Da NTU
Foto: Edvan Júnior/Ilustração/Arquivo
Novo sistema de pagamento instantâneo do Banco Central, o PIX, que será lançado em novembro, promete uma revolução nos meios de pagamento brasileiros. Até lá, os aplicativos bancários dos maiores bancos brasileiros estarão adequados para realizar pagamentos por esse sistema, inclusive por meio de QR Code. E o transporte público coletivo urbano também será beneficiado, segundo Aloisio Barros, gerente nacional da Fábrica de Cartões e Meios de Pagamento da Caixa Econômica Federal (CEF)
Sem custo para transferir e receber recursos entre pessoas físicas, o PIX ainda nem estreou, mas já gera enorme expectativa no mercado financeiro, especialmente por ser bastante competitivo. Além disso, leva vantagem na disputa com o segmento de transferências entre contas, como TED e DOC, e com os meios de pagamento do tipo cartões de crédito, débito e pré-pago. Para Aloisio Barros, o cenário é o mesmo da época em que os cartões chegaram para competir com o cheque.
Há 30 anos na Caixa e profundo conhecedor de meios de pagamento, Aloisio vislumbra uma concorrência saudável, onde após o primeiro impacto do PIX os concorrentes também se aprimorem. Segundo ele, o sistema de pagamento instantâneo do Bacen poderá ser adotado por todos os segmentos econômicos, incluindo o transporte público. Aloísio explica que o recebimento instantâneo dos valores da bilhetagem e a redução dos custos de venda para as operadoras são as principais vantagens desse sistema para o setor de transporte coletivo urbano.
Responsável pelo desenvolvimento e implantação do cartão de débito virtual no aplicativo Caixa Tem, para uso digital de milhões de beneficiários do auxílio emergencial, ele antecipa que a expectativa é não haver custo para o cliente pessoa física (passageiro), com o uso do PIX, seja nas transferências ou nos pagamentos. O mesmo não vale para o operador. Aloisio revela que deve haver custo, mas espera-se que seja inferior aos praticados atualmente pelos arranjos de cartões de crédito, débito e pré-pagos. Segundo ele, a redução de custos motivada pela competição é uma das intenções do Bacen com a implantação do PIX.
Confira a íntegra da entrevista
Com a previsão de ser lançado oficialmente em novembro deste ano, o que é e como funciona o PIX, novo sistema de pagamento instantâneo brasileiro?
PIX é a denominação do novo arranjo de pagamento, instituído pelo Banco Central do Brasil, também conhecido como Sistema de Pagamento Instantâneo (SPI). Um arranjo de pagamento é o conjunto de normas e procedimentos que disciplina a prestação de serviço de pagamento. Isso ocorre quando utilizamos o cartão de crédito ou débito no comércio ou na internet. Nesse caso, estamos realizando uma operação dentro de um arranjo de pagamento, normatizado por uma bandeira (Visa, Mastercard, Elo, etc.), aprovado pelo Banco Central (Bacen), com regras e padrões que permitem ao cliente, ao comércio, credenciadoras e aos bancos participarem desse ecossistema, facilitando a compra e o recebimento. É o que possibilita que um cartão de crédito internacional, emitido no Brasil, seja aceito em restaurantes nos EUA, Tailândia ou Japão. Assim, o PIX é um arranjo de pagamento, mas diferente daqueles instituídos pelas bandeiras de cartões de débito, crédito e pré-pago. Por esse motivo dizemos que o PIX é um novo meio de pagamento.
“Com relação ao custo, apesar de não normatizado, o Banco Central (Bacen) tem estimulado os participantes desse novo arranjo a não cobrarem pelas transferências entre pessoas físicas”.
Quais as diferenças entre o PIX e os pagamentos com cartões de crédito, débito ou pré-pago?
São muitas as diferenças e que vêm causando tanta expectativa sobre a implantação desse novo sistema de pagamento. Com o PIX, será possível transferir e receber recursos entre pessoas físicas, instantaneamente, e sem custo, independentemente do dia ou hora. Por exemplo, nos arranjos de pagamento com cartões de crédito, débito e pré-pago esses prazos variam de 2 dias (débito) a 27 dias (crédito) para o estabelecimento receber o valor da venda após a operação, mas com o PIX isso será instantâneo, permitindo que o destinatário receba o recurso em segundos. Esse aspecto do PIX atrai o interesse dos supermercadistas, marketplaces, redes de franquias e, claro, operadoras de transporte e bilhetagem. Outra diferença marcante é a disponibilidade. O PIX permitirá a realização de transferências entre contas de bancos diferentes, por exemplo, na madrugada de domingo. Com relação ao custo, apesar de não normatizado, o Banco Central (Bacen) tem estimulado os participantes desse novo arranjo a não cobrarem pelas transferências entre pessoas físicas. No caso da transferência para uma pessoa jurídica ou entre pessoas jurídicas a taxa poderá ser cobrada, mas não como ocorre no uso de cartões – MDR – Merchant Descount Rate. Haverá sim, uma tarifa fixa e de baixo custo, seja qual for o valor da transação, sendo que essa tarifação estipulada pelas instituições participantes será monitorada pelo Bacen.
O PIX pode ser adotado por qualquer segmento econômico, incluindo empresas de bilhetagem e operadoras do transporte público?
Sim, esperamos que seja adotado por todas as empresas. Mas é importante esclarecer que o PIX não objetiva substituir os pagamentos com cheques ou com cartões de crédito, débito e pré-pagos. O Bacen quer aumentar a competividade e ampliar as alternativas de meios de pagamento, visando a evolução tecnológica e a redução de custos para o sistema. Um exemplo disso é o cheque, que apesar da imensa redução do uso ao longo dos anos, ainda tem espaço no comércio. O PIX chega para disputar com o segmento de transferências entre contas, como TED e DOC, e com os meios de pagamento por meio de cartões (crédito, débito e pré-pago), tal qual ocorreu com os cartões em relação ao cheque, no passado. Este era o meio de pagamento preferencial na década de 1990 e atualmente é quase impossível presenciar alguém pagando uma conta de restaurante ou compra no supermercado com cheque. A ideia é que cada cliente ou empresário avalie o meio de transferência ou de pagamento que melhor atende à sua necessidade ou negócio. Espera-se a aceitação de ambos, quando o PIX for lançado.
Quais serão as vantagens para as empresas operadoras de transporte?
Entendo que as principais vantagens do PIX para essas empresas são o recebimento instantâneo da bilhetagem e a redução de custo de venda. O PIX é um meio de pagamento totalmente digital que também permitirá a redução dos custos com o tratamento do dinheiro em espécie. Receber e transportar dinheiro custa caro e agrega risco. Assim, a digitalização da venda de bilhete com o PIX, aliada ao baixo custo e liquidez, são fatores relevantes para as operadoras de transporte.
E quais são as vantagens para os passageiros? O PIX vai agilizar tempo de pagamento dentro do transporte público?
Para responder a essa pergunta, temos que primeiro identificar quem são esses passageiros. É importante observar que o PIX é um meio de pagamento digital, então requer que o passageiro tenha um computador ou smartphone, além da familiaridade com aplicativos e mobile banking. Outro aspecto importante é que o PIX pressupõe a existência de uma conta, seja ela corrente, poupança ou de pagamento. Assim, é previsível que o passageiro bancarizado e digital encontre no PIX novas formas eletrônicas para adquirir o bilhete de transporte. De outro modo, os passageiros não bancarizados e/ou não digitais não serão prejudicados, apenas não serão favorecidos pelo novo modelo de pagamento. Quanto às facilidades do pagamento embarcado, não vejo como o PIX possa superar os pagamentos por aproximação (Contactless), já disponíveis em várias operadoras de transportes, pois ambos os sistemas são instantâneos e ininterruptos.
O transporte público tem particularidades que outros serviços que vão utilizar o PIX não têm. Que características do PIX atendem melhor às peculiaridades do transporte coletivo urbano?
O transporte público brasileiro é caracterizado por reduzida margem de contribuição, baixo ticket médio, alto giro financeiro, pagamento descentralizado/embarcado, elevado índice de pagamento em dinheiro e uso massificado pelas classes C, D e E. Esse é um cenário desafiador quando pensamos na adoção de soluções digitais de meios de pagamento. No curto prazo, a aceitação do PIX como mais uma forma de venda de bilhetes, seja pelos portais na Internet ou por QR Code nas bilheterias, pode aumentar a rentabilidade da operação. No médio prazo, é necessário investir em campanhas para a digitalização dos usuários, principalmente para a venda antecipada de bilhetes por meio do PIX, mesmo que presencial e minutos antes do embarque. A exemplo das ações educacionais que os supermercados, marketplaces e varejo realizaram para divulgar e disseminar o uso do cartão de débito virtual da CAIXA e pagamento por QR Code, junto aos beneficiários do auxílio emergencial, as operadoras de transporte têm a oportunidade de incluir milhões de usuários no pagamento digital no segmento de mobilidade urbana e alterar a realidade atual.
Durante a pandemia, o uso do dinheiro passou a ser contraindicado. O PIX pode contribuir para tirar o dinheiro a bordo dos ônibus?
Sim, mas não imagino que isso ocorra no curto prazo. A redução no custo de venda, a liquidez e a pandemia da Covid-19 são incentivos para as operadoras de transporte adotarem também o PIX como meio de pagamento digital, e estimulem seus usuários a realizarem as compras dos bilhetes pelos canais eletrônicos. Da mesma forma, têm a oportunidade de auxiliar no processo de bancarização e digitalização daqueles que ainda não reúnem as condições para uso do PIX. O resultado será a diminuição do uso do dinheiro embarcado e mitigação dos riscos de contaminação, assaltos e custos.
Existe custo para o operador ou para o passageiro que usar o PIX?
Este é um segredo muito bem guardado e visto como um diferencial estratégico na captação de novos clientes e retenção dos atuais, principalmente no segmento de pessoas jurídicas. A expectativa é que não haja custo para o cliente pessoa física (passageiro), seja nas transferências ou nos pagamentos. Quanto ao operador, poderá ter um custo, mas espera-se que seja inferior aos praticados atualmente pelos arranjos de cartões de crédito, débito e pré-pagos. Mas, não podemos esquecer que a indústria de cartões pode (e imagina-se que fará) reprecificar seus serviços, mantendo seus produtos competitivos no segmento de meios de pagamento, além dos atrativos que já possuem – programa de pontos, aceitação internacional, pacotes de serviços, etc. A redução dos custos motivada pela competição é uma das intenções do Bacen com a implantação do PIX.
Qual o potencial de crescimento do PIX, na visão da CEF?
Acreditamos que nos próximos anos, o PIX e o Open Banking serão, para os meios de pagamento, o que a privatização do sistema Telebrás representou para o segmento de telefonia na década de 1990. Assim, o PIX será uma realidade crescente ao longo de 2021 e, juntamente com o Open Banking, promoverá uma revolução no que hoje conhecemos do segmento bancário e meios de pagamento. Para a Caixa, as oportunidades e desafios são igualmente enormes. O pagamento do auxílio emergencial e do saque emergencial do FGTS mostraram que a Caixa tem capacidade e competência para superar desafios hercúleos, principalmente na execução de políticas públicas do governo federal para os mais vulneráveis da nossa sociedade. Em poucas semanas disponibilizamos um aplicativo, o Caixa Tem, para dezenas de milhões de beneficiários e com novos métodos de pagamentos totalmente digitais, inclusive utilizados na compra de bilhetes de transporte, via internet.
ALOISIO CARNEIRO DE BARROS JÚNIOR é funcionário da CAIXA há mais de 30 anos, atualmente está como Gerente Nacional da Fábrica de Cartões e Meios de Pagamento. Coordenou o desenvolvimento e a implantação do Cartão de Débito Virtual no aplicativo CAIXA TEM, para uso digital pelos milhões de beneficiários do Auxílio emergencial.
Matéria publicada na revista NTUrbano Ed. 46 Julho/Agosto