Do Valor Econômico
Foto: Douglas de Souza Melo/Ilustração
A fabricante chinesa BYD está retomando sua capacidade produtiva de módulos para geração solar fotovoltaica no Brasil, depois de ter realizado um “recuo estratégico” entre o fim de 2019 e o início deste ano.
A unidade industrial de Campinas (SP) voltará a operar em dois turnos no primeiro trimestre de 2021, dobrando a capacidade atual, de 125 megawatts (MW) por ano, para 250 MW. Até junho, a companhia prevê retornar à produção de 400 MW anuais, em três turnos, mesma capacidade que ela operava quando foi inaugurada, em 2017. Para isso, serão contratadas 500 pessoas.
O plano de retomada vem com a melhora do ambiente de negócios, após a eliminação de dois fatores de risco que, segundo a BYD, vinham afetando a fabricação nacional: a pandemia da covid-19 e o imbróglio dos “ex-tarifários” para importação de módulos.
“Fizemos um recuo estratégico neste ano não somente por causa da covid-19 – esse tema até impactou menos -, mas principalmente pela instabilidade regulatória que vivíamos. Foram expedidos vários ex-tarifários ilegais, o que gerou uma briga muito grande no setor”, afirma o diretor de Marketing e Sustentabilidade da BYD, Adalberto Maluf.
O executivo se refere à isenção temporária de imposto de importação concedida pelo governo federal para vários modelos de painéis solares, medida que causou uma confusão no setor e opôs geradores e fabricantes nacionais.
Entre empresas que desenvolvem e operam parques solares, o “ex-tarifário” foi inicialmente comemorado, mas se tornou um problema na prática. Grandes geradores, como a Enel Green Power, chegaram a entrar na Justiça defendendo que o benefício havia se tornado ineficaz por novas resoluções da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Já do lado da indústria nacional, a isenção de imposto foi criticada desde o início, sob a justificativa de que produzia distorção injusta e minava a competitividade do bem nacional ante o importado.
Maluf afirma que o governo “assumiu o erro” e esclareceu ao mercado os critérios para o benefício, o que deu transparência ao tema. Além disso, foram equacionados dois outros pontos que, segundo ele, penalizavam a indústria: o imposto de importação e PIS/Cofins cobrados sobre os insumos para produção dos painéis. “Com isso, resolvemos entregar esse plano [de retomada da produção]”.
Já no caso da pandemia, a companhia viu forte queda na entrada de pedidos durante abril e maio, mas a recuperação se iniciou no mês de junho. Neste segundo semestre, suas vendas de painéis registram aumento de 40%, puxadas pela demanda de usinas de geração distribuída fotovoltaica para o agronegócio.
O aquecimento das vendas reflete a fonte expansão da energia solar pelo país. Em novembro, a fonte alcançou a marca de 7 gigawatts (GW) de capacidade instalada, um crescimento de mais de 53% ante o observado no fim de 2019, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Dos 7 GW, mais da metade se refere à “geração distribuída”, usinas de pequeno porte construídas no centro de carga ou próximas dele.
No futuro, a BYD tem planos de construir no Brasil uma fábrica de células solares, responsáveis pela conversão da radiação para a energia elétrica. Hoje, esse componente é importado da China e acoplado ao painel na montagem em Campinas.
“Nossa estratégia de sobrevivência e competitividade, para que nossa fábrica vire um ‘hub’ da América Latina, é produzir células localmente. Mas para isso preciso de, pelo menos, 500 MW garantidos por ano. Nossa meta era erguer essa unidade até 2022, mas ainda estamos aguardando”, afirma Maluf.
Com mais de 30 fábricas pelo mundo, a BYD é uma das maiores empresas do segmento de baterias de lítio-ferro e veículos elétricos e plug-in. No Brasil, abriu em 2015 sua primeira fábrica, para produção de chassis de ônibus elétricos. Em 2017, inaugurou a fábrica de módulos fotovoltaicos e, neste ano, iniciou a operação de sua terceira unidade fabril, em Manaus, para a produção de baterias.