Artigo – Empresas estão na UTI

Artigo de Francisco Christovam, conselheiro da NTU
Foto: Matheus Felipe/Ilustração

Existem várias maneiras ou artifícios para contar uma história ou mesmo para relatar uma situação. A paródia e a metáfora são figuras de linguagem que podem muito bem ajudar nesse propósito.

Usando, então, a metáfora, pode-se dizer que as empresas operadoras de transporte coletivo de passageiros também foram contaminadas pelo coronavírus e, quase todas, se tornaram pacientes de alto risco. Isso mesmo, as empresas de transporte foram impactadas pelo vírus e precisam de tratamento como se fossem portadoras de uma doença muito grave.

Desde março do ano passado, quando começou o período da pandemia, as empresas/pacientes passaram a lidar com situações inéditas e a trabalhar com medidas sanitárias e de higienização, como nunca haviam feito antes.

Dentre outras surpresas que apareceram, o afastamento social e as várias ações propostas para se evitar aglomerações provocaram enormes danos à saúde financeira na maioria das pacientes. Os primeiros sintomas da contaminação já indicavam que aquelas, portadoras de algum tipo de comorbidade empresarial, enfrentariam dias muito difíceis.

Muito antes de surgir uma nova cepa do vírus, com o agravamento da doença, algumas delas começaram a dar sinais de que a situação provocada pelo coronavírus havia superado a sua capacidade de reagir sem uma medicação apropriada. O nível da temperatura e da oxigenação de seus órgãos mais importantes se tornou preocupante e passou a indicar a necessidade de cuidados muito especiais.

Tratamento precoce e medidas paliativas não estavam mais sendo eficazes e a medicação caseira, então, não permitia que as mais enfermas pudessem cuidar do seu dia a dia, da forma como sempre fizeram. Em alguns poucos casos, operações de emergência permitiram ajustes e mudanças de tratamento e de postura que possibilitaram uma razoável recuperação das moribundas e o prolongamento da sua existência. Entretanto, na maioria dos casos, o seu estado de saúde indicava necessidade de cuidados intensivos ou, lamentavelmente, a sua morte por asfixia.

O anúncio de que haveria uma injeção na veia de insumos provenientes do Governo Federal trouxe novas esperanças, num primeiro momento; porém, acabou se tornando uma grande frustação, quando as mais debilitadas se deram conta que tudo não passava de um “sonho de noite de verão”. Boa parte delas, em diferentes estágios de contaminação, ficou com “inveja” de suas congêneres americanas, que foram assistidas pelo governo com medidas curativas que vieram para, definitivamente, tirá-las da situação periclitante em que também se encontravam.

Em várias cidades brasileiras, as mais combalidas não resistiram e encerraram suas atividades. Outras, mesmo estando na UTI, em estado grave, continuam ainda lutando com todas as forças para se manterem vivas e sempre acreditando que alguma nova vacina ou algum outro remédio possam surgir, em futuro bem próximo.

Em alguns locais, houve tratamento de choque e foram usadas armas que a medicina não recomenda, tais como a retirada do pouco oxigênio fornecido às enfermas em estado crítico, o uso do poder judiciário para indicar remédio alternativo e até intervenção direta no seu processo vital.

As entidades de classe nunca desistiram e continuam buscando algum tipo de alívio para superar a situação vigente e combater as variantes virais que possam surgir no curto prazo. Porém, todas têm a mais absoluta consciência que, sem um tratamento específico, rápido e eficaz, utilizando medicamento potente e eficiente, mais pacientes serão internadas na UTI e, muito provavelmente, boa parte delas não sobreviverá.

A moral dessa história é que as empresas de transporte de passageiros, acometidas pelo coronavírus, não têm mais muito tempo de vida sem um remédio forte, que possa resolver os problemas atuais de maneira contundente e definitiva. Todas elas necessitam de atenção e tratamento de emergência, com vacina de amplo espectro, de maneira a assegurar a sobrevivência e a permanência de cada uma no seu local de atuação.

Francisco Christovam é especialista em transporte e membro do Conselho Diretor da NTU.

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