Ônibus elétricos continuarão presos no congestionamento se trânsito não mudar, alerta presidente da NTU

Do PORTAL UNIBUS
Foto: Divulgação (TEVX Higer Bus)

A adoção de ônibus elétricos no Brasil exige não apenas a substituição dos veículos, mas também mudanças estruturais na dinâmica do trânsito urbano, alerta Francisco Christovam, presidente da Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU). Segundo ele, de nada adianta investir milhões em uma frota limpa se os coletivos continuarem presos nos congestionamentos. “O usuário quer entrar em um ônibus com velocidade, com itinerário, e chegar ao destino. Não interessa o que tem no tanque”, pontua, em entrevista à Revista Exame.

A discrepância de custos entre modelos é um dos principais desafios da eletrificação da frota. Um ônibus a diesel do tipo padron, com 13,25 metros, custa cerca de R\$ 1 milhão. Já a versão elétrica pode chegar a R\$ 3,5 milhões, valor que não inclui a infraestrutura de carregamento, cuja ausência em muitas garagens tem travado o processo de transição.

O movimento rumo à descarbonização no setor de transporte começou a ganhar força com a adesão do Brasil a pactos internacionais de redução de emissões. Em São Paulo, um marco foi a Lei de Mudança Climática, aprovada em 2018, que estabeleceu metas ambiciosas: redução significativa de CO₂, material particulado e óxidos de nitrogênio até 2028, com eliminação quase total dessas emissões até 2038. Para cumprir os objetivos, foram adotadas metas anuais mais realistas nos contratos firmados pela SPTrans.

Entre as rotas tecnológicas avaliadas para atingir essa meta — ônibus elétricos a bateria, a hidrogênio, movidos a biometano e a biocombustível —, a primeira tem sido a que mais avançou. Ainda assim, a implantação enfrenta gargalos. “Não temos política nacional, nem plano, nem programa, e pior: não temos projetos”, critica Christovam, citando como exemplo os atrasos em São Paulo. Embora os ônibus estejam sendo entregues, falta energia para carregá-los — reflexo da ausência de planejamento conjunto com a concessionária Enel, cuja relação com a prefeitura tem se deteriorado.

O presidente da NTU também alerta que não há como viabilizar uma frota elétrica eficiente sem repensar o modelo viário das cidades. “Vamos colocar para rodar um ônibus que custa três vezes mais do que o equivalente a diesel sem nenhum tratamento viário?”, questiona. Para ele, a transição energética é viável tecnicamente, mas depende da criação de infraestrutura adequada, com prioridade no trânsito e planejamento integrado entre governos, operadores e concessionárias.​

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