Da Revista AutoBus
Foto: Reprodução/Van Hool
Apesar do grave momento vivido no mundo, podemos observar que há mobilizações em torno da modernização do transporte feito pelo ônibus urbanos em países realmente preocupados com os deslocamentos sustentáveis das pessoas
O nó continua atado para o setor de transporte coletivo no Brasil. Com a pandemia do Covid-19 mantendo suas garras sobre a sociedade, a mobilidade fica refém das consequências causadas pelo vírus, que reduz toda a circulação de pessoas, seja pela modalidade urbana ou rodoviária. Com isso, as operadoras de ônibus sofrem, a cada dia, revezes que impactam diretamente em seus cotidianos. Assim como outros setores econômicos, o negócio de transporte depende demais das pessoas, pois sem elas sua atividade não tem sentido. Como não há apoio ou subvenção governamental na questão financeira dos serviços, instrumentos econômicos utilizados em países desenvolvidos, a rentabilidade por aqui é oriunda apenas do bolso do passageiro, que neste momento fica em casa ou pouco se desloca para evitar o contágio.
O setor se ressente das condições amargas promovidas pela diminuição do volume de passageiros transportados, com perda das receitas e aumento dos custos (o combustível se destaca por ter seus preços em alta nos últimos meses). Ônibus batendo lata não traz benefício a ninguém. Queima diesel a toa, gera poluição e não fatura para a sua sobrevivência. Também não é mais possível vermos os desmandos proporcionados por gestões públicas em sistemas de transporte estabelecidos, que podem favorecer a cidade e seus habitantes, como alguns casos acontecidos com os serviços de BRT no Rio de Janeiro, que está numa situação calamitosa, tendo uma identidade de eficiência jogada no lixo ao ser desconstruído em toda a sua essência. O novo prefeito da capital fluminense mostra algum interesse em resgatar seu conceito positivo, com ações e suporte para diminuir os estragos causados pela indiferença em um setor chave para o desenvolvimento urbano.
A falta de planejamento e investimento contínuo na mobilidade coletiva brasileira escancarou as indefinições sobre o futuro. Movimentos governamentais isolados buscam reverter o quadro negativo do segmento, propondo, em muitos casos, ações para atenuar a crise, porém, de modo efêmero, que dura apenas o tempo de suas gestões. Mais do que isso, o transporte coletivo deveria receber maior atenção no pacto federativo e não ser utilidade de programas de governos, sob o expediente de ideias mirabolantes ou pela falta de concepções sensatas que tragam desempenho e eficácia. Muito se fala e pouco se faz.
Apesar do grave momento vivido no mundo, podemos observar que há mobilizações em torno da modernização do transporte feito pelo ônibus urbanos em países realmente preocupados com os deslocamentos sustentáveis das pessoas. Tais mercados praticam, há tempos, a transição ambiental e a qualificação nos serviços do modal. Com metas claras e estabelecidas de acordo com as definições tecnológicas, o futuro não foi deixado de lado e os investimentos, mesmo que tenham sido reduzidos, continuam nos lineamentos que visam a evolução do transporte. O Brasil ficou para traz nesses quesitos por isso devemos aprender com a situação e promover a transformação dos serviços, observando a nossa grande capacidade em disponibilizar projetos, recursos tecnológicos e novas formas de negócios que possam renovar o atual conceito, ultrapassado, por sinal. Sem metas, não teremos futuro.