Do Valor Econômico
Foto: Buser/Divulgação
A startup de intermediação de viagens de ônibus Buser fechou ontem uma rodada de captação de R$ 700 milhões, liderada pela LGT Lightrock, que já investiu em empresas como Creditas e Dr. Consulta. Acompanharam o investimento na Buser as companhias Softbank, Monashees, Valor Capital Group, Globo Ventures e Canary, que também participaram de outras rodadas de aportes na startup, ocorridas em 2018 e 2019, além do Iporanga Ventures.
Com mais recursos no caixa, a Buser planeja aplicar até R$ 1 bilhão nos próximos dois anos na operação, disse Marcelo Abritta, cofundador e CEO da companhia.
“Os novos aportes são reflexo dos resultados que a empresa tem demonstrado. Estamos crescendo bastante”, disse o executivo. A startup mineira fundada em 2017 atua no segmento de fretamento colaborativo e tem conseguido entregar preços bastante competitivos no mercado, despertando críticas das empresas tradicionais, que apontam concorrência desleal.
No total, a Buser já conta com mais de 4 milhões de clientes em sua plataforma. Em média, transporta entre 25 mil e 30 mil passageiros por dia – podendo chegar a 70 mil nos dias de pico.
Um dos principais focos do grupo é aumentar a escala da operação. A empresa hoje é bastante conhecida, sobretudo entre os jovens mais ligados à tecnologia. Entretanto, Abritta diz que mesmo nos Estados com mais presença, como Minas Gerais e São Paulo, a startup não chega a ter nem 10% do mercado. “Há Estados em que somos insignificantes”, disse.
Para fazer frente à expansão, a empresa terá de contratar mais gente. Ao fim do ciclo de dois anos, a ideia é aumentar o número de colaboradores de 200 para 600.
A startup aposta ainda no seu mais novo modelo, o “marketplace” – uma plataforma de venda de passagens em parceria com viações tradicionais. No começo do projeto, em meados de janeiro, eram quatro viações parceiras – agora são 40.
A empresa pretende investir cerca de R$ 200 milhões para o financiamento de ônibus para os parceiros – a Buser entra como uma espécie de fiador junto a instituições financeiras.
“O setor como um todo via a gente como uma ameaça, assim como os taxistas viram a Uber e 99. Não é bem assim. Quando se abaixa o preço, o setor aumenta, não diminui”, afirmou.
A startup tem planos de entrar também no mercado de transporte urbano, considerado pela Buser “ainda mais fechado do que o interestadual e intermunicipal”.
A ideia é usar a tecnologia para saber onde as pessoas estão e para onde elas querem ir e, assim, transformar o modelo de hoje, em que o passageiro precisa se adaptar à rota do ônibus. “Temos duas cidades estudando o modelo com a gente. Se não fosse a pandemia já teríamos começado”, afirmou, sem dar mais detalhes.
O avanço da Buser, entretanto, é tumultuado. Há diversas disputas entre a startup e empresas tradicionais na Justiça. As concorrentes argumentam que a Buser atua com fretamento, mas que no fim a operação se assemelha ao transporte regular, regido por uma legislação diferente. Entre as características do fretamento na legislação federal está o chamado circuito fechado, ou seja, que o ônibus volte pelo mesmo trajeto de onde partiu – o que não acontece na Buser.
Em São Paulo, a agência de transporte estadual (Artesp) pôs em consulta pública um projeto de lei em 2020 que, a rigor, impediria empresas como a Buser de operar. O texto está em elaboração pela agência e não há data para apresentação.