Da Revista Truck&Bus Builder América do Sul
Foto: Andreivny Ferreira (UNIBUS RN)
Em decorrência da continuidade da pandemia do novo coronavírus, a Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus) prevê o pior ano deste século para a indústria brasileira de ônibus, com desempenho comparável somente ao de 1999, quando foram produzidas apenas 12.098 carrocerias.
“Este poderá ser, sem dúvida, o pior ano deste século com desempenho inferior a 2016, quando foram fabricadas 14.111 carrocerias. Retrocedemos 20 anos, com mais de 50% de capacidade ociosa nas fábricas”, destaca Ruben Antonio Bisi, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus). “Nem a demanda do segmento de fretamento poderá evitar um resultado tão ruim para 2021.”
Segundo Bisi, os segmentos de rodoviários estão com baixa demanda e turismo está praticamente parado. Mesmo a produção de escolares para o programa Caminho da Escola – resultante da licitação do FNDE no início de 2020, antes da pandemia – não seguirá no segundo semestre. “O segmento mais prejudicado é o de urbanos, pois com as restrições de circulação e de distanciamento social, os operadores estão trabalhando com pouco mais de 60% do volume normal de passageiros, mas obrigados a colocar mais ônibus em circulação, o que representa queda significativa na receita, sem diminuição dos custos operacionais.” Em função das baixas receitas e pela longa duração da pandemia muitos operadores estão com dificuldades de honrar os seus compromissos, o que está aumentando a inadimplência e renegociação de contratos de financiamentos.
“Não vislumbro a recuperação das receitas do setor de ônibus no Brasil antes do PNI – Programa Nacional de Imunizações atingir 70% da população brasileira que está previsto para novembro, permitindo assim a retomada da economia e da circulação de pessoas”, enfatiza o executivo.
Para Ruben Bisi, mesmo depois da vacinação em massa, a indústria ainda levará um bom tempo para se recompor, pois muitos operadores estarão debilitados financeiramente e com problemas de caixa, portanto, sem condições de efetuar a necessária e desejada renovação de frota. “Desde o início da pandemia foram mais de 70 mil demissões no setor. Isso sem falar no aumento dos insumos e matérias-primas que vem ocorrendo desde o segundo semestre de 2020, como aço, com mais de 140% de reajuste, alumínio, plásticos e até o cobre. E na queda generalizada das exportações porque os mercados compradores dos ônibus brasileiros também estão com os mesmos problemas”, lamenta.
Mesmo as ações e programas de entidades como NTU – Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, FABUS, ANTP, ANFAVEA, e os pedidos ao governo federal para liberação de verbas para o setor não têm surtido efeito. “É a tempestade perfeita”, define Bisi.
Sem investimentos e a destinação de recursos para o transporte público o Brasil vai sofrer muito no pós-pandemia, com a deterioração e sucateamento do serviço. Ao contrário do nosso País, nos EUA o governo lançou dois diferentes programas para ativar a indústria, um deles – de 25 bilhões de dólares – focado na renovação da atual frota de ônibus escolares por veículos elétricos.
Para evitar o colapso do transporte coletivo no País, precisamos ter um Marco Legal do Transporte Público que priorize a Qualidade e Produtividade do sistema, um sistema adequando de financiamento, com a revisão dos contratos e regulações.
Na área de exportação as encarroçadoras pedem a volta do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as empresas exportadoras (Reintegra), que tem por objetivo devolver parcial ou integralmente o resíduo tributário remanescente na cadeia de produção de bens exportados. Ter um Fundo Garantidor de Crédito, bem como um sistema de financiamento as exportações.
“O dólar atual está ajudando a exportação, mas o problema é que os países, principais compradores de ônibus brasileiros, como a Argentina, Chile, Peru, Bolívia e Equador, estão com problemas por causa da pandemia. Como alternativa, as empresas estão buscando novos mercados e a África é a que mais está comprando ônibus atualmente”, informa Bisi.
No pós-pandemia, o sistema de transporte passará por grande mudança, o que exigirá investimentos em inovação e muita criatividade para oferecer ao usuário um novo modelo de serviço, com mais qualidade, segurança e comodidade. “Toda a cadeia da indústria brasileira de ônibus precisará se reinventar para sobreviver e se adequar à nova realidade de mercado, necessidades e demandas dos clientes e usuários”, finaliza Bisi.