um aspecto que, segundo o levantamento, vem sendo negligenciado desde o início da pandemia no Brasil: a superlotação no transporte público urbano, principalmente na Região Metropolitana.

“Embora esse segmento tenha sido autorizado a reduzir a frota no início da epidemia, o retorno das atividades econômicas não foi acompanhado pelo pleno funcionamento desse importante meio de transporte, expondo os usuários do sistema a aglomerações diárias e favorecendo a disseminação do Sars-CoV-2”, pontua a pesquisa.

Municípios do interior e fronteiras
O relatório também trata sobre a situação dos municípios do interior, indicando que 50,29% das cidades estão em em zona de risco, com taxa de retransmissão (Rt) acima de 1,03 e abaixo de 2 ou de perigo, (Rt acima de 2). Outros 74 municípios estão na “zona segura” (taxa Rt menor que 1).

O levantamento considera as fronteiras, indicando que 26 dos 37 municípios que fazem fronteira com a Paraíba apresentam estão na zona de risco de transmissão e também há índices elevados de transmissão em alguns municípios que são cortados pelas BR 304 e 406, como Pau dos Ferros e Seridó. Nestes locais, é indicada a manutenção de quatro cuidados redobrados para reduzir a taxa de transmissão da doença: não promover aglomerações, incentivar o uso da máscara e reforçar sobre a importância da higienização das mãos, além de aumentar a fiscalização nas rodovias.

Não há tratamento preventivo contra o coronavirus
O levantamento é claro quanto ao incentivo do uso de medicamentos que poderiam ter efeito preventivo contra o coronavirus: “nenhum fármaco deve ser utilizado como política pública para enfrentamento a uma crise sanitária como a que se vivencia no RN antes que sejam aprovados pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)”.

O relatório enfatiza que a divulgação de medicamentos de forma indiscriminada, principalmente por figuras públicas, pode colocar em risco medidas sanitárias, já que as pessoas podem relaxar com os cuidados por acreditarem dispor de imunidade. O resultado desse comportamento é uma crise de saúde série, como a vivida em janeiro em Manaus, no Amazonas.

RN apresenta maior taxa de solicitação de leitos críticos desde o início da pandemia
O Rio Grande do Norte apresentou a maior solicitação de leitos críticos desde o início da pandemia. No dia 1º de março foram 45 pacientes regulados, com média móvel de 35. Até então, a maior média tinha sido registrada em seis de julho do ano passado, quando foram solicitados 37 leitos, com média móvel de 27.

Também no dia 1º de março foram registradas mais mortes do que altas nos leitos críticos dos hospitais do RN. Foram 18 óbitos e sete altas de pacientes. Já na segunda-feira, 1º, foram registradas cinco altas e três mortes.

Até esta terça-feira, 2, o estado tinha 168.171 casos confirmados, outros 88.802 suspeitos e 3.636 mortes por covid-19, segundo a Secretaria Estadual da Saúde Pública (Sesap), que ainda investiga mais 736 óbitos. Sete pessoas morreram nas últimas 24 horas, nas cidades de Tibau do Sul (01), Natal (02), Parnamirim (02), Caicó (01) e Goianinha (01).

Pacientes que recebem alta passam, em média, 6 dias e 15 horas internados leito crítico. Já aqueles que vão à óbito, ficam cerca de 8 dias e 18 horas internados.

O Rio Grande do Norte está com 94,1% de seus leitos críticos (semi-intensivos e UTI’s) ocupados. A situação mais grave agora é no interior do estado. A região Oeste está com 97,7% de ocupação, a Metropolitana com 92,8% e o Seridó com 91,4%. Ao todo, 16 hospitais estão sem vagas para novos pacientes em leitos críticos, além desses, outras cinco unidades estão com ocupação de 90% ou mais.

Fila de espera

A região Metropolitana de Natal é a que apresenta o maior número de pacientes na fila de espera por um leito. São 55 aguardando transferência para leitos críticos, mas apenas 15 vagas disponíveis.

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