Empresa de ônibus fatura mais carga que passageiros

Do Valor Econômico
Foto: Chailander Borges

O grupo paranaense Princesa dos Campos, que tem uma frota de 244 ônibus para transportar passageiros, está investindo para ampliar o braço de entrega de encomendas, hoje focado na carga fracionada para atender indústria e varejo em itens como autopeças.

A empresa, que hoje faz entregas no Sul do país e em São Paulo, mira agora cobrir toda a região Sudeste e Centro-Oeste até 2025. O objetivo é investir R$ 3 milhões na empreitada, disse o presidente Gilson Barreto ao Valor.

“Até 2025 vamos consolidar a região Sudeste e Centro-Oeste”, disse. “Queremos dobrar o tamanho da nossa operação de encomendas até lá”, disse. O braço elevou o seu faturamento para R$ 113 milhões no ano passado na comparação com uma média de R$ 100 milhões nos anos anteriores. O lucro saltou mais de 800%, para R$ 13 milhões.

A pandemia afetou os negócios e fez o segmento de carga ganhar espaço – hoje faz 62% da receita. Essa fatia antes da pandemia era de 42%. O transporte de encomenda até maio já cresceu 28%, comparado ao mesmo período de 2020, ao passo que o braço de transporte rodoviário hoje opera em nível equivalente a 45% do que costumava ser antes da pandemia.

O grupo não quis divulgar os resultados da área de transporte de passageiros, mas destacou que, por causa da pandemia, registrou prejuízo.

No início, a operação de carga era feita no bagageiro dos ônibus. Mas com o passar do tempo e crescimento do negócio, a atividade ganhou frota própria. Hoje são 600 veículos, entre carros pequenos e caminhões. “Foi um diferencial na pandemia. Enquanto em passageiros tivemos de segurar o negócio, em carga ele cresceu”, disse o executivo.

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati), esse movimento feito pelo grupo paranaense não está sendo replicado de forma ampla no setor. Isso porque há um movimento de transformação de frota, iniciado há cerca de cinco anos, por veículos com dois andares, e ele reduziu ainda mais o espaço disponível para o transporte de carga. No fim, a prioridade do bagageiro acaba sendo as bagagens dos passageiros.

Mesmo assim, a Expresso Princesa não é a única na empreitada. A Buser, startup de intermediação de viagens de ônibus, tem monitorado oportunidades no segmento, embora ainda esteja dando passos iniciais em um projeto piloto com varejistas.

Apesar de todo o frisson com o setor de e-commerce, a Expresso Princesa dos Campos praticamente não opera no segmento hoje. O foco é carga fracionada para empresas como fábricas, lojas e vendedoras de automóveis.

Para chegar ao modelo do e-commerce, a empresa terá de passar por uma forte mudança na estrutura, aumentando a periodicidade das rotas. “Estamos tocando o pé nisso”, disse o presidente do grupo, sem dar mais detalhes.

A maior relevância do braço de frete veio, em parte, com a queda no transporte rodoviário. A operação é concentrada sobretudo no Paraná, com uma linha para São Paulo. A meta é chegar em dezembro com 70% da operação rodoviária de volta – fazendo o setor representar novamente 50% da receita do grupo. Antes, a empresa transportada 13 milhões de pessoas por ano, ou 20 mil por dia, na média.

A empresa já investiu R$ 7,3 milhões neste ano até o dia 15 de junho na aquisição de ônibus (com a aposta de retomada na demanda), além de R$ 700 mil no braço de encomendas e R$ 500 mil em inovação e sistemas e R$ 650 mil na compra de peças, diante do receio de escassez no mercado ante as dificuldades da cadeia produtiva.

“A empresa, que tem 87 anos de história, pela primeira vez teve seu volume de passageiros em zero”, afirmou Barreto, referindo-se ao período entre 26 de março e 4 de abril do ano passado, início da pandemia.

Há interesse em ampliar também o número de Estados atendidos no segmento rodoviário. “Mas temos de esperar tudo isso passar para então vermos o tamanho do mercado”, disse. No total, a empresa tem 244 ônibus.

O grupo foi administrado por José Gulin durante vinte anos. O executivo morreu em março deste ano aos 84 anos, mas já não estava à frente dos negócios desde 2012. Hoje, a empresa é controlada por quatro famílias, entre elas a Gulin.

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