Da Agência AutoData
Foto: Arquivo (Marcopolo / Via Secco Comunicação)
“A demanda pelo ônibus elétrico ainda está em fase de formação”, assinalou James Bellini, ex-CEO e atual presidente do conselho da Marcopolo. O executivo pontuou que como se trata de negócio completamente distinto do que o mercado estava acostumado até o momento, com o veículo a diesel, o modelo de contrato deverá ser reformulado.
Por se tratar de ônibus que custa de três vezes a três vezes e meia mais caro do que o concorrente a combustão é preciso, primeiro, fechar a equação econômica e, em seguida, solucionar a questão do financiamento, o que envolve também a mudança de quem detém a posse do veículo. Sai o operador e entra um terceiro interessado no negócio, por exemplo, uma empresa de energia.
“No Chile, onde este processo já está mais avançado, as empresas de energia, como a Enel ou a Ende, são as que financiam o produto. O operador não compra: ele aluga. Torna-se responsável apenas pela operação e não mais pelo ativo. É uma espécie de rental.”
Aqui no Brasil está se discutindo este caminho, contou Bellini: “Alguns são a favor, outros não. Ainda estamos em fase muito crítica desta discussão, da qual estamos participando. E a demanda deve começar a surgir a partir do momento que se defina qual será o modelo ideal para o Brasil. Pelo menos quando se fala em grandes volumes”.
Conforme contextualizou o executivo o ônibus a diesel é adquirido pelo operador, possui vida útil em torno de dez anos mas, por volta de cinco ou seis anos, geralmente, é feita a renovação da frota. No caso do similar movido a bateria o investimento inicial é maior, e geralmente aí é que está o primeiro percalço para a mudança.
O desafio inicial é fazer a conta da viabilidade financeira fechar porque, embora o custo operacional seja muito mais baixo e a durabilidade de um ônibus elétrico seja de doze a quinze anos, a curva vai se encontrar muito mais lá na frente.
Como o produto é muito mais caro requer um funding mais consistente, pontuou: “Mas quem está disposto a colocar esse funding? Eventualmente o BNDES. Estamos tendo discussões constantes com o órgão com relação a isto, para incluir um tipo de funding em programa de governo. E também temos conversado com as próprias empresas de energia, a Enel, a EDP, que estão discutindo o modelo de contrato”.
Caso o BNDES forneça o funding alguém terá de garanti-lo. Então é possível que ele capte financiamentos internacionais para ofertar no Brasil a uma taxa atrativa, o que, para Bellini, seria interessante algo de 4% a 5% ao ano, o que poderia fazer com que houvesse interesse maior.
Horizonte de emplacamento de ônibus elétricos
Solucionadas as questões conjunturais, e dadas as respostas negociadas pelos atores envolvidos nesse processo, Bellini projeta que em 2024 haverá crescimento bem significativo no mercado. E que, de 2025 em diante, um boom, com renovações de frota significativas.
“Não existe um livro de regras que defina como serão as coisas. Tivemos de nos reinventar e repensar os processos. A forma de fazer negócios. Talvez mude até o nosso próprio cliente. Não seja mais o operador, mas a empresa de energia, ou o financiador, ou a empresa de rental. Alguém que assumirá todo o processo.”
Dentro do que se previa da data do lançamento do ônibus elétrico da Marcopolo, o Attivi, em agosto, para cá, Bellini avaliou que seu desenrolar está até acelerado. Isto porque, embora não tenha efetivado até o momento nenhuma venda do veículo, que custa em torno de R$ 2,5 milhões, a produção de protótipos está a pleno vapor, tendo terminado trinta veículos.
A Marcopolo possui alguns ônibus em testes em empresas, em rotas distintas, a fim de que o operador conheça o produto e sinta segurança antes de investir nele. Durante quatro meses o Attivi foi testado pela Suzantur no ABC Paulista. E, recentemente, foi finalizada bateria de testes na Transwolff, que é uma das empresas da SPTrans.
Ao mesmo tempo diversos protótipos estão sendo testados no campo de provas que a companhia mantém em conjunto com a Randoncorp na cidade vizinha de Farroupilha, RS.
“Nosso plano foi fazer dois lotes iniciais, um de trinta e outro de cem. A previsão é terminar de produzir todos até o fim do ano. Nenhum foi comercializado ainda. Estamos em fase de testes. Mas já estamos adiantando a produção porque, a partir do momento que começar a demanda já teremos ônibus para a pronta entrega.”
Bellini afirmou que também considera exportar seu elétrico, uma vez que no Chile uma unidade está sendo testada e a empresa está em negociação com operadoras do Uruguai, da Colômbia e do México.