Pesquisa aponta que carro é quatro vezes mais eficiente que transporte público para acessar empregos em São Paulo

Do PORTAL UNIBUS
Foto: Rovena Rosa (Agência Brasil)

Apesar do trânsito intenso, da poluição e dos altos custos com combustível, seguro e manutenção, o automóvel ainda é a escolha preferida de muitos paulistanos para se deslocar pela cidade. Uma pesquisa do Instituto Cidades Responsivas ajuda a explicar esse cenário: quem utiliza carro consegue acessar quatro vezes mais postos de trabalho em até 45 minutos do que usuários de transporte público, como ônibus e metrô.

De acordo com o Indicador de Mobilidade Urbana, que avalia a acessibilidade a empregos em grandes cidades, o automóvel obteve nota 1,03, enquanto o transporte público marcou apenas 0,23. O índice considera a relação entre a quantidade de empregos disponíveis e o número de residências em cada região.

Nas áreas onde o ônibus é a única opção de transporte público, a eficiência cai ainda mais. Nesses casos, o índice do transporte público é de 0,14, um dos piores entre as capitais brasileiras, superando apenas o Rio de Janeiro, com 0,13. Já o metrô apresenta um índice de 0,41, melhor do que o ônibus, mas ainda distante do automóvel, que alcança duas vezes mais empregos no mesmo intervalo de tempo.

Planejamento urbano impulsiona vantagem dos carros
A principal explicação para essa disparidade é o histórico de planejamento urbano da capital paulista. A construção das marginais Tietê e Pinheiros, que conectam diferentes áreas da cidade, beneficia os deslocamentos realizados por automóveis. Esses eixos rodoviários permitem que moradores de regiões distantes alcancem, em menos tempo, grandes polos de emprego, como as avenidas Brigadeiro Faria Lima e Engenheiro Luiz Carlos Berrini, que possuem baixa oferta de transporte público.

Luciana Fonseca, diretora do Instituto Cidades Responsivas, ressalta que a concentração de empregos em áreas específicas contrasta com a predominância de moradias nas periferias. “Com o carro, você vai direto para os grandes centros de emprego, enquanto o transporte público, muitas vezes, exige baldeações e trajetos mais longos”, explica.

Crescimento da frota de carros e queda nos passageiros de ônibus
Entre 2010 e 2023, a frota de automóveis em São Paulo aumentou de 5 milhões para 6,2 milhões, segundo o Detran. No mesmo período, a frota de ônibus diminuiu de 15.003 para 13.300 veículos, acompanhando a queda no número de passageiros, que passou de 10 milhões para 7,3 milhões de embarques diários.

Esses números refletem a percepção da população sobre a baixa eficiência do transporte público, especialmente em regiões afastadas do centro expandido.

Desafios e soluções para um sistema mais eficiente
Embora o uso do carro individual possa parecer vantajoso para os cidadãos, a escolha tem impactos negativos na eficiência da cidade como um todo. Para mudar essa lógica, especialistas apontam a necessidade de aproximar moradias e postos de trabalho, além de melhorar a infraestrutura de transporte público.

Luciana Fonseca destaca iniciativas positivas, como o Plano Diretor de São Paulo, que estimula o adensamento urbano em áreas próximas ao transporte público. Ela também defende a criação de empregos em regiões periféricas e revisões periódicas no planejamento urbano.

Por sua vez, a gestão municipal informa que realizou melhorias no sistema de transporte coletivo, incluindo a implantação de 54 quilômetros de faixas exclusivas para ônibus e a inauguração do transporte aquático na represa Billings. Já o governo estadual afirma que as obras em quatro linhas de metrô e trem devem adicionar 24,7 quilômetros de trilhos e 20 novas estações nos próximos anos.

Essas ações, segundo especialistas, são essenciais para reduzir a dependência do automóvel e tornar São Paulo uma cidade mais integrada e eficiente.

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