Estou cheio, estou vazio: Novas tecnologias adotadas em resposta à pandemia avisam sobre lotação nos ônibus

Da Revista NTU Urbano (Via NTU)
Foto: Reprodução (INBus / Via Revista NTU Urbano – NTU)

Além dos protocolos de higienização e atendimento ao passageiro para evitar a transmissão da Covid-19, uma série de outras ações tiveram que ser tomadas durante a pandemia para manter o sistema de transporte público coletivo em operação com mais segurança para a saúde de quem trabalha e usa esse serviço. Entre elas, novas tecnologias que podem alertar sobre aglomerações nos ônibus coletivos.

Foi a necessidade de melhorar o distanciamento social entre os passageiros que levou à aplicação da tecnologia INbus nos ônibus coletivos urbanos da Grande Vitória, no Espírito Santo. A solução fornece informações como a indicação da lotação dos ônibus, horário das viagens e imagens do interior do coletivo diretamente ao aplicativo ÔnibusGV do sistema Transcol, usado por mais de 300 mil passageiros.

Lançada no final de setembro em uma live com vários atores do setor de transporte público, a tecnologia INBus é vista pelo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, como uma solução inovadora que traz dignidade para quem usa o transporte coletivo. Ele destacou que a pandemia exigiu a continuação de investimentos no setor, com novas condutas. “O nosso desejo aqui é sempre melhorar a vida de quem utiliza o transporte público. Nós queremos que ele possa atrair passageiros para a gente retirar automóveis de circulação, melhorar a circulação na região metropolitana e, para isso, ofertar um serviço de qualidade”, explicou durante a live.

Como funciona? O INbus é implantado dentro do ônibus em um computador embarcado com uma câmera acoplada e sinal 4G. O sistema capta, a cada minuto, as imagens do interior do ônibus e as transmite aos servidores do sistema. A partir da análise das imagens, o software do sistema classifica a ocupação do ônibus como baixa lotação, média ocupação ou lotado. O equipamento funciona conectado à internet com um pacote de dados que também pode ser usado para ofertar o compartilhamento de internet gratuita dentro dos ônibus.

Outro fator importante é a transformação destes dados de classificação de lotação em relatórios para as equipes de planejamento estudarem a demanda de cada linha por viagem/horário e ajustarem a frota decidindo o momento exato de disponibilizar ou reduzir carros naquela operação.

“O INbus surgiu em um processo de necessidade de planejamento durante a pandemia, quando os usuários precisavam de informações mais precisas para embarcar no ônibus. Agora o passageiro tem não só a informação do horário em tempo real do ônibus mas também se o ônibus está cheio ou vazio para planejar melhor a viagem”, explica o secretário de Mobilidade e Infraestrutura do Espírito Santo, Fábio Damasceno.

Para ver as informações no aplicativo ÔnibusGV, o usuário deve clicar no mapa da cidade e escolher um ponto de parada. A app mostra então todas as linhas de ônibus que passam naquele lugar, com a indicação da lotação e imagens do interior do veículo. Assim, o passageiro pode escolher a melhor opção e ir ao ponto no horário certo, evitando a aglomeração de pessoas tanto dentro quanto fora dos veículos.

“No horário de maior movimentação dificilmente se consegue controlar toda a lotação de um veículo. Então essa é uma informação a mais que a gente dá ao passageiro, para ter segurança agora na pandemia e qualidade no pós-pandemia. Isso é muito bom para o planejamento do governo e das empresas”, destaca o governador.

O desafio de desenvolver uma funcionalidade inédita na América Latina foi realizado pela empresa de tecnologia Geocontrol durante o período de crescimento da pandemia no país. “Essa foi a solução que nós conseguimos desenvolver para ajudar e trazer conforto ao passageiro no sentido de ele ter informação. Antes ele tinha o tempo dos ônibus, mas não sabia se o veículo estava lotado ou não. Agora o passageiro consegue pegar o ônibus mais vazio, com conforto e segurança”, destaca o diretor comercial da Geocontrol, Rogério Tristão.

Na apresentação do INbus, o diretor-presidente da Companhia Estadual de Transportes Coletivos de Passageiros do Estado do Espírito Santo (CETURB-ES) destacou o desenvolvimento do transporte público com o investimento em tecnologias. “Eu tenho certeza que com esse banco de dados que nós vamos usufruir vamos poder planejar melhor o sistema, podendo fazer intervenções na linha para melhorar o serviço prestado ao cidadão. A eficiência no sistema é a palavra-chave além da inovação”.

Os testes da nova solução começaram em agosto, com cinco ônibus; com o sucesso da funcionalidade, outros 25 veículos receberam a tecnologia entre setembro e outubro. Até o final do ano serão mais de mil ônibus com o sistema INbus, que estará em toda a frota até junho do ano que vem. O governo espera que o retorno gradativo dos passageiros ao sistema aumente ainda mais com a adesão à nova funcionalidade. Sobre os custos, o secretário afirma que a tecnologia é bastante acessível às empresas e está dentro do orçamento do sistema de transporte.

Além da função de indicador de lotação, pelo aplicativo ÔnibusGV o usuário também pode acessar outras informações como o itinerário das linhas, Wi-fi, ônibus com ar-condicionado e acessibilidade, fazer cadastro e recarga do CartãoGV e também acessar a um botão de denúncia de passageiros que não estejam usando máscara.

Tecnologia na gestão do transporte: Os dados captados e transmitidos pelo INbus não auxiliam apenas os passageiros, mas possibilitam melhorar a gestão de todo o sistema e traçar novas estratégias para o setor. “Do ponto de vista do usuário é uma grande ferramenta onde ele pode escolher como quer circular no transporte público. No ponto de vista do gestor, nós conseguimos saber em tempo real e com planejamento quais linhas estão lotadas, quais estão cheias. Então, economizamos mão de obra, material rodante, combustível, e atendemos melhor a população”, enfatiza Damasceno.

O presidente da Divisão América Latina da União Internacional de Transportes Públicos (UITP), Jurandir Fernandes, que também participou da live, lembrou outro problema do transporte público que o INbus ajuda a resolver, a questão da segurança dentro dos ônibus. “Há uma medida adicional que é a segurança que esse mecanismo está dando. Inibe maus comportamentos, inibe assédio. Esse será, sem duvida, um fator de inibição para esse tipo de comportamento”.

Para diminuir os efeitos da pandemia o governo capixaba traçou ainda mais de 40 medidas de enfrentamento à Covid-19 no transporte público. Além das câmeras com sensores de aglomeração, adotou também a retirada do dinheiro a bordo com acesso ao sistema somente pelo Cartão GV, além da desinfecção diária dos ônibus e instalação de pontos de álcool gel 70º nos terminais.

Contador de passageiros: O desafio da gestão de passageiros no transporte público inspirou também a solução desenvolvida pela startup Milênio Bus: o contador de passageiros. Uma tecnologia também capaz de informar em tempo real a localização dos ônibus e se o veículo está cheio ou vazio. Sendo assim, o usuário do transporte público consegue saber quanto tempo falta para chegar o ônibus e se vai viajar sentado ou em pé.

“A ideia surgiu em um hackathon, quando pensamos que poderia existir uma maneira de identificar se os ônibus estão cheios ou vazios. Então pensamos no contador de passageiros, que traria dados estratégicos de quantas pessoas estaria dentro dos ônibus e, com isso, levar mais inteligência para as empresas tomarem decisões”, explica o Co-Founder & Chief Technology Officer da Milênio Bus, Marcel Ogando.

A solução levou a startup a ser uma das seis finalistas do 1º. Desafio do Programa COLETIVO de inovação em mobilidade urbana, promovido pela NTU em 2019. E, ao ganhar a 1ª Hackathona Metropolitana, promovida pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU/SP) e pela Concessionária Metra, a startup pôde testar um protótipo do projeto em um ônibus da concessionária e depois comercializá-lo.

A Milênio Bus desenvolveu um hardware e uma plataforma que trabalha com tecnologias de Internet of Things (IoT), inteligência artificial e visão computacional para realizar a contagem do fluxo de pessoas nos veículos. O hardware é instalado no interior do ônibus e ligado à central eletrônica do veículo, identificando em tempo real a quantidade de passageiros que embarcam e desembarcam do ônibus.

Os dados obtidos alimentam a plataforma, que permite aos gestores entender o deslocamento das pessoas e, além disso, criar estratégias para reduzir ou aumentar o uso de veículos. A própria plataforma gera um sistema de roteirização, mapa de calor e um dashboard completo. Essas informações são enviadas ao aplicativo dos usuários para que eles possam tomar a decisão de embarcar em um veículo cheio ou esperar o próximo ônibus, trazendo assim um nivelamento da demanda de passageiros no transporte público.

Atualmente, a Milênio trabalha com dois modelos de contador de passageiros. O primeiro é feito por câmeras instaladas em pontos estratégicos no interior do ônibus e um GPS que possibilitam a contagem dos passageiros e a localização de onde eles embarcaram ou desembarcaram. A outra tecnologia faz a contagem de pessoas pela quantidade de smartphones dentro do veículo. Com um equipamento instalado no meio do ônibus, quando o usuário procura por sinal de wi-fi ou simplesmente está com o bluetooth ligado, a inteligência artificial consegue identificá-lo e obter os dados necessários.

O gerenciamento das informações sobre a frota é feito pelo gestor ou operador do transporte na plataforma desenvolvida pela startup, que conta ainda com relatórios das viagens feitas, condições climáticas, situação em tempo real dos veículos e outras funcionalidades.

“Nós fazemos muitos estudos porque a empresa de ônibus ou órgão gestor quer entender a demanda e para isso outros fatores que vão além da contagem de passageiros são importantes. No começo da pandemia a gente identificou a queda da demanda antes mesmo das notícias e notificamos as empresas”.

A tecnologia ainda avisa aos operadores quando o ônibus apresenta falhas mecânicas e elétricas ou precisa de manutenções periódicas. O custo da inovação é calculado pelo número de ônibus de cada frota atendida e o tempo de contrato com a empresa. A mensalidade varia entre R$ 80 e R$ 150 por dispositivo instalado em cada veículo.

A startup tem projetos com a montadora Mercedes-Benz, Petrobras, Netz, com o governo de Minas Gerais para mapear a demanda em ônibus escolares da região e já testou a tecnologia nos trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Eles ainda estão participando de um projeto de Smart Cities em Kuala Lumpur, capital da Malásia, desenvolvendo um aplicativo multimodal para ônibus públicos.

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