Estudo avalia eficiência do transporte público em capitais brasileiras

Do PORTAL UNIBUS
Foto: Fernando Frazão (Agência Brasil)

O Instituto Cidades Responsivas realizou uma análise detalhada sobre a eficiência do transporte público em conectar trabalhadores a oportunidades de emprego em até 45 minutos. A pesquisa, desenvolvida por meio do Indicador de Mobilidade Urbana, abrangeu oito capitais brasileiras: São Paulo, Florianópolis, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza e Rio de Janeiro. O estudo revelou que Belo Horizonte lidera como a capital mais eficiente no transporte público, enquanto o Rio de Janeiro ocupa a última posição no ranking.

“Cidades com maiores valores do indicador possuem sistemas de mobilidade que conectam mais residências a oportunidades de trabalho”, explica o relatório.

“O Indicador de Mobilidade Urbana reflete a relação entre a quantidade de empregos formais e o número de domicílios que podem ser alcançados em até 45 minutos. Quanto maior o índice, maior a eficiência do sistema de mobilidade urbana”, explica Guilherme Dalcin, cientista de dados e mestre em planejamento urbano do Instituto Cidades Responsivas, em entrevista ao jornal O Globo.

O estudo utilizou dados do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE) do IBGE e do Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho para identificar as oportunidades de emprego formal. Para simular os deslocamentos, foram empregadas as plataformas Mapbox (para automóveis) e Google (para transporte público), considerando trajetos realizados em dias úteis entre 6h30 e 8h.

O trabalho também levou em consideração a abordagem do urbanista Alain Bertaud no livro “Ordem sem Design”, que sugere que deslocamentos em grandes cidades devem ser realizados em até uma hora. O Instituto, no entanto, reduziu esse limite para 45 minutos, julgando as previsões do autor como excessivamente otimistas para a realidade brasileira.

Como funciona o Indicador de Mobilidade Urbana
O indicador mede a eficiência com que as moradias são conectadas às vagas de trabalho. Ele considera deslocamentos de até 45 minutos, seja de transporte público ou carro. A escala vai de 0 a 1, sendo “1” o valor ideal, indicando que todas as residências têm acesso equivalente às oportunidades de emprego.

No Rio de Janeiro, o índice foi de 0,13 para o transporte público, o mais baixo entre as cidades avaliadas. Já Belo Horizonte alcançou 0,36, quase três vezes maior, destacando-se como a capital mais eficiente nesse quesito.

Dificuldades geográficas no Rio de Janeiro
Luciana Fonseca, diretora do Instituto e doutora em planejamento urbano, destacou os desafios enfrentados pelo Rio de Janeiro, como sua extensa área territorial e barreiras naturais, especialmente os morros que separam as zonas Norte e Sul.

“Essas características geográficas tornam os deslocamentos mais longos, exigindo uma infraestrutura de transporte público mais robusta. O Rio de Janeiro, no entanto, carece dessa infraestrutura, o que impacta diretamente no índice de mobilidade”, afirmou Fonseca.

Belo Horizonte: uma configuração favorável
Por outro lado, Belo Horizonte se beneficia de uma configuração urbana mais compacta. Com uma das menores áreas entre as capitais avaliadas, a cidade possui um formato radial, que aproxima as áreas periféricas do centro, onde estão concentradas as oportunidades de emprego.

“Essa disposição facilita a cobertura eficiente tanto da malha viária quanto do transporte público, garantindo um melhor alcance para mais regiões”, acrescentou Dalcin.

Outras capitais e desafios em São Paulo
São Paulo, que também apresenta uma configuração radial, ocupa a terceira posição no ranking com um índice de 0,23. Apesar de ter um sistema de transporte público considerado robusto, sua vasta área territorial, cinco vezes maior que a de Belo Horizonte, dificulta a conexão eficiente entre os núcleos periféricos e o centro da cidade.

“A extensão territorial de São Paulo força o governo a ampliar o alcance do transporte público para áreas mais distantes, mas a dispersão populacional e a existência de muitos núcleos periféricos tornam o desafio ainda maior”, pontua Dalcin.

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