Do IDEC
Foto: Paulo Jacob (Agência O Globo / Via Valor Econômico)
A qualidade dos serviços do BRT do Rio de Janeiro tem sido constantemente questionada pelas pessoas que os utilizam. Mais do que nunca, chegou a hora da Prefeitura mudar essa realidade, fornecendo um transporte de qualidade para os cariocas, e a eletrificação da frota é uma das soluções disponíveis no mercado.
Lançado há dez anos, o BRT chegou à cidade como uma solução inovadora e eficiente de transporte de alta capacidade, mas hoje o sistema está longe de explorar as novas tecnologias disponíveis e avançar efetivamente com seus compromissos climáticos por meio de ações concretas.
A licitação para compra de novos veículos para compor a frota – que não recebeu propostas e foi republicado na primeira semana de abril – desconsiderou a eletrificação prometida pela Prefeitura, incluindo apenas a aquisição de ônibus a diesel. Veículos movidos a combustíveis fósseis colaboram para aumentar a poluição do ar, a principal causa de óbitos no país recentemente.
Além da questão ambiental, essa tecnologia ultrapassada produz impacto negativo para a saúde das pessoas, principalmente as negras e pobres, que são as que mais utilizam os coletivos. Sem contar que crianças e idosos também fazem parte dos grupos que são fortemente afetados.
Organizações da sociedade civil como o ITDP Brasil, Idec e Casa Fluminense estão cobrando a priorização da frota eletrificada e defendendo que a Prefeitura leve adiante a agenda de carbono zero. Neste momento, a eletrificação é uma ótima oportunidade para requalificar o serviço oferecido pelo BRT, mas também para enfrentar os desafios climáticos e cumprir as metas firmadas em lei, além de melhorar a qualidade de vida das pessoas e inspirar outras cidades brasileiras.
Mas por que ônibus elétricos? Mais do que comprar novos ônibus, eletrificar a frota de ônibus do BRT é uma alternativa para promover um transporte bom, barato, limpo, seguro e de qualidade para toda a população. A eletromobilidade é a única tecnologia capaz de zerar as emissões de gases poluentes (como material particulado, metano e gás carbônico) e consequentemente amenizar o risco de doenças e mortes relacionadas à poluição do ar. Além de ser uma questão ambiental e de saúde pública, a eletrificação promove condições mais dignas para motoristas e funcionários, já que os ônibus elétricos são mais confortáveis, silenciosos e frescos.
Investir nessa tecnologia estimula diretamente o mercado emergente de veículos elétricos. Estudos preveem que pelo menos 15 milhões de empregos serão gerados pela eletromobilidade em toda a América Latina até 2030. O engajamento municipal com a adoção de frotas elétricas é promissor para dinamizar esse mercado no país. Apesar da disponibilidade de fabricantes e fornecedores ainda ser tímida, trata-se de um mercado com muito potencial para prosperar.
A América Latina já tem feito grandes avanços para reduzir a poluição, como Santiago, no Chile, e Bogotá, na Colômbia. No Brasil, São Paulo, Campinas, Volta Redonda, Brasília e São José dos Campos já estão caminhando na direção da eletrificação. A segunda maior cidade do país não pode ficar de fora.
Prefeitura do Rio na contramão do compromisso climático: A Prefeitura do Rio de Janeiro se comprometeu via Decreto Nº 46.081/2019 que a partir de 2025 qualquer contrato ou permissão de transporte público só poderá ser aprovado se utilizar veículos emissão zero, além de ter estipulado como meta substituir 20% da frota de ônibus por veículos sustentáveis até 2030. A atual licitação de compra dos veículos deveria ser uma oportunidade da Prefeitura do Rio acelerar seu compromisso climático, otimizando o uso do orçamento público para que, em 2022, a compra da frota eletrificada do BRT aproxime a cidade da meta de veículos sustentáveis em circulação.
Apesar das inovações adotadas, que prevê o sistema de bilhetagem digital e a separação dos contratos de provisão e operação para o transporte público via BRT, a Prefeitura precisa aproveitar a licitação do sistema como oportunidade para se engajar efetivamente com seus compromissos. Visto que em menos de três anos o uso dessa tecnologia será obrigatório, a cidade precisa estar preparada e capacitada, inclusive para fornecer apoio a outras cidades e destacar-se como referência em transporte limpo, equitativo e de qualidade.