Passageiros trocam avião por ônibus nas viagens de fim de ano

Do Correio Braziliense
Foto: Marcelo Ferreira (D.A. Press / Correio Braziliense)

Com os custos cada vez mais altos das passagens aéreas, muitas pessoas estão optando por viajar de ônibus neste fim de ano. Na hora de comparar os valores, os passageiros economizam até mais da metade do preço se escolherem o transporte rodoviário. Esse é um dos motivos para o setor de viagens rodoviárias interestaduais projetar, para o mês de dezembro, um movimento semelhante ao registrado antes da pandemia, em 2019, quando o número de embarque e desembarque passou de 280 mil pessoas.

Quem colocou a conta na ponta do lápis e preferiu viajar de ônibus foi Jéssica dos Santos Nascimento, 24 anos, operadora de caixa e moradora de Maringá (PR). De passagem por Brasília, a jovem deixou a cidade paranaense com destino a Morro do Chapéu (BA). “De avião não compensava por ser uma viagem de última hora. Ida e volta estava dando em torno de R$ 2.400, e de ônibus ficou R$ 950”, detalha. O alto preço da passagem aérea também motivou Ana Maria Santos, 48, autônoma e moradora do Lago Oeste, a escolher o ônibus. “O que vamos pagar para ir e voltar (de ônibus) não é nem a passagem de ida do avião”, destaca. Ela e a filha vão para Colinas (MA) visitar familiares. “A ida, em média, estava de R$ 700 a R$ 800 e, de ônibus, a média ficou em R$ 310”.

Gerente regional de Brasília das empresas Rotas e Viação Estrela, Divino Ferraz destaca que a expectativa é ter um aumento de 25% na movimentação deste fim de ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. “A procura está grande. Nossos carros estão bem ocupados no mês de dezembro, e acredito, inclusive, que as empresas dificilmente vão conseguir atender todo mundo, porque há muita procura”, pontua. Para ele, o aumento mais significativo veio em novembro. “Ela (a procura) já vem crescendo desde outubro, mas agora, com a chegada do 13º salário ou mesmo com a previsão dos que vão recebê-lo, muitos acabam já se programando”, avalia.

De acordo com o Terminal Interestadual de Brasília, para recepcionar o volume de passageiros previsto, a concessionária mantém os protocolos sanitários adotados com a Campanha Embarque Seguro, vigente desde maio de 2020. “O local conta com toda a infraestrutura de biossegurança como dispensers de álcool em gel, lixeiras exclusivas para o descarte de máscaras, luvas e lenços, e comunicações sonora e visual alertando para as recomendações de autocuidado e importância do distanciamento social em filas e locais de uso público. Superfícies são desinfetadas frequentemente e todos os colaboradores da concessionária usam equipamentos de proteção individual (EPI’s)”, garante a administração do local.

O terminal também recomenda que os passageiros priorizem a compra antecipada de passagens e aproveitem para garantir tanto o bilhete da ida quanto o da volta, para evitar transtornos com a possível indisponibilidade de determinados dias e horários.

Combustível: Durante o período de pandemia, a compra de passagens de ônibus pela internet também vem sendo maior. A informação é da bilheteira Mayara Oliveira, de 23 anos, da empresa Guerino Seiscento. “As vendas na rodoviária estão mais devagar, mas a procura pela internet aumentou. Para dezembro, estamos com projeção de colocar mais carros extras, a depender das vendas do começo de dezembro”, salienta. Mayara destaca que São Paulo e a região Nordeste são alguns dos locais mais procurados. “Fortaleza, por exemplo, e as áreas de praia estão em alta”, cita.

Além do preço das passagens aéreas, o valor atual do combustível desmotiva as viagens de carro. Hélio Silva, 51, design gráfico e morador de Palmas (TO), esperava no Terminal Rodoviário de Brasília a baldeação para pegar o ônibus com destino a João Pinheiro (MG). “Se eu fosse de carro, o gasto seria em torno de R$ 1.500, ida e volta, enquanto que, de ônibus, a passagem ficou R$ 390; bem mais em conta. Em outros tempos, eu já fiz esse percurso de carro, mas agora não dá”, avalia.

A viagem de Hélio é para acompanhar o casamento da irmã. “Ela me disse que eu sou o irmão mais velho e que precisava ir. Já faz uns anos que eu não os visitava, desde que minha mãe morreu. Ela fez esse pedido, e eu decidi ir, porque a gente nunca sabe o dia de amanhã”, aponta.

Imunização: O avanço da vacinação contra a covid-19 é outro fator que fez com que as pessoas se sentissem seguras para deixar as suas casas e visitar outras cidades e estados. É o caso da confeiteira Fernanda Silva, 38 anos, moradora de São Sebastião. “Estou indo para a Bahia, em Mucuri, no interior. Sempre vou lá para visitar minha família. Mas eu preferi me vacinar para voltar lá, porque achei que seria mais seguro. Até porque no interior eles não têm o mesmo atendimento e os recursos mais rápidos. Considerei que seria mais apropriado esperar essa fase mais difícil para não levar algum risco para eles”, avalia.

O bilheteiro da Real Expresso Wesley Luiz Brito, 27 anos, acredita que a imunização foi o que deu mais confiança para a população. “A maioria dos idosos sente mais conforto e segurança para poder viajar. Com a vacinação, aumentou o fluxo de passageiros. E os ônibus também já saem higienizados daqui para manter todos os cuidados”, garante.

Wesley destaca: “a passagem de ônibus, querendo ou não, é mais barata. E o avião cobra excesso de bagagem, enquanto que no ônibus isso é mais negociável. No fim, estamos com um fluxo muito bom previsto até janeiro do próximo ano”. Em relação aos destinos prediletos, Wesley destaca uma grande procura pelo Rio de Janeiro, São Paulo e Goiânia.

A enfermeira Lia Raquel Araújo, 53, e o economista Matheus Araújo, 24, vieram do Rio de Janeiro com destino à capital goiana. “A impressão que tenho é que as companhias estão diminuindo o valor das milhas e, pelo menos por ônibus, temos um valor que tem se mantido. Se viéssemos de avião, ficaria em torno de R$ 800 somente a vinda ou 45 mil milhas”, explica Matheus.

Por isso, mãe e filho escolheram economizar. No transporte rodoviário, cada passagem custou R$ 180. Como enfermeira, Lia conta que precisou esperar a pandemia acalmar para poder sair. “Viemos visitar familiares. Decidimos descer em Brasília e daqui pegamos outra condução para Goiânia, porque assim fica mais barato. Por causa da pandemia, não pude vir antes. Como sou profissional de saúde, não podia sair. Agora que estamos podendo respirar um pouco”, finaliza.

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