Do Jornal O Tempo (MG)
Foto: Flávio Tavares (Jornal O Tempo)
O trabalho de funcionários de bares e restaurantes na capital não acaba à 1h, horário máximo de recebimento de clientes, pelas regras da prefeitura. Com viagens de ônibus ainda reduzidas em quase 25% na capital e escassez de ônibus municipais e metropolitanos para funcionários voltarem para casa no horário noturno, estabelecimentos de BH têm até deixado de realizar contratações, segundo o presidente do braço mineiro da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Matheus Daniel.
“Estamos com dificuldade de geração de emprego, porque as pessoas não têm transporte para voltar pra casa e não podem aceitar a vaga. Na última semana, tivemos uma audiência de mediação no Tribunal de Justiça com a prefeitura e com o Estado e vamos ter uma nova rodada no início de outubro. Às vezes, a pessoa tem um ônibus para sair da Savassi e chegar no Centro, por exemplo, mas a integração para outra cidade não está lá mais, ou até para o bairro em Belo Horizonte”, diz.
O gerente administrativo de um restaurante na rua Pium-í, no bairro Sion, região Centro-Sul da capital, Felipe Aguiar, diz que cerca de um terço dos funcionários está com problema para voltar para casa e que houve casos de pessoas que desistiram do emprego por causa do transtorno diário. O restaurante tem arcado com transporte de aplicativo para alguns trabalhadores, mas, com as contas ainda balançadas pela redução de clientes, cobra mais horários ao poder público. “A cidade inteira clama por esse transporte, temos que voltar à malha anterior”, pondera.
A chefe de cozinha Daniela Pereira, 39, mora em Ibirité e conta que o último ônibus do Centro de BH para sua casa passa às 23h, enquanto o último do Sion ao Centro, deixa de passar após as 22h30. “Estou dormindo na casa de uma moça alguns dias por semana para dar menos prejuízo para a empresa. É revoltante não ter ônibus, pelo tanto que a gente trabalha e os impostos que pagamos. Trabalho aqui há dez anos e não tinha esse problema antes, tinha ônibus até as 4h”, conclui.
Procurada pela reportagem, a PBH afirmou, por meio de nota, que solicitou “aos consórcios a revisão completa dos quadros de horários e incremento de viagens, cuja avaliação pela BHTrans ocorre ao longo deste mês de setembro”. A Secretaria de Estado de Infraestrutura destacou que, desde agosto, as estações de transferência do Move metropolitano estão operando até meia-noite e que o número de viagens retornará ao patamar habitual quando a demanda de passageiros também for normalizada – hoje, ela é 70% do número anterior à pandemia, de acordo com a pasta.