Do Valor Econômico
Foto: Antonio Silva/Agência Pará/Ilustração/Fotos Públicas
Piorou nitidamente, embora sem a mesma virulência detectada no começo da pandemia, o sentimento dos executivos na área de infraestrutura sobre as perspectivas de crescimento econômico nos próximos seis meses e em 2022. A visão geral no setor é de frustração com as expectativas de retomada. Enquanto isso, o governo federal tem uma avaliação bem mais negativa do que administrações estaduais no combate à emergência sanitária.
Esse foi o quadro captado, em linhas gerais, pela nova pesquisa semestral realizada pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) e pela consultoria EY com gestores de investimentos e especialistas que apoiam a estruturação de projetos no setor. A quinta edição do Barômetro da Infraestrutura Brasileira, como o levantamento é chamado, ouviu 175 executivos entre os dias 15 e 29 de março.
Para 2022, a avaliação otimista diminuiu de 55,6% para 34,9%. Pessimismo subiu de 9,9% para 22,3%
Na comparação com a sondagem anterior, feita em setembro, aumentou de 26,1% para 43,4% a proporção daqueles que se declaram “pessimistas” com o crescimento da economia nos seis meses seguintes e caiu de 30,3% para 17,7% a fatia dos ditos “otimistas”. O restante – 43% antes e 38,3% – vê perspectiva “estável”.
Para 2022, a avaliação otimista diminuiu de 55,6% para 34,9%. O percentual dos pessimistas subiu de 9,9% para 22,3%. Entre setembro do ano passado e março deste ano, o grupo daqueles que enxergam um cenário de estabilidade saltou de 31,7% para 41,7%.
“No segundo semestre de 2020, percebia-se otimismo – e até certa euforia – de que o pior já havia passado. Nos últimos meses, vimos a desconfiança voltar e houve deterioração das expectativas entre os agentes privados do setor”, afirma o diretor-executivo para setor público e infraestrutura da EY Brasil, Gustavo Gusmão.
O presidente da Abdib, Venilton Tadini, ressalta o momento em que as entrevistas foram realizadas. Na segunda quinzena de março, episódios como a troca de comando na Petrobras e no Banco do Brasil, além de declarações do presidente Jair Bolsonaro de que iria “meter o dedo” nas tarifas de energia elétrica, reacenderam temores de maior intervenção estatal. Também houve o impacto, segundo ele, de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo a Lava-Jato e a reabilitação dos direitos políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“A lição é que, quando o Judiciário surpreende e o Executivo sinaliza eventuais intervenções, o ambiente de negócios se deteriora.”
De lá para cá, diz Tadini, houve o “golaço” dos leilões da Infra Week: 22 aeroportos, cinco terminais portuários e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol). Matérias legislativas de interesse do setor – o novo marco legal do gás, a nova Lei de Falências e a nova Lei de Licitações – chegaram a um desfecho positivo. No entanto, o impasse sobre o Orçamento Geral da União de 2021 continua e há incertezas sobre a situação fiscal. “Temos uma armadilha, imposta pelo Teto de Gastos, que impede políticas públicas facilitadoras da retomada do crescimento”, nota o executivo.
O crescimento do número de mortes por covid-19 e o baixo ritmo da vacinação, prejudicam as avaliações. A pesquisa mostra que os executivos têm uma imagem mais negativa da condução da pandemia pelo presidente Jair Bolsonaro do que por governadores.
Para 88,8% deles, o desempenho do governo federal no combate à crise sanitária tem sido ruim ou péssimo. Outros 13,7% consideram regular. Só 6,3% dizem que a gestão é boa ou ótima.
A condução da pandemia pelos governos estaduais foi considerada ruim ou péssima por 32,6% dos entrevistados. O desempenho é tido como regular para 45,1%. Outros 21,7% acham a gestão boa.
Para enfrentar um período “absolutamente difícil” do ponto de vista macroeconômico, o presidente da Abdib defende mais investimentos públicos. “Já vimos que não basta ter taxas de juros menores para destravar o crescimento. Ninguém consegue fazer ajuste fiscal em uma recessão continuada e, neste momento, o gasto do Estado é fundamental.”
Embora elogiando muito as concessões e enfatizando que projetos bem estruturados despertam o apetite do mercado, como ficou demonstrado na Infra Week, Tadini toma o exemplo das rodovias para ilustrar como a participação da iniciativa privada tem limites. Boa parte das estradas com potencial de rentabilidade já foi leiloada, mas 85% da malha rodoviária federal pavimentada ainda é administrada pela União. “No entanto, o orçamento do Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes] foi de quase R$ 20 bilhões para cerca de R$ 4 bilhões.”
A sondagem da Abdib e da EY questionou os executivos se eles viam a possibilidade de recuperação da economia por meio do aumento de investimentos enquanto permanecem os efeitos e as incertezas da pandemia. Para 48,6% dos ouvidos, não é possível ou é muito difícil retomar investimentos sem a pandemia controlada. Os 51,4% restantes acham possível, de forma significativa ou marginalmente.