Do Jornal Agora RN
Por Jean Paul Prates*
Foto: Andreivny Ferreira (UNIBUS RN)
No começo de abril, a Justiça determinou a retomada do funcionamento de quatro linhas de ônibus de Natal que havia sido interrompido pelas empresas encarregadas da prestação do serviço.
Desde o início da pandemia, as empresas de transporte coletivo de Natal devolveram à Prefeitura nada menos que um terço das linhas de ônibus que operavam, prejudicando gravemente uma parcela significativa da nossa população.
Nessa epidemia de desistências das empresas de operar linhas de ônibus tem faltado pulso da gestão municipal. O Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Natal (Seturn) trabalha cotidianamente para obter subsídio de tarifas e isenção de impostos para empresas que se encontram em situação irregular, uma vez que operam em caráter precário já que a prefeitura não consegue promover as licitações para o transporte coletivo de nossa capital.
Mas a raiz do problema é mais antiga e mais profunda. Transporte público é importante demais na vida das pessoas para continuar sendo tratado como mera atividade econômica destinada ao lucro privado.
Também não pode ser encarado como ferramenta apenas para transportar pessoas entre suas casas e seus locais de trabalho.
Em Natal, as linhas de ônibus são desenhadas para levar os trabalhadores dos bairros onde vivem para o Centro e áreas nobres onde trabalham. Como se as pessoas fossem apenas parafusos na engrenagem do capitalismo.
O serviço escasseia sensivelmente nos finais de semana e, durante a semana, após o chamado horário comercial. Quem precisa de ônibus para ir à praia, para visitar um parente ou para qualquer passeio não está contemplado nesse desenho.
Essa concepção precisa ser abandonada. Transporte público de qualidade é condição indispensável ao exercício do direito à cidade, ao lazer e ao tempo livre.
Há quem alegue que um transporte de qualidade demandaria tarifas inviáveis para o orçamento de quem realmente precisa do serviço.
Não é verdade. Uma gestão transparente e a aposta em novas tecnologias pode permitir até mesmo a gratuidade no sistema de transportes urbanos da nossa capital, com sensível melhoria no conforto para o usuário.
Para isso, antes de tudo, é preciso saber quanto realmente custa a operação do serviço de ônibus. Em Natal, não se sabe qual a margem de lucro dos empresários de ônibus, nem quanto da tarifa vai para a manutenção da frota, para salários, para a remuneração da prefeitura pela concessão.
A aposta em novas tecnologias também vai contribuir decisivamente para um transporte de qualidade e, no futuro, com tarifa zero. A eletromobilidade não é coisa de ficção científica. Ela já chegou.
Os ônibus elétricos ou movidos por energias limpas e alternativas podem garantir a gratuidade na maior parte dos percursos e para a maior parte dos usuários.
O fundamental é entender que o sistema de transporte público existe para fazer a cidade fluir, para garantir o ir e vir das pessoas. É pensando nelas, e não apenas no lucro, que desataremos esse nó.
* Jean Paul Prates é Senador da República, representando o Rio Grande do Norte. É filiado ao PT (Partido dos Trabalhadores)..
** O texto que você acabou de ler não reflete, necessariamente, a opinião do UNIBUS RN, sendo de total responsabilidade do seu autor.