Isenção do diesel no RN ajuda, mas sistema de transportes amarga prejuízos

Por Agora RN
Foto: Acervo (UNIBUS RN)

Durante as festas de fim de ano, entre o Natal e o Ano Novo, a Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Nordeste (Fetronor) fez um agradecimento público à governadora Fátima Bezerra, pela renovação da isenção de 100% do ICMS sobre a aquisição de óleo diesel para o setor metropolitano e 80% para o sistema intermunicipal de transporte de passageiros iniciada em maio de 2021. A renovação, que vale por 12 meses, expirará só em dezembro deste ano.

Mas a verdade é que o alívio para o caixa das empresas, calculado pela Secretaria Estadual de Tributação em torno de R$ 1 milhão por mês, é apenas uma boia em torno da qual se amontoa um setor desesperado. Tanto quanto os milhares de passageiros que necessitam dele para se locomover e que não suportariam o peso de novos aumentos de tarifas.

A pandemia atingiu em cheio o transporte municipal e metropolitano de passageiros e menos o transporte interestadual, beneficiada pelas altas tarifas aéreas, resultando na migração de seus passageiros para o modal mais barato.

Mesmo assim, os empresários do setor que operam no RN no transporte interestadual dizem que recuperação mesmo do setor só em 2023, quando o fluxo de viagens deve se igualar ao de 2019, último ano antes da pandemia. “Esta expectativa nada tem a ver com as eleições ou com a política; é apenas o prazo dado para que a pandemia finalmente se afaste mais da vida das pessoas e finalmente possamos nos aproximar mais do antigo normal”, diz Eudo Laranjeiras, presidente da Fetronor.

Embora os balanços do ano passado ainda estejam sendo calculados pelas empresas, não se espera que 2022 seja um ano melhor do que 2021, exceto um crescimento vegetativo, avalia Laranjeiras.

De 2019 para 2020, os prejuízos ficaram na casa dos 50% e cerca de um um terço dos trabalhadores foram demitidos no início da pandemia. E o custo do diesel foi o grande vilão (embora não único) passando a representar um custo entre 15% a 20% maior no caixa das empresas.

Depende muito do tipo da operação, do trajeto mais ou menos acidentado e até do peso em passageiros transportados pelos carros, mas o fato é que dos 20% dos custos que o diesel representado em 2019 para as empresas, saltou para alguma coisa entre 35% a 40% – sem considerar a manutenção, a folha de pagamento e a gratuidade obrigatória.

Apesar disso, o setor faz questão de dizer que está otimista com a retomada das viagens, o que também estimula a reposição dos postos de trabalho.

E, é claro, a recuperação das viagens interestaduais é o aumento do preço do bilhete aéreo, embora isso beneficie apenas a elite do setor que durante décadas manteve um lobby poderoso em Brasília.

Nacionalmente, com a pandemia, calcula-se por volta de R$ 21 bilhões o rombo nas contas das empresas do sistema de transportes em todos os seus níveis. Eudo Laranjeiras, que é avesso a chutes, calcula para o RN uma perda proporcional em torno de 1% disso, ou seja, a representatividade econômica do estado no País.

Trata-se de um problema que já bate na porta do governo federal em ano eleitoral, uma vez que pressiona prefeitos para um possível colapso no sistema diante da impossibilidade de reajustes tarifários para uma população exaurida pela escalada da inflação.

Embora não seja ano de eleição municipal, o desgaste político disso se refletiria nas eleições majoritárias, reeditando de alguma maneira os movimentos de junho de 2013, quando na prática teve início o processo que levou ao impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Os números melhoraram um pouco após novembro, mas, segundo estimativa do setor, enquanto a demanda está entre 75% e 90% do período pré-pandêmico, a oferta de veículos já atingiu a normalidade em algumas cidades.

Para Eudo Laranjeiras, o advento do trabalho à distância já eliminou 15% da demanda pré-pandemia. Segundo levantamento da associação do setor, dispararam durante a pandemia os pedidos de recuperação judicial de empresas, sendo que só no Rio de Janeiro, de 29 em operação, 11 estão nessa situação.

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