Do Jornal O Estado de S. Paulo
Foto: Andreivny Ferreira (UNIBUS RN)
A qualidade do transporte público ganhou espaço político ainda maior e virou questão central durante a pandemia. Enquete feita pelo grupo NZN, a pedido do Estadão, mostrou que 83,5% dos usuários disseram não se sentir seguros no transporte público – e qualquer mudança nesse ponto vai depender da gestão pública. Além disso, 45,3% alteraram a forma de se deslocar com a crise da covid-19.
Três em cada dez dos 2,2 mil entrevistados, nas cinco regiões do País, também optaram por andar mais de a pé ou de bicicleta, embora 40,2% ainda optassem pelo uso do carro particular. Considerando que 43% precisam se deslocar no mínimo 5 quilômetros até o trabalho, avança a discussão sobre como as políticas públicas podem dar mais bem-estar ao cidadão.
“A interface da mobilidade entrou na agenda política”, diz Alberto Bombig, editor da Coluna do Estadão. Ele e Adriana Fernandes, repórter e colunista de Economia & Negócios do Estadão, fizeram análise e comentários a respeito dos assuntos abordados no Summit. Bombig lembrou que, nas eleições, as maiores preocupações do cidadão, além de saúde e educação, são os transportes. Para ele, a discussão sobre o setor subiu de patamar com a pandemia.
O confinamento e o distanciamento social deixaram muitos fechados em casa – pela enquete, quase 1 em cada cinco conseguiu fazer home office. “Mas quem tinha de sair pegou ônibus cheio, com risco de contaminação”, disse Bombig. Antes da covid 19, as questões eram o preço da passagem, qual o horário e rotas dos ônibus. “Agora, a discussão se elevou para pontos como precisa estar limpo e manter as condições de higiene.”
Outra novidade, segundo Bombig, são os motoboys, cuja atuação cresceu muito com serviços de delivery durante a crise sanitária – 38,2% admitiram usar mais o serviço, sobretudo para comida pronta. Hoje, eles podem parar a cidade, fazem manifestações e estão se organizando. Já estabelecem contatos na Câmara Municipal, como ocorreu com motoristas de aplicativo. O que mostra a importância maior do Legislativo Municipal na questão. “A legislação que era pensada para os carros, com estacionamento e Zona Azul, por exemplo, já começa a ter de incluir essas novas modalidades”, afirmou.
Sustentabilidade: Adriana Fernandes acredita que a recuperação econômica, no País e no mundo, vai se dar com um novo paradigma. “É o da sustentabilidade não só ambiental como também da social”, disse, destacando elementos como carro elétrico, energia limpa e veículos autônomos. Para ela, as discussões sobre isso no governo federal estão “muito atrasadas”. “Estamos vivendo um retrocesso em relação ao passado recente, quando discutíamos incentivos tributários para esse tipo de veículo e mobilidades sustentáveis.”
“Tecnologia, sustentabilidade e mobilidade mais eficiente estão conectadas”, disse ela. “As três esferas estão em atraso por causa da falta de planejamento e de políticas públicas que não veem essas conexões.”