Candidatos no Rio de Janeiro priorizam ônibus e BRTs

Do Mobilize Brasil
Foto: Divulgação/ Prefeitura

Equipe do Mobilize examina as propostas de mobilidade urbana dos candidatos e candidatas às prefeituras em algumas cidades do país. Começamos pela capital fluminense

Os cinco candidatos que lideram as pesquisas para a prefeitura do Rio de Janeiro trazem pontos em comum em seus planos para a mobilidade urbana, embora com abordagens diferentes, conforme a coloração ideológica de cada político. É o que mostra a análise realizada pela equipe do Mobilize com base nos programas registrados no TSE. Há, por exemplo um consenso sobre a necessidade de reestruturação dos sistemas de BRT (Bus Rapid Transit), assim como um silêncio sobre os teleféricos, paralisados há anos.

São eles: Eduardo Paes (DEM), com 30% das intenções de voto; Marcelo Crivella (Republicanos), 12%; Delegada Martha Rocha (PDT), 8%; Benedita da Silva (PT), 7%; e Renata Souza (PSOL) com 3% da preferência do eleitorado.

Para esta análise, o Mobilize adotou o critério de avaliar os programas oficiais dos seis primeiros nomes que despontam nas pesquisas do Ibope, de 15/10, e Datafolha, divulgada em 22/10. Vale observar ainda que o programa do candidato que aparece em primeiro lugar, Eduardo Paes, não foi registrado no site do TSE, onde consta apenas uma primeira versão preliminar, pouquíssimo detalhada.

BRT e Bilhete Único

Não à toa, os cinco candidatos defendem a reestruturação do sistemas de corredores de ônibus, o BRT. Desde o início das operações em 2012, o BRT tem recebido reclamações constantes dos usuários, e também ações na Justiça. A última, nesta semana, foi quando o Ministério Público determinou à empresa responsável pelo sistema do Transoeste a regularização das linhas, no prazo de 48 horas, e ainda garantias quanto à segurança dos usuários, limpeza e manutenção do sistema.

Além do péssimo serviço, que inclui carros quebrados e pistas esburacadas, as estações do BRT têm sofrido atos de vandalismo. Durante a pandemia, o corredor Transcarioca ficou sete meses parado e, mesmo inativo, teve uma das estações depredada. Outro problema são acidentes envolvendo pessoas, e também carros que invadem suas pistas: foram 100 acidentes desse tipo só em 2020, segundo o próprio consórcio BRT Rio divulgou na última terça-feira (20).

Outro ponto que aparece em todos os programas (exceto na brevíssima versão preliminar de Eduardo Paes) é a defesa da integração intermodal no transporte coletivo da capital e região metropolitana, o que inclui BRT-ônibus-metrô-trens-barcas.

São lembrados ainda pelos candidatos o bilhete único e a questão tarifária. Há propostas mais genéricas, como: reestruturar o bilhete único (Martha Rocha), licitar a bilhetagem eletrônica (Crivella), planejar a redução da tarifa (Benedita da Silva). Ou mais incisivas, como a proposta de Renata Souza de criar o bilhete único mensal, quinzenal e semanal, além da perspectiva de chegar à tarifa zero. No programa do PSOL, aliás, há destaque para a proposta “BRT e VLT de Graça”, a ser implantada até o final do mandato.

Bicicletas e calçadas

A mobilidade ativa (pedestres e ciclistas) consta dos programas, com maior ou menor detalhamento. O atual prefeito Crivella, por exemplo, promete implantar cerca de 30% do plano diretor cicloviário em até quatro anos. O candidato do Republicanos, e também Martha Rocha e Benedita da Silva, prometem ampliar as ciclofaixas e a rede de bicicletas compartilhadas.

Já Renata Souza não diz especificamente que vai ampliar a malha cicloviária, mas sim estruturar uma rede integrada de acessibilidade e mobilidade, com prioridade aos deslocamentos a pé e modos não motorizados, e que ciclovias vão alimentar as redes de maior capacidade.

No que se refere à mobilidade a pé, a melhoria das calçadas é a proposta citada por Crivella, e Benedita da Silva é mais econômica, ao falar “en passant” em requalificar bairros para priorizar espaços de pedestres/ciclistas.

E, se no programa de Renata Souza não aparece o termo “melhoria de calçadas”, por sua vez a candidata desenvolve várias propostas voltadas a garantir a acessibilidade ao pedestre, como: municipalizar as calçadas; criar padrões de pavimentação obedecendo as normas (calçadas planas, regulares, com rampas e até corrimões em alguns casos); criar redes de caminhos para encurtar viagens; reduzir velocidades e facilitar travessias; instalar sinalização sonora e luminosa; e por fim, mais investimentos na mobilidade ativa.

Outros modais

Os dois teleféricos do Rio, o da Providência e o do Alemão, são obras que custaram à prefeitura e governo do estado mais de R$ 300 milhões, e no entanto estão parados há quase quatro anos, sem perspectiva de voltarem a operar. Para a população, que se manifestou no início sobre o descaso do poder público, o transporte enquanto durou funcionou como meio econômico, rápido, e que permitia acessar mais confortavelmente os pontos mais altos das comunidades.

Apesar da relevância, o transporte está fora dos programas eleitorais dos candidatos, à exceção de Martha Rocha, que fez menção de implementar teleféricos e planos inclinados em morros e favelas ainda no primeiro ano de governo.

Outro sistema de grande potencial, mas pouco mencionado, é o transporte hidroviário. Alguns programas até citam as barcas, mas apenas de passagem, como referência em propostas de integração intermodal. Mas planos para expandir esse sistema só no caso da candidata do PSOL, que propõe fazer estudos para aproveitar o potencial hidroviário, em especial no complexo lagunar da Baixada de Jacarepaguá.

E o metrô? Embora seja de responsabilidade do governo do estado, esse meio de alta capacidade merecia ser tratado com alguma atenção pelos candidatos à gestão municipal. Por exemplo, propondo algum tipo de envolvimento da prefeitura na captação de investimentos para expansão da rede na cidade. Apenas Renata Souza fala em cofinanciamento entre os dois níveis de governo para permitir a conclusão de ligações importantes, como a Estácio-Carioca.

Transversalidade


Propostas em outras áreas, como habitação, emprego, saúde, educação e, especialmente na área de desenvolvimento urbano, também podem influenciar – de forma positiva ou negativa – a mobilidade na cidade. Nos programas de Benedita da Silva, Martha Rocha, Marcelo Crivella e Renata Souza constam algumas propostas que apontam para a ocupação de vazios urbanos e de edifícios abandonados nas áreas mais centrais, além da criação de outras centralidades, com oportunidades de emprego, escolas e serviços de saúde. Mas são citações apenas, sem apontar planos ou projeto objetivos.

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