O que esperar do futuro da General Motors no país

Do Valor Econômico
Foto: Auto Esporte

A GM do Brasil surpreendeu o mercado na semana passada ao anunciar que os planos globais de eletrificação da matriz serão aplicados por aqui, provocando o fim da produção de carros a combustão no país até 2035.

Normalmente, as políticas globais de mobilidade elétrica das grandes empresas são ajustadas para cada região, considerando limitações de investimento, linhas de montagem e até valor médio dos veículos novos. Por isso, a surpresa da GM em oferecer só carros elétricos, que ainda têm valor elevado no Brasil, até 2035.

Outras empresas vêm buscando alternativas mais baratas e também sustentáveis para reduzir suas emissões em países desenvolvidos. No Brasil, entre os caminhos analisados está o uso de hidrogênio a partir do etanol (Nissan), híbridos flex (Toyota) e até a volta de carros movidos apenas com etanol (FCA).

Para se ter uma ideia do impacto da decisão, essa política implica que a GM busque alternativas elétricas para modelos que vão do compacto Onix até o enorme Trailblazer, passando pelo esportivo Camaro. Ou, ainda, uma opção mais drástica: encerrar a produção de veículos no Brasil, seguindo o caminho da Ford.

A GM não comentou sobre seus planos detalhados para o Brasil, mas é certo que a gama de veículos elétricos da Chevrolet por aqui deve crescer: atualmente, a empresa oferece apenas o Bolt, por altos R$ 260.790.

Considerando que o hatch é o elétrico mais barato da GM também nos Estados Unidos, a melhor alternativa para oferecer um modelo eletrificado por um valor mais atraente seria montá-lo no Brasil – ou trazê-lo do México e Argentina, para evitar os 35% de Imposto de Importação.

E este é o maior problema da GM por aqui. O Brasil nunca fabricou um veículo elétrico em série, tendo tido apenas experimentos pontuais que começaram com a Gurgel e culminaram na montagem de algumas unidades do Renault Twizy no Paraná. A produção nacional também exigiria investimentos pesados nas fábricas de São José dos Campos (SP), Gravataí (RS) e São Caetano do Sul (SP).

A cadeia de fornecedores seria outro problema, já que a maioria dos componentes do trem de força dos elétricos é importada, incluindo a caríssima bateria de íon-lítio. Por conta dos valores envolvidos, a nacionalização dessas peças só seria possível em um trabalho conjunto com o governo, instituições de pesquisa e desenvolvimento, faculdades e empresas.

Mary Barra, CEO global da GM, já havia anunciado um investimento massivo de R$ 146 bilhões nos próximos cinco anos em veículos elétricos e autônomos. Não se sabe ainda, porém, quanto desse dinheiro será aplicado no Brasil.

Uma má notícia para os brasileiros está nos poucos detalhes dos planos eletrificados da GM. Barra afirmou que a empresa irá produzir veículos elétricos com preço abaixo de 30 mil dólares até os 100 mil dólares. Deixando a conversão de lado, isso significa que haverá produtos mais baratos que o Bolt, mas não muito: nos EUA o elétrico custa US$ 36 mil.

Ou seja, mesmo nos Estados Unidos isso significa que a marca irá abrir mão do segmento de entrada, composto por uma gama que vai do Spark até o enorme Traverse, SUV posicionado acima do Equinox. Parte da explicação para isso pode ser emprestada do anúncio de reestruturação da Renault: fazer carros baratos dá menos lucro e exige um volume maior de produção.

Mesmo altamente nacionalizado, um hipotético Onix ou Spin elétricos seriam muito caros para serem lucrativos. Até mesmo o Tracker, terceiro SUV compacto mais vendido do Brasil em 2020, teria seu futuro posto em cheque. Ao subir de preço, o modelo passaria a disputar mercado com modelos maiores e mais refinados, como as versões híbridas do Jeep Compass e Volkswagen Tiguan.

O caminho mais provável para a GM no Brasil seria abandonar o segmento abaixo dos R$ 100 mil e focar em nichos e faixas superiores dos SUVs. A montagem local do sucessor do Equinox seria uma alternativa, caso a marca conseguisse encontrar mercado suficiente para o SUV elétrico na América Latina.

Menos claro é o futuro da S10. A GM até desenvolve uma picape elétrica, mas ela é baseada na enorme Silverado, que no Brasil disputaria o pequeno segmento da RAM 1500. Aplicar um trem de força elétrico na S10 demanda um delicado equilíbrio entre autonomia e capacidade de carga, já que as baterias de um carro podem pesar mais de 700 kg. Atualmente esse segmento tem apenas uma representante no Brasil, a JAC iEV330P. Focada para uso comercial, a picape chinesa tem preço sugerido de altíssimos R$ 289.900.

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