Por Automotive Business
Foto: Reprodução (SECOM Pará / Via Fotos Públicas)
Após um ano marcado pela pior crise de oferta da indústria automotiva no País, a associação dos fabricantes de veículos, a Anfavea, ainda não concluiu suas projeções para 2022, mas desde já prevê mais um ano de produção travada, que não deve conseguir atender toda a demanda. O problema tende a ser menor do que o visto em 2021, quando as fábricas deixaram de produzir cerca de 300 mil veículos por falta de componentes (principalmente eletrônicos), mas poderá ser afetado pela falta de crescimento do PIB, o que tende a deprimir a economia e as vendas.
Ao divulgar os dados de desempenho da indústria em novembro e no acumulado de 11 meses de 2021 na segunda-feira, 6, Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, afirmou que a entidade ainda está conversando com as montadoras associadas e agentes de mercado, como bancos, para traçar o cenário de 2022.
Contudo, ele admite que as contínuas retrações do PIB são preocupantes – alguns analistas apontam crescimento da economia brasileira de apenas 0,6% no ano que vem e os mais pessimistas falam em retração de 0,5% – e podem ter impacto adicional ao da já esperada falta de semicondutores, algo que deve se estender até o início de 2023. Mas até o momento a crise de oferta preocupa mais do que uma possível retração da demanda.
“Não é só falta de componentes, mas também de navios e contêineres, não conseguimos atender a demanda durante o ano todo. Nunca vi uma limitação de oferta tão grande. Já vi desorganização na cadeia global de suprimentos, mas nunca tão grande como agora. A estabilização completa desse problema só deve acontecer em 2023”, avalia Luiz Carlos Moraes.
O presidente da Anfavea citou o mais recente estudo do Boston Consulting Group, que após elevar para 10 milhões a 12 milhões de veículos sua estimativa de perda global de produção deste ano causada pela falta de semicondutores, projeta que em 2022 o problema deve reduzir em algo como 5 milhões de unidades a produtividade das fábricas no mundo todo.
Mercado 300 mil veículos abaixo do potencial: Não fosse a falta de componentes que afetou a indústria em todos os meses de 2021, Moraes estima que as fábricas teriam produzido perto de 2,5 milhões de veículos, em crescimento de 25% sobre 2020 combalido pela pandemia, para um mercado interno 15% maior, de quase 2,4 milhões – estas foram as previsões da Anfavea feita no início deste ano. Contudo, após muitas paralisações de fábricas ou reduções de ritmo, as projeções foram revisadas em cerca de 400 mil a 300 mil unidades para baixo em outubro passado, estimando produção de 2,1 milhões a 2,2 milhões e vendas domésticas entre 2 milhões e 2,1 milhões.
Pelo ritmo de vendas e produção de novembro, o mais provável é que o mercado de 2021 fique perto de 300 mil veículos abaixo de seu potencial. “Já tínhamos feito projeções conservadoras, mas mês a mês a falta de componentes e problemas logísticos foi jogando o desempenho para baixo e precisamos reajustar as previsões. Ao que tudo indica, a indústria deve produzir de 170 mil a 180 mil unidades em dezembro e podemos fechar o ano no limite superior das nossas estimativas”, aponta Moraes.
Segundo os resultados consolidados divulgados pela Anfavea, em novembro foram vendidos 173 mil veículos no País (somando automóveis, comerciais leves, caminhões e chassis de ônibus). Foi o pior novembro dos últimos 16 anos, desde 2005 não se via resultado tão baixo. Houve alta de 6,5% sobre outubro, mas baixa pronunciada de 23% sobre o mesmo mês de 2020, quando a indústria entrou em ritmo de recuperação após as paralisações provocadas pela pandemia de coronavírus. Em 11 meses as vendas totalizam 1,9 milhão de unidades, em pequeno crescimento de 5,4% ante o ano passado.
Levando em conta o ritmo de produção de novembro (206 mil, o maior volume do ano até agora, 15% acima de outubro), Moraes avalia que boa parte das montadoras conseguiu receber os componentes que estavam faltando e, “se nada mais grave ainda acontecer”, ele projeta que devido às férias coletivas de algumas montadoras em dezembro a indústria tende a produzir de 170 mil a 180 mil unidades, o que seria suficiente para fechar 2021 perto da faixa mais alta de produção (2,2 milhões) e de vendas (2,1 milhões) projetada pela entidade.
“Considerando todo o contexto de dificuldades, tivemos um bom mês”, aponta Moraes. Mesmo assim, a indústria deverá virar o ano “devendo” carros aos clientes, que ainda formam longas filhas de espera por alguns modelos, incluindo até as locadoras, que de janeiro a novembro compraram 365 mil carros (48% das vendas diretas) e devem fechar 2021 com 400 mil, mas gostariam de ter comprado mais.
Os estoques aumentaram um pouco, de 93,5 mil em outubro para 103 mil em novembro, o equivalente a 18 dias de vendas, seguindo assim nos mais baixos níveis históricos. “Todos esses carros já devem ter seguido para as concessionárias, estavam vendidos, as fábricas não estão conseguindo atender todos os pedidos”, destaca Moraes.
Demanda também preocupa, mas menos: Pelo lado da demanda, o presidente da Anfavea indica que a entidade segue preocupada com o cenário de estagnação econômica, embalado pela escalada da inflação, que tende a chegar a 11% este ano, e alta continuada dos juros que empurra a taxa do crédito ao consumidor para além dos 25% ao ano, tornando os veículos ainda mais caros e inacessíveis. Desemprego elevado e renda em baixa selam o quadro recessivo.
Contudo, Moraes aponta que também há fatores positivos no horizonte: “O avanço da imunização contra a Covid-19 tende a reaquecer os setores de serviços e turismo, o que pode gerar emprego e renda. O agronegócio também segue aquecido, com expectativa de safra recorde de 290 milhões de toneladas de grãos. São fatores que podem melhorar a situação”, diz.