Do O Estado de SP
Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília/Ilustração
As motocicletas assumem um papel cada vez mais importante na mobilidade urbana no País. Atualmente, cerca de 33 milhões de pessoas estão habilitadas na categoria A, para motocicletas, no Brasil. São milhões de brasileiros que, por comodidade, hobby ou profissão, se locomovem sobre duas rodas.
De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), analisados pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), o número de pessoas habilitadas para esse tipo de veículo cresceu 17,5%, nos últimos cinco anos (veja quadro).
Embora muitos apontem o boom dos aplicativos de entrega, o crescimento do delivery e a crise econômica gerados pela pandemia como motivos para o aumento das motos nas ruas, os dados revelam uma realidade diferente. Pesquisa dos fabricantes associados à Abraciclo mostra que, na verdade, esses novos motociclistas procuraram motos e scooters como um meio de locomoção rápido, econômico e seguro.
De acordo com pesquisa dos fabricantes, para 91% dos consumidores, o principal motivo para a compra de uma motocicleta, em 2020, foi a locomoção. Em segundo lugar, aparece o lazer (66%), seguido pelo trabalho (15%). Os dados mostram que, em função da covid-19, muitas pessoas passaram a utilizar a motocicleta para evitar as aglomerações no transporte público.
É o caso do advogado Leonardo Ludke, que colocou em prática o antigo sonho de ter uma motocicleta para evitar as horas que gastava no transporte público: comprou uma em janeiro deste ano. Residente em Caxias do Sul (RS), Ludke pegava de dois a três ônibus para ir ao trabalho. “Nesse trajeto, eu gastava cerca de uma hora. Hoje, levo dez minutos”, comenta. “Ganhei autonomia, agilidade no deslocamento e ainda economizo o dinheiro que gastava com o transporte público”, conta.
MOTO NO PÓS-PANDEMIA
A história do analista de sistemas Fernando Ferreira é bastante semelhante: tirou a habilitação e comprou a motocicleta durante a pandemia. “Quanto voltei a trabalhar presencialmente, confesso que fiquei incomodado ao me ver rodeado de pessoas – algumas sem usar máscara – no transporte público. Até cheguei a discutir com uma delas. Decidi que a motocicleta seria a melhor solução para evitar esse estresse”, conta. Morador no Rio de Janeiro, Ferreira elogia a praticidade e a agilidade das motos para o seu dia a dia.
A paulistana Bruna Portela tem, na moto, seu instrumento de trabalho. Ela trabalhava como auxiliar de escritório, mas foi demitida durante a pandemia. Com o valor da rescisão do seu contrato, Portela investiu na compra de uma moto e passou a trabalhar com os aplicativos de entrega. “Hoje, é minha única fonte de renda”, explica a jovem.
Venda de scooters cresce quase 60% em 2021
Economia de combustível e praticidade são alguns dos motivos que levam as pessoas a optar por esse tipo de moto como solução de mobilidade urbana
Como aconteceu em outros países, a aplicação da vacina tem ajudado a conter a pandemia no Brasil. Com isso, as atividades presenciais vão sendo retomadas aos poucos, e as pessoas voltam a se locomover pela cidade. O aumento da procura por uma opção de mobilidade urbana também tem impulsionado a venda de scooter no País.
Entre janeiro e julho deste ano, foram comercializadas 61.677 unidades desse tipo de moto, revelam os dados da Abraciclo, associação que reúne os fabricantes do setor de duas rodas. O volume representa crescimento de 59,2% em comparação ao mesmo período de 2020. No mês de julho, o segmento de scooters registrou um recorde histórico no volume de emplacamentos: foram 10.195 unidades.
“As scooters estão, definitivamente, escrevendo uma nova página na mobilidade urbana brasileira. Elas vêm trazendo para as ruas novos usuários e usuárias, que praticam a conveniência sobre duas rodas em um veículo que ocupa pouco espaço, é amistoso e seguro, tem baixo consumo de combustível e impacto em termos ambientais e é democraticamente acessível. Enfim, excelente exemplo de mobilidade do futuro no presente”, afirma Alexandre Cury, diretor comercial da Honda Motos.
A marca japonesa encabeça o ranking de vendas no segmento de scooters. Só em julho deste ano, a Honda comercializou um total de 6.589 unidades e alcançou 64,6% de market share.
Além de liderar a lista das scooters mais vendidas, com 15.849 unidades da PCX emplacadas de janeiro a julho, a Honda ocupa a terceira e quinta posições, com a Elite 125 (10.043) e a ADV 150 (7.137), respectivamente.
ECONÔMICAS E PRÁTICAS
Até agosto, o valor do litro de gasolina aumentou 28,21% nas bombas de todo o País, revela levantamento da Agência Nacional de Petróleo. Um dos principais fatores que explicam o aumento da procura pelas scooters como solução de mobilidade urbana é a economia de combustível.
A Honda Elite 125, modelo de entrada da marca que custa em torno de R$ 10 mil, pode rodar mais de 50 km com apenas um litro de gasolina, de acordo com testes do Instituto Mauá. Consumo, sem dúvida, mais vantajoso do que um automóvel que percorre, em média, 11 km/litro.
Outra razão para o sucesso desse tipo de motocicleta, no qual o condutor vai sentado e protegido por um escudo frontal, é a facilidade de pilotagem. A grande maioria dos modelos tem câmbio automático CVT, também comum em carros, o que facilita a migração de alguns motoristas para o modal de duas rodas.
Além da facilidade de pilotar em função da ausência de embreagem e marchas, as scooters têm compartimento sob o assento, que funciona como uma espécie de “porta-malas”, onde o condutor pode transportar bolsas e mochilas enquanto pilota, ou pode guardar capacete e jaqueta, ao estacionar. Tomadas 12 V e porta-luvas também são praticidades presentes nas scooters.
Um atrativo para quem troca o carro por uma scooter, segundo as fabricantes, é o design. Os modelos mais vendidos do País têm farol de LED, como os carros mais modernos, e a campeã de vendas, Honda PCX, tem painel digital e até chave de presença, smart key.
Diversos modelos da Honda, da PCX de 150 cc a SH 300, também oferecem sistema de freios ABS, que evita o travamento das rodas em frenagens emergenciais, proporcionando mais segurança aos motociclistas.