Do PORTAL UNIBUS
Foto: Divulgação (Caio Induscar)
Nos últimos anos, várias cidades brasileiras têm adotado a política de tarifa zero no transporte público, com o objetivo de ampliar o acesso e melhorar a mobilidade urbana. De acordo com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), atualmente, 135 municípios no país implementaram essa medida. A gratuidade, além de garantir o acesso universal a um serviço essencial, é vista como um instrumento estratégico de inclusão social e organização do espaço urbano. No entanto, especialistas alertam que a isenção de tarifas, por si só, não resolve os problemas estruturais do transporte coletivo.
Jeovalter Correia, integrante do Mova-se Fórum de Mobilidade, afirma que, embora a tarifa zero seja um passo importante para democratizar o acesso ao transporte, é fundamental investir em melhorias na qualidade do serviço. “Eliminar a tarifa é um avanço, mas precisamos olhar além disso. Sem um investimento sério na renovação da frota, pontualidade e conforto para os usuários, a insatisfação permanecerá, e a política pode não alcançar seu potencial”, destaca.
Correia também ressalta que a gratuidade não deve ser tratada como uma ação isolada, mas sim integrada à Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU) e aos planos locais de mobilidade (PlanMob). “A tarifa zero precisa estar vinculada a uma estratégia de sustentabilidade que melhore os sistemas de transporte público coletivo e os modais ativos, além de desestimular o uso do transporte individual motorizado nas cidades”, explica.
Um dos desafios mencionados por Correia é o aumento da demanda por transporte público após a implementação da tarifa zero, o que pode sobrecarregar sistemas já deficientes. Ele observa que, em diversas experiências de gratuidade no país, houve um crescimento significativo no número de passageiros, sem que a frota de ônibus fosse expandida de maneira proporcional. Isso resultou em uma piora na qualidade do serviço, com maior lotação e atrasos frequentes.
“Muitos ainda enxergam o ônibus como uma opção de segunda categoria. Melhorar o serviço é essencial para mudar essa percepção e incentivar mais pessoas a deixarem seus carros em casa, o que também contribui para a sustentabilidade e a redução de congestionamentos nas cidades”, conclui o especialista.
A expansão da tarifa zero no Brasil destaca a importância de um planejamento mais abrangente e a necessidade de investimentos constantes para garantir um transporte público eficiente e de qualidade, capaz de atender às necessidades da população.