Do PORTAL UNIBUS
Foto: Rafael Fernandes (Gentilmente cedida ao PORTAL UNIBUS)
Os ataques a ônibus em operação não se restringem a São Paulo. Pernambuco e outras regiões do Brasil também enfrentam um cenário preocupante, com centenas de casos de vandalismo, furtos, roubos e agressões registrados no transporte coletivo. Entre janeiro e agosto deste ano, Pernambuco já contabilizou 853 ocorrências, em sua maioria na Região Metropolitana do Recife, segundo reportagem publicada no Jornal do Commercio.
No cenário nacional, a capital paulista é destaque negativo. Na Região Metropolitana de São Paulo, a SPTrans registrou 506 ônibus depredados até meados de julho. Já levantamento do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo apontou 855 casos de depredação na capital até o início do mesmo mês.
Operadores pedem reação da sociedade e autoridades
Diante dos números, o Consórcio Conorte, responsável por 20% das linhas do Grande Recife, fez um alerta para que o problema não seja normalizado. “A depredação de ônibus não é apenas um transtorno, mas um crime que paralisa o transporte público e prejudica os usuários de forma geral. O ônibus tem que ficar parado no dia seguinte para ser consertado e nunca sai à rua da mesma forma de antes”, afirma Diego Benevides, diretor de operações do Conorte.
Embora Recife não registre ataques sequenciais como os ocorridos em São Paulo, a quantidade de casos preocupa. Para Benevides, o vandalismo em Pernambuco tem traços culturais e, por isso, é ainda mais desafiador. “É mais difícil de lidar porque não há sequer uma linha de investigação policial. Precisamos que autoridades policiais e públicas nos ajudem com campanhas para reduzir a frequência desses registros”, alerta.
Invasões agravam cenário no sistema BRT
Além do vandalismo, o sistema da Região Metropolitana do Recife enfrenta invasões frequentes que resultam em evasão de receita e desmoralização do transporte público. O problema é evidente nos corredores BRT Leste-Oeste e Norte-Sul, onde a falta de manutenção e segurança favorece a entrada irregular de passageiros pelas portas traseiras ou estações abertas.
Na tentativa de inibir essas invasões, chegaram a ser testadas catracas elevadas em ônibus, mas após um acidente envolvendo uma passageira, os equipamentos foram retirados. O Ministério Público de Pernambuco e o Consórcio de Transporte Metropolitano determinaram adequações às normas da ABNT, mas a medida não avançou.
Experiências no Rio de Janeiro mostram alternativas
Enquanto isso, no Rio de Janeiro, legislações específicas e programas de fiscalização têm ajudado a reduzir o problema. No VLT Carioca, quem não paga a tarifa está sujeito a multa de R$ 170, que sobe para R$ 255 em caso de reincidência. A aplicação é feita com apoio da Guarda Municipal, sem a necessidade de catracas.
Já no sistema BRT, a Prefeitura criou o Programa BRT Seguro, que desde 2021 atua contra assaltos, vandalismo e evasão de receita. Em três anos, foram registradas 3.400 prisões e redução de 90% nos gastos com reparos. Além disso, 17.800 multas foram aplicadas a passageiros flagrados em tentativas de calote.
Atualmente, 140 estações e 12 terminais do BRT carioca contam com monitoramento 24 horas por 2.100 câmeras, permitindo resposta imediata de agentes em casos de irregularidades.
Desafio para o Recife
No Recife, especialistas e operadores avaliam que experiências semelhantes poderiam ser adaptadas, mas reconhecem que o caminho passa necessariamente por legislação própria e maior engajamento das autoridades públicas. Enquanto isso não acontece, o transporte segue exposto a práticas que fragilizam o sistema e comprometem a mobilidade da população.