Do Valor Econômico
Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil – Ilustração/Fotos Públicas
O mercado global de cidades inteligentes, estimado em US$ 410,8 bilhões, deve dobrar de tamanho nos próximos cinco anos, chegando a US$ 820,7 bilhões em 2025, projeta a consultoria Market and Markets. Boa parte dos investimentos na área serão destinados a melhorias na mobilidade de pessoas e objetos, abrangendo da vigilância do trânsito ao compartilhamento de veículos conectados, da gestão do transporte público à logística do transporte de carga, entre outros aspectos. A tendência abre diversas oportunidades para as empresas de base tecnológica que desenvolvem redes de Internet das Coisas (IoT).
No Brasil, a IoT terá papel relevante na execução dos Planos de Mobilidade Urbana (PMU). O instrumento de planejamento previsto em lei desde 2012 é requisito para os municípios receberem recursos da União destinados à área. Contudo, muitas prefeituras ainda não fizeram o dever de casa. Em maio o governo alterou a data-limite de finalização, que era 2019, para 12 de abril de 2023 no caso de cidades com 20 mil a 250 mil habitantes. Para as cidades de população maior, o prazo é 12 de abril de 2022. Os municípios turísticos e os de regiões metropolitanas também precisam produzir o plano.
“Muitas startups de transporte e logística têm surgido, mas a infraestrutura das cidades ainda é precária”, comenta o presidente da Associação Brasileira de Internet das Coisas (Abinc), Paulo José Spaccaquerche. Ele aponta quatro tendências de evolução tecnológica: ampla utilização da computação em nuvem; combinação de redes mais flexíveis; adoção da rede 5G, com a construção de infraestruturas privadas, e novos modelos de negócio baseados em “e-hailing”, a oferta de transporte compartilhado. “A IoT propicia a busca de soluções de sustentabilidade para os Objetivos do Milênio da ONU”, acrescenta.
Nessa linha, uma empresa inovadora é a Fretadão, criada em 2014 em São Paulo por três desenvolvedores de tecnologia que sofriam com os atrasos dos ônibus fretados. Seu negócio é usar IoT para rastreamento, controle de acesso e de escala dos veículos. Isso permite definir as melhores rotas com base na origem e destino dos usuários, além de oferecer informações em tempo real aos passageiros. O resultado é a redução média de 20% nos custos operacionais. “Quando o cliente opta por compartilhar os assentos do fretado com outras empresas, pode ter até 40% de economia”, diz um dos sócios, Antônio Carlos Gonçalves.
Presente em oito estados, a Fretadão conta com 411 ônibus fretados que transportam diariamente 8,3 mil passageiros de 36 empresas, entre elas Heineken, Ambev, Decolar e Dafiti. A startup movimenta R$ 30 milhões por mês e projeta chegar a R$ 150 milhões em 2021. Seus sócios reivindicam que a legislação seja flexibilizada, de modo a permitir que o fretado se torne uma opção de parceria privada com o sistema de transporte público. Gonçalves vislumbra que em dez anos a IoT vai viabilizar uma manutenção preditiva mais inteligente das frotas. “Imagino um futuro em que meu equipamento se conecte com a garagem para preparar a logística de abastecimento, por exemplo”, diz o empreendedor.
Outra startup inovadora em mobilidade é a Turbi, fundada em 2017. A empresa desenvolveu um sistema digital que viabiliza o aluguel de carros inteiramente por aplicativo, com apenas quatro cliques. Sua frota de 1,7 mil veículos está distribuída em 300 estacionamentos 24 horas na região metropolitana de São Paulo. “De início, usávamos tecnologia alemã de IoT, mas desenvolvemos solução própria”, conta um dos sócios, Márcio Pedrozo. “Com isso, reduzimos os custos em 95% e melhoramos em 52% os indicadores operacionais”. O uso de inteligência artificial permitiu à startup escalar a operação, ao viabilizar a análise de milhares de fotos para retirada e vistoria dos carros sem interferência humana.
Criada em 2017 em São Leopoldo (RS), a Ayga Tecnologia desenvolve hardware e software para conexão, localização e monitoramento de ativos de grandes clientes industriais como Metalfrio, Randon e Marcopolo. Há um ano a startup recebeu aporte do fundo de investimento Meta Ventures. Um dos principais protocolos de comunicação utilizados pela Ayga é o LPWAN (acrônimo em inglês para rede de longa distância de baixa potência), que amplia muito a vida útil das baterias. “A IoT profissional foi viabilizada pela microeletrônica, que tornou tecnicamente viável colar os dispositivos nos ativos”, explica seu fundador Luiz Gerbase. A empresa tem sido procurada para monitorar a distribuição de vacina.