Táxis retomam espaço deixados pelos aplicativos em Belo Horizonte

Do Estado de Minas
Foto: Núcleo Editorial – VisualHunt

Revezando chamadas pelos dois mais populares aplicativos de transporte de passageiros que atuam em Belo Horizonte, a reportagem do Estado de Minas levou 15 minutos para que uma corrida de apenas quatro quarteirões fosse aceita no sábado. A pé, pela Avenida Barão Homem de Melo, no Bairro Estoril, Região Oeste de BH, esse mesmo percurso já teria sido cumprido. Mas o teste é uma amostra de como está cada vez mais difícil para os usuários de aplicativos fazerem corridas curtas, uma vez que o preço dos combustíveis aumenta fortemente e o deslocamento não compensa os custos dos motoristas.

Um dos reflexos disso já é sentido em outra categoria, a dos taxistas, que afirmam sentir um aumento na procura pelos telefones de pontos e mesmo nas ruas. O movimento nos pontos têm se ampliado, sobretudo para pessoas que procuram corridas curtas, mas precisam de as fazer em automóveis devido a terem de levar compras, por exemplo.

Uma corrida de nove quilômetros da Avenida Professor Mário Werneck, no Bairro Buritis, Região Oeste de BH, até o Mercado Central, que é uma das atrações turísticas da cidade, renderia R$ 26 ao motorista de aplicativo que se dispusesse a fazer o percurso, de acordo com a busca da ferramenta de mapas do Google. A estimativa seria de 21 minutos de deslocamento, mas por mais de 10 minutos a reportagem esperou, sem sucesso, para que algum motorista de aplicativo aceitasse fazer esse transporte.

No ponto de táxi da mesma avenida, que tinha seis veículos parados à espera de passageiros, nenhum dos taxistas que aguardava por corridas se disse disposto a aceitar um deslocamento desses pelo preço sugerido pelo aplicativo. Na verdade, declararam que por aquele preço, prefeririam se manter parados no ponto.

“Acabei de levar um passageiro ao Mercado Central. A senhora estava indo fazer compras e cansou de esperar pelo aplicativo. Levei até a entrada e custou R$35. Depois tive de procurar outro passageiro. O táxi tem uma margem de segurança que faz compensar as corridas mais curtas. A gente imagina que a tarifa nos dá uma segurança de 40% acima do que os motoristas de aplicativo conseguem”, disse o taxista Pedro Luiz Fernandes, de 56 anos, sendo 13 rodando na praça da Grande BH.

O também taxista Ezequiel Gomes, de 41, salienta que não é apenas o custo de se encher o tanque do carro que afeta a viabilidade de uma corrida. “A gente precisa pesar também o desgaste das peças do carro, a manutenção mecânica, o tempo perdido em tudo isso e na corrida também. Acabam sendo descontos muito altos e por isso a tarifa do táxi ainda nos protege, torna o transporte seguro. Quando você chama um táxi, sabe que é uma pessoa confiável, que é regulada pela BHTrans. Mas tudo isso tem um custo”, afirma Ezequiel.

O administrador Carlúcio Rodrigues Araújo, de 40, roda com o próprio carro pelos aplicativos e compara a viabilidade de cada corrida. “O preço do combustível está muito alto e é o principal componente. Para se rejeitar uma corrida, a gente precisa avaliar alguns pontos além disso. Primeiro: áreas de risco. Há locais onde a plataforma indica que são perigosos e alguns motoristas evitam essas áreas, sobretudo à noite por serem mais perigosas”, disse.

Distâncias

Mas, de acordo com Carlúcio, não é apenas o preço da gasolina que influi na hora de recusar um pedido de corrida pelos aplicativos de transporte. “Outra coisa é a própria avaliação da chamada. Se eu precisar rodar cinco quilômetros para buscar um passageiro e o deslocamento dele for de três quilômetros, eu teria de pagar do meu bolso cinco quilômetros para ganhar em cima de três e isso não compensa é um dos fatores que leva os motoristas a cancelar as corridas”, afirma.

As recusas dos motoristas de aplicativos podem refletir em suas avaliações e gerar punições, o que acaba forçando muitos a cumprir corridas que não compensam tanto. “As plataformas nos permitem cancelar certas corridas quando se referem a áreas de risco ou locais distantes demais, sem que isso influencie na nossa avaliação. A taxa de desempenho acaba sem ser alterada. Isso é muito importante, porque a pessoa que fica muito abaixo na classificação, rejeitando muitas corridas sem um bom motivo, pode acabar sendo penalizada. O algoritmo do aplicativo detecta e te dá menos corridas chegando até a te suspender por um dia ou mais das corridas. Você acaba ficando sem trabalhar naquele dia até recuperar o nível de avaliação aceitável”, pondera Carlúcio.

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