Da Revista Technibus
Foto: Divulgação (Volare / Via Secco Comunicação)
Depois de dois anos seguidos de queda, a produção brasileira alcançará 14.611 ônibus em 2022, o que representará crescimento de aproximadamente 17,36% em comparação aos resultados de 2021, quando foram produzidos 12.450 veículos. A projeção foi apresentada por Ruben Bisi, diretor do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre) e presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus), no seminário anual do sindicato.
O resultado de 2021 foi o pior que o setor alcançou nos últimos 11 anos, tendo significado retração de 23,71% sobre o total de 16.320 ônibus produzidos em 2020 e redução de 43,91% sobre o total de 22.197 unidades produzidas em 2019. Todos esses valores estão muito abaixo da produção alcançada nos três primeiros anos da última década: 35.511 ônibus em 2011, 32.548 em 2012, e 32.691 em 2013. Em linhas gerais, os números ruins refletem as condições impostas pela pandemia.
Ruben Bisi mostrou também dados segmentados da projeção para este ano. Em comparação com 2021, os resultados em 2022 deverão ser positivos em três dos quatro segmentos do setor. Serão produzidos 6.062 ônibus urbanos (foram 5.082 em 2021); 3.625 ônibus rodoviários (contra 2.901 produzidos em 2021) e 3.452 micro-ônibus (em contraposição com os 2.856 fabricados em 2021). Apenas os ônibus do tipo intermunicipal deverão apresentar desempenho inferior: espera-se a produção de 1.472 veículos em 2022 contra 1.611 contabilizados em 2021.
Quanto ao mercado interno, a projeção mostra a expectativa de colocação de 11.937 veículos em 2022, representando incremento de 16,24% sobre os 10.269 veículos produzidos em 2021. O mercado interno absorveu 4.362 ônibus urbanos em 2021 – a expectativa é que esse número alcance 5.234 unidades em 2022. Absorveu também: 1.659 ônibus rodoviários – serão 2.073 em 2022; 1.554 modelos intermunicipais – neste caso, há uma expectativa de retração das vendas para 1.398 unidades; e 2.694 micro-ônibus – serão 3.232 em 2022. Com relação ao mercado externo, a projeção revela a expectativa de colocação de 2.674 veículos em 2022, representando crescimento de 22,60% sobre os 2.181 veículos comercializados em 2021.
Em 2021, foram designados para o mercado externo 720 ônibus urbanos – deverão ser 828 em 2022. Foram também destinados ao exterior no ano passado: 1.242 ônibus rodoviários – a projeção para este ano é de 1.552 unidades; 57 ônibus intermunicipais – serão 74 em 2022; e 162 micro-ônibus – a expectativa é de 220 unidades neste ano.
Fatores positivos: Em uma rápida análise, Rubens Bisi indicou os fatores positivos previstos para 2022. Um deles é a perspectiva de crescimento do PIB. O dirigente destacou que os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) revelam um crescimento estável do nível de emprego formal, explicando que esta informação, além de ser boa notícia por si só, é também importante para o setor de mobilidade, pois significa o aumento da demanda de transporte para deslocamento das pessoas empregadas.
Bisi sublinhou como positivo o forte investimento previsto para o setor infraestrutura. Ele disse que o transporte de funcionários das empresas responsáveis pelas obras e também e o transporte de pessoas das mineradoras impactam positivamente o setor de fretamento. Outro ponto indicado como favorável para o setor no próximo ano diz respeito ao encaminhamento das reformas tributária, administrativa e outras, iniciativas que tendem a melhorar o ambiente de negócios. Também é tida como positiva a vacinação, que trouxe o término das restrições de circulação das pessoas, embora persista a preocupação em relação à variante ômicron.
Rubens Bisi afirmou que, em razão da quantidade de vacinados, vem sendo possível no Brasil o desenvolvimento de atividades que se baseiam na aglomeração de pessoas, o que favorece o transporte público. “A retomada do turismo é um fato. Temos um aumento do turismo interno, que é beneficiado também por haver restrições para a Europa e outros destinos no exterior. E temos aí muitos movimentos feitos pelo ministério do turismo. Estamos sentindo fortemente a compra de ônibus de turismo”.
A retomada das exportações, principalmente para a África, tem demonstrado um ritmo constante e esse aspecto foi descrito pelo dirigente como alentador. Bisi referiu também o novo pregão do programa Caminho da Escola, que tem por objetivo renovar, padronizar e ampliar a frota de veículos escolares das redes educação básica pública em nível municipal, estadual e do Distrito Federal. Ele disse que o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) fez recentemente um pregão no qual foram licitadas sete mil unidades e que há notícias no sentido de que, em janeiro de 2022, haverá mais uma licitação, desta feita referente a 7,5 mil unidades. Sobre a possibilidade de aproveitar uma eventual nova licitação, comentou: “Evidentemente nós estamos com problemas de falta de chassis, falta de componentes, pneus, semicondutores e este é um fator restritivo para tenhamos outras 7,5 mil unidades em 2022”.
O dirigente abordou o tema da entrada em vigor, em 2023, do conjunto de normas Euro 6 (Proconve P-8) referente às emissões para veículos automotores pesados novos, de uso rodoviário no país. Ele disse que em razão disso, o setor acredita que haverá uma compra antecipada: o mercado acelerará as compras de produtos Euro 5 em 2022, visto que em 2023 só seria possível comprar veículos Euro 6, que são mais caros e não trazem uma redução do consumo de combustível, valendo basicamente por seus benefícios ambientais.
Pontos de atenção: O representante do Simefre e da Fabus também comentou rapidamente um conjunto de “pontos focais de atenção”, entre os quais está a desoneração da folha, que foi aprovada no Congresso Nacional e agora vai para sanção presidencial. “Esperamos que o presidente possa sancionar antes do final do ano”, disse.
Outro ponto é o esforço no sentido de construir o marco legal do transporte público, considerado importante porque, da forma como está estruturado, o sistema atualmente em vigor não se sustenta.
“Temos duas iniciativas muito importantes. Uma delas é um projeto de lei do senador Antonio Anastasia –PL 3278/21, que tramita no Senado. A outra diz respeito à constituição de um fórum consultivo do ministério do desenvolvimento regional, do qual algumas entidades representativas do setor fazem parte, e que objetiva discutir uma ajuda emergencial para o setor e, também, uma reestruturação do transporte público, considerando alguma forma de mudar a contratação, a remuneração e as receitas extratarifárias”.
Rubens Bisi ressaltou ainda a existência de testes de um programa de renovação veicularem três diferentes segmentos. Ele informou que está sendo desenvolvido um piloto de renovação de caminhões em Minas Gerais e que, em janeiro e fevereiro de 2022, será desenvolvido no Rio Grande do Sul um piloto referente à renovação de ônibus. Além disso, haverá iniciativa similar no tocante aos semi-reboques, neste caso, em Santa Catarina.
“Trata-se de uma forma de criar um mercado. O governo federal deverá buscar a aprovação do programa no Congresso. A ideia é tirar veículos com mais de 30 anos de circulação. E no caso de ônibus e carretas, retirar os veículos com mais de 20 anos”.
Bisi afirmou ainda que o Simefre e a Fabus, ao lado de outras entidades, estão trabalhando no sentido de reduzir o chamado “custo Brasil”, com 12 grupos que estudam medidas a respeito. Por fim, o dirigente mencionou o esforço do setor para buscar junto ao BNDES financiamento concernente ao mercado interno “mas, principalmente, no sentido de manter o Fundo Garantidor de Crédito para Exportação”.