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ESPECIAL UNIBUS: A trajetória e o desafio mais difícil em 85 anos de história da Empresa Alves

Do PORTAL UNIBUS
Foto: Thiago Martins

O “Especial UNIBUS” está de volta aqui no PORTAL UNIBUS! E, nesta edição, convidamos você a acompanhar uma das histórias mais emblemáticas do transporte potiguar — uma narrativa que mistura tradição e identidade regional – e que passa, atualmente, um dos momentos mais desafiadores de sua trajetória. Continue a leitura e mergulhe na história da Empresa Alves, uma companhia que marcou gerações no Rio Grande do Norte.

Fundada em 10 de março de 1939, na cidade de São Tomé, a Empresa Alves construiu uma das histórias mais sólidas, tradicionais e conhecidas do transporte intermunicipal do Rio Grande do Norte. O que começou com um caminhão adaptado, conduzido por seu fundador, José Alves da Silva, rapidamente se transformou em um serviço regular entre Natal e municípios do agreste e da região Potengi, com a primeira viagem no trajeto Natal–São Tomé–Natal.

Ao longo das décadas, a companhia expandiu suas operações e consolidou uma identidade marcada pela regularidade, pela organização operacional e pelo zelo por sua frota — frequentemente reconhecida como uma das mais bem conservadas entre as empresas potiguares. Mesmo com estrutura enxuta, manteve presença constante em rotas que se tornaram símbolo da ligação entre a capital e o interior.

Nas últimas gerações, a Alves operou linhas que atendiam as cidades de São Tomé, São Paulo do Potengi, São Pedro, Ruy Barbosa, Bom Jesus, Serra Caiada, Tangará, Lagoa de Velhos, Sítio Novo e Barcelona, além da comunidade de Marias, em Macaíba. Anteriormente, também atendeu a cidade de Santa Maria. Em todas elas, era reconhecida pela pontualidade e pela forte presença comunitária — muitas vezes sendo a principal referência de mobilidade diária para estudantes, trabalhadores e moradores da região.

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Foto: Andreivny Ferreira (PORTAL UNIBUS)

A parceria histórica com a Marcopolo
Um dos capítulos mais marcantes da trajetória da empresa é a relação de mais de 40 anos com a montadora Marcopolo. Boa parte da imagem da Alves no transporte potiguar se construiu em torno dessa parceria, que moldou a identidade visual e operacional da empresa desde os anos 1980.

Modelos das linhas Viaggio G4, GV e G6 compuseram a espinha dorsal da frota durante décadas. Entre eles, alguns veículos se tornaram ícones:

– o prefixo 60, G4 850 com motor traseiro;
– a série de veículos GV 850 adquiridos entre 1994 e 1998;
– o micro-ônibus Senior GV prefixo 115, único da frota;
– o Viaggio G6 prefixo 120;
– os Ideale 770, incluindo o carro 130, único com chassi Volkswagen.

A história inclui ainda raridades, como o Marcopolo III de prefixo 70, que tinha motor traseiro, e o Nielson Diplomata 310, que tinha o prefixo 50 e circulou por 16 anos na região Potengi – adquirido em 1989, foi uma peça singular, lembrada por muitos passageiros e busólogos.

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Foto: Joari Alves Filho (Gentilmente cedida)

O impacto da saída da Alves das linhas intermunicipais
A declaração de caducidade das linhas operadas pela Empresa Alves, publicada pelo DER-RN em 6 de novembro, pode encerrar um ciclo de 85 anos e impõe à região uma transição que ultrapassa questões administrativas. Em municípios como São Tomé, Barcelona, São Pedro e São Paulo do Potengi, a presença da empresa era mais do que um serviço: era parte da rotina, da economia local e do elo que conectava diversas comunidades à capital e a outros centros regionais.

A mudança repentina pode afetar usuários que, por décadas, se acostumaram a horários fixos, veículos conhecidos, marca com credibilidade e a equipes familiares. A Alves, diferentemente de grandes grupos empresariais, sempre manteve uma operação de proximidade — muitos passageiros conheciam motoristas pelo nome, identificavam os ônibus pelo prefixo e reconheciam a identidade visual imediatamente nas estradas.

Além disso, para parte da população, a Alves representava segurança e previsibilidade. Nas áreas rurais e nas comunidades mais afastadas, a empresa era, por vezes, o único transporte regular, garantindo acesso a serviços essenciais como saúde, educação e trabalho.

A provável saída da empresa abre espaço para uma reorganização urgente do sistema intermunicipal, agora com linhas redistribuídas entre novas operadoras. Embora essas empresas assumam a responsabilidade de manter o atendimento, o impacto emocional e histórico permanece: a Alves deixa um vazio simbólico para inúmeras famílias que cresceram vendo seus ônibus percorrendo diariamente as estradas da região Potengi.

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Foto: Andreivny Ferreira

Entre memória e transição
A Empresa Alves deixa marcas que ultrapassam o caráter empresarial: representa um capítulo importante da história do transporte potiguar. De um caminhão adaptado em 1939 ao Ideale Euro V de 2012, passando pelos Viaggio que se tornaram símbolo de toda uma região, a empresa compôs, por décadas, a paisagem das estradas do agreste e da Potengi.

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Foto: Michael Pontes

Enquanto atravessa o processo administrativo mais sensível de sua existência, sua trajetória continua ecoando entre os usuários e na história do sistema intermunicipal. Nos veículos que compõem a frota, nos itinerários que ajudou a consolidar e no cotidiano das comunidades que transportou por mais de oito décadas, permanece a memória de uma empresa que marcou gerações e se tornou parte inseparável do transporte no Rio Grande do Norte.

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