Do Agora RN
Foto: Andreivny Ferreira (UNIBUS RN)
O transporte público de Natal é alvo de reclamações diárias de passageiros que enfrentam dificuldades para utilizar ônibus na capital potiguar. Antes mesmo da pandemia da Covid-19, o sistema já era falho e funcionava com veículos insuficientes para a demanda. Com a crise sanitária, o problema se agravou diversas linhas foram retiradas de circulação ou passaram a circular com menor frequência – o que causou a revolta dos usuários.
Mesmo com a reabertura do comércio, volta às aulas e demais atividades presenciais, a frota de ônibus na capital potiguar segue reduzida e há uma problemática acerca da retirada de linhas de circulação, algo que aconteceu sem aviso prévio à população. Ao todo, 34 linhas foram devolvidas ou suspensas ao longo dos últimos dois anos.
O Agora RN foi às ruas para entender como a crise do sistema de transporte público tem afetado a rotina daqueles que voltaram a viver o cotidiano de trabalho. Confira os depoimentos:
“Parece que as empresas de ônibus são compradas”: “A gente passa o dia inteiro na parada esperando o ônibus e não tem transporte. Eles prometem que vão colocar 100% das linhas, a gente vê na televisão, mas não acontece. Colocam uma liminar dizendo que vão pagar multa se os ônibus não voltarem a rodar, mas nunca voltam. É cada dia pior. É só você ir para as paradas que vai perceber e quem paga a conta disso tudo são os usuários. Até parece que as empresas de ônibus são compradas. Se tivesse mais ônibus circulando nas ruas, a situação iria melhorar, porque tiraram muitas linhas. Eu moro na Avenida das Fronteiras, você passa 2 horas ou 3 horas esperando. Tiraram as linhas 61, 62, e 76, sei que tiraram várias linhas. Agora, você depende da linha 27 e 64 e perde tempo demais aguardando”, disse Edgar Galdino, de 63 anos, morador do bairro Nossa Senhora da Apresentação.
“Muito tempo nas paradas levando sol quente ou chuva”: “Vai fazer praticamente uma hora que estou aqui [parada da Rodoviária de Natal] e o ônibus que pego para ir para casa não passou ainda. Estou dependendo dele e até essa hora não passou ainda, essa situação não está boa para gente, não é? Infelizmente a situação não está boa. Eu acho que deveria ter mais ônibus circulando, para que as pessoas não fiquem muito tempo nas paradas levando sol quente ou chuva. Isso aí fica muito difícil para a gente, porque você tem o que fazer em casa ou ir ao trabalho e não ter como se locomover naquele horário para chegar a tempo”, disse José Rocha, de 61 anos, morador do bairro Guarapes.
“Tem que aumentar a frota e a qualidade dos ônibus”: “O transporte público de Natal não tem uma boa qualidade, estrutura ruim, demora a passar. As paradas, onde a gente costuma esperar, também não são muito boas. Eu acho que para melhorar essa situação, primeiro tem que aumentar a frota e segundo, que é a mais longo prazo, é a qualidade dos ônibus. As paradas precisam melhorar, sem a gente precisar ficar no sol. Agora, eu vou pegar a linha 21, que é para o meu trabalho na Cidade Alta, e normalmente é um dos que passa mais rápido, mas hoje está demorando mais. Ele era para passar de 15 em 15 minutos, mas acabo esperando um pouco mais, cerca de 30 minutos”, disse Márcio Jordão, de 28 anos, morador do bairro Cidade da Esperança.
“Tiraram ônibus e ficou mais difícil porque os horários estão mudando”: “Os ônibus demoram demais. Está todo mundo reclamando por causa disso. Eles tiraram muitos ônibus e ficou mais difícil ainda porque os horários que eles passam estão mudando. Os ônibus estão velhos, tem que ser trocados, não tem conforto, não tem nada. E com essa situação toda quem sofre são os usuários, a população. Eu moro em Felipe Camarão e muitas vezes venho a pé até aqui [parada da Rodoviária de Natal], porque às vezes pego o 63 ou 21 para chegar até aqui, mas como demora muito a passar, hoje resolvi vim caminhando”, disse Márcia, de 50 anos, moradora do bairro Felipe Camarão.
Passageira descreve transtornos durante jornada no transporte: A natalense Maria Clara, de 29 anos, é corretora de imóveis, trabalha na Zona Oeste e mora na Zona Norte, próximo à Avenida Itapetinga – uma das maiores vias da região. Em entrevista ao Agora RN, ela relatou a rotina desgastante que encara para sair de casa e chegar ao escritório onde trabalha.
A jovem conta que tenta chegar na parada da Itapetinga antes das 6h todos os dias da semana, pois se pegar o ônibus depois desse horário, é certeza chegar atrasada ao serviço. A jornada de trabalho dela é iniciada às 7h. “Tenho que pegar o 73 ou o 60 para sair da Zona Norte e descer na Bernardo Vieira [agora, Av. Nevaldo Rocha]”, disse.
No início da manhã, segundo ela, todos os ônibus estão lotados. “Não importa se eu pego às 5h40 ou às 6h. Todos eles já passam lotados e vão enchendo mais ainda ao longo do caminho. Algumas pessoas se arriscam viajando próximo às portas dos veículos. Só falta ir gente na cabeça do motorista, para ser sincera”, relatou.
Quando chega à avenida Nevaldo Rocha, Maria Clara desce do primeiro ônibus para esperar o segundo. “Preciso ir para a parada da avenida Interventor Mário Câmara e esperar o 38 ou o 40”. Nesse momento, outra adversidade é justamente o aguardo pelo transporte. “Se esse segundo ônibus demorar a passar, eu perco a integração e acabo pagando duas passagens só na ida ao trabalho”, frisou ela, ao comentar sobre o sistema do cartão NatalCard, que visa integração gratuita entre dois ônibus no mesmo sentido de viagem, num período entre 10 e 60 minutos.
De acordo com a jovem, não há ônibus que faz a linha direta da Zona Norte para a Zona Oeste. “Que eu saiba, só tem o 08, que passa na Estrada da Redinha, mas não dá para eu pegar. Antigamente, tinha o ônibus da linha 76, que ia da Zona Norte para a Avenida Coronel Estevam, na Zona Oeste, mas nunca mais vi passando”.
Mesmo quando não há engarrafamento na Ponte de Igapó, no período da manhã, Maria Clara leva pouco mais de uma hora para chegar ao escritório. Já na volta para casa, a corretora de imóveis faz o mesmo trajeto: pega dois ônibus, um da Zona Oeste para a Zona Norte e o outro, na Zona Norte para a Av. Itapetinga.
“Tenho que confessar que é uma rotina desgastante e estressante. Quando pego um transporte por aplicativo, levo cerca de 30 minutos entre o meu local de trabalho e a minha residência, no máximo. Porém, levo o dobro do tempo utilizando o transporte público. Como não posso ficar pagando carro, meu salário não dá para isso, dependo e preciso do ônibus. Mas eles são cheios, não passam com frequência ou pontualidade. É uma luta diária”, reclamou ela.