Do Portal AutoPapo
Foto: Matheus Felipe
Duas discussões estão ocorrendo simultaneamente no Brasil envolvendo a mobilidade e seu futuro: o retorno do carro popular e o estímulo no uso de biocombustíveis para a “descarbonização” do Brasil. E elas se entrelaçam em um ponto: o futuro do carro popular passaria pelo uso do etanol.
Os dois pontos estão difíceis de equacionar: o primeiro envolve o interesse das poderosas montadoras multinacionais e os milhares de empregos que geram diretamente e indiretamente. Já o segundo, tem o lobby do agronegócio – mas neste caso, o governo já tomou um lado e vai enfiar “goela abaixo” a maior adição de biodiesel no diesel e do etanol na gasolina. E você vai pagar o pato.
Mas uma terceira opção deveria estar na mesa: o estímulo ao transporte coletivo. É consenso que ele é, no Brasil, caro e ruim. Vou usar como exemplo a capital em que eu moro, Belo Horizonte. A “briga” entre as empresas de ônibus e a prefeitura e câmara dos vereadores é o assunto do momento. A passagem a R$ 6 é a mais cara do Brasil e a contrapartida que se esperava, pelo menos um serviço de qualidade, não existe. As denúncias de ônibus com problemas mecânicos são constantes e variadas.
O que falar do metrô de Belo Horizonte? Ridículo, a única definição possível. Atende uma parcela ínfima da população da capital mineira. E, para concluir, o “tripé da desgraça” do transporte coletivo, não existe um sistema de trem metropolitano ligando BH a outras cidades da região metropolitana, como Contagem e Betim.
Esse problema certamente se repete em outras capitais e grandes cidades do Brasil e empurra o cidadão para o uso do carro ou moto: com o mesmo valor de duas passagens, você vai ao seu destino e volta com muito mais conforto, sem depender do horário dos coletivos.
Quem vai querer ficar em um ônibus lotado por uma hora ou mais? Só se realmente não tiver opção. Resultado: ruas cheias e maior emissão de poluentes. Circula na internet um foto comparando quantos carros são necessários para transportar 60 ou 70 pessoas (os números são divergentes), enquanto todos esses são capazes de ir em apenas um ônibus.
Um outro ponto positivo é que já existem ônibus elétricos, ou seja, um ganho duplo na escolha deste transporte coletivo.
Transporte rodoviário
Até agora eu só falei dos problemas em transporte urbano, mas também temos um problema crônico envolvendo o transporte rodoviário, tanto de carga quanto passageiros. Muito já foi dito sobre os motivos de o Brasil ficar preso ao transporte por caminhões. E já sofremos várias vezes as consequências disso. Exemplo recente: greve dos caminhoneiros.
Quem já teve a oportunidade de ir a um país desenvolvido viu como é fácil se deslocar sem usar carro, ônibus ou moto. Muitas famílias nesses locais nem têm carro, ou o usam apenas no fim de semana.
Claro que o que foi proposto aqui necessita de anos de investimento, mas é necessário que essas opções sejam, ao menos, levadas em conta ao falarmos do futuro da mobilidade no Brasil.