Da Agência Saiba Mais
Foto: Andreivny Ferreira (UNIBUS RN)
Apesar de ocupar apenas o 5º lugar no ranking das maiores economias entre as capitais do Nordeste, Natal deve ter a segunda tarifa de transporte público coletivo mais cara da região. Pelo menos é o que sugere o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano (Seturn), que propõe um reajuste de R$ 0,85 na passagem, passando a custar R$ 4,85 a partir de 1º de janeiro de 2023.
Em carta enviada à Secretaria Municipal de Transporte Urbano (STTU), o sindicato expõe uma “grave preocupação com a defasagem monetária da tarifa” e justifica que o último reajuste foi realizado em maio de 2019 – em plena pandemia -, quando a tarifa subiu de R$ 3,65 para R$ 4 com pagamento em dinheiro, e R$ 3,90 para pagamento com cartão.
De acordo com o Seturn, no documento protocolado na STTU no último dia 16 de novembro, o reajuste de 21% na tarifa dos ônibus de Natal seria resultado dos aumentos das taxas de câmbio, de juros e da inflação, especialmente entre 2020 e 2022. As empresas alegam, ainda, aumentos significativos nos preços de insumos como combustível, veículos, pneus, peças e no salário mínimo.
Mas para Nilson Queiroga, consultor técnico do Seturn, o aumento poderia ser ainda maior.
“O que o Seturn está propondo é a correção monetária do cálculo tarifário de 2019, com base no IPCA [índice oficial que mede a inflação no país]. Se a tarifa fosse reajustada pelo cálculo da planilha tarifária, o valor seria acima de R$ 6. E esse é, por sinal, um dos motivos pelos quais a STTU não lança o edital de licitação do transporte público de Natal. Porque ficaria impraticável”, disse Queiroga.
Ao lado de Teresina, a capital potiguar tem hoje a segunda menor tarifa do Nordeste. A maior é a de Salvador, onde a passagem de ônibus custa R$ 4,90. Com a proposta de reajuste apresentada pelo Seturn, Natal saltaria para o segundo lugar no ranking das passagens mais caras da região e ainda ficaria R$ 0,35 acima da terceira colocada, Aracaju.
Conforme dados do Seturn, atualmente são realizadas 1650 viagens por dia, com 375 ônibus e 50 linhas operando em Natal.
“Auxílio emergencial”
O consultor técnico do Seturn também criticou a Prefeitura de Natal por não ter feito o repasse de R$ 10 milhões que o Município teria recebido do Governo Federal, num espécie de “auxílio emergencial” para o setor, em virtude do aumento do diesel. Sobre esse tema, o Conselho Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana deve ser reunir, extraordinariamente, na próxima segunda-feira (5).
“Esse é um valor referente às passagens dos idosos no ano de 2022. Mas, considerando janeiro a outubro, emitimos 4,6 milhões de passagens gratuitas para essa parcela da população. Isso acarretou um custo de cerca de R$ 17 milhões para as empresas. Ou seja, não há motivos para a Prefeitura estar retendo esse dinheiro enquanto as empresas precisam pagar o 13º dos trabalhadores”, disse Nilson Queiroga.
Demora e veículos precários: faltam ônibus e sobram reclamações por parte da população
Enquanto Seturn e STTU protagonizam uma queda de braço para justificar quem está lucrando com o transporte público de Natal, nas paradas, o que mais se ouve é reclamação. Estudantes, trabalhadores e idosos precisam esperar horas por um ônibus que, quando chega, geralmente está lotado e em condições precárias.
Essa foi, inclusive, uma das pautas de uma mobilização realizada, em abril deste ano, por centrais sindicais, movimentos sociais e estudantes, em frente à Prefeitura de Natal. O grupo cobrava melhorias no transporte público da capital potiguar, com o retorno de 100% da frota de ônibus – reduzida durante a pandemia e, desde então, não regularizada – e o não aumento da tarifa.
Na ocasião, Letícia Correia, coordenadora geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRN, que representa 40 mil estudantes, destacou que o transporte oferecido aos universitários está pior.
“Infelizmente, muitas linhas não estão passando dentro da UFRN, como é o caso da 10-29 e 63. Os circulares também são muito limitados. Convocamos todo mundo, secundaristas, sindicatos, não só pelo passe livre estudantil, mas também pelo retorno da frota, que as linhas voltem a passar pela UFRN e a gente possa ter um transporte público gratuito de qualidade”, disse a estudante.
Procurada pela Saiba Mais, sobre o reajuste das passagens, a STTU se limitou a dizer, por meio de assessoria, que “não existe nenhuma discussão sobre esse tema na pasta”. Questionada sobre o documento recebido do Seturn, a assessoria não mais respondeu o contato, até a publicação desta matéria.