Linhas de ônibus do Rio serão submetidos a nova racionalização

Do O Dia – RJ
Foto: Savio Luiz Neves Lisboa/Ônibus Brasil – Ilustração

A solução do comitê executivo criado na Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) para resolver o sumiço dos ônibus será um novo processo de racionalização das linhas municipais do Rio. A prefeitura pretende iniciar a implantação do projeto em até dez dias, começando pela reestruturação de 19 linhas que atendem à Zona Oeste. A informação foi antecipada ao jornal O DIA pelo secretário municipal de transportes, Paulo Jobim Filho. Ele informou que os passageiros deverão fazer mais baldeações.

A readequação do sistema vai começar pela Zona Oeste e poderá ser estendida para toda a cidade, caso as mudanças surtam efeito positivo. A região foi escolhida por ser considerada a mais problemática em questão de transporte público. O projeto prevê a modificação de trajetos e de horários e a extinção de linhas, além da criação de outras. O comitê trabalha com o universo de 59 linhas reclamadas do consórcio Santa Cruz, que atende à região, com base no canal ‘SMTR com Você’. Deste total, 27 tiveram prioridade de avaliação devido ao índice de reclamações, das quais 19 têm perspectiva de readequação de frota. Os detalhes dos serviços alterados na primeira fase ainda serão divulgados.

“A área mais problemática dos ônibus e BRTs está na Zona Oeste, distâncias muito longas onde você tem um certo desequilíbrio maior do ponto de vista de retorno dos operadores e onde muitas pessoas têm muita dificuldade de mobilidade. O comitê está fazendo um estudo, que está praticamente pronto, de readequação da frota e das linhas de ônibus na Zona Oeste, que é exatamente onde os problemas estão centrados. Eu posso dizer que 27 linhas da Zona Oeste estão em fase final de readequação”, afirmou o secretário.

“Estamos olhando a malha de mobilidade da região e verificando: ‘essa linha não tem razão de ser, essa linha pode ser readequada ou podem ser estabelecidos novos horários de entrada e saída’. É uma forma de racionalização do transporte, visando dar mais condições aos usuários. Isso vai acabar se estendendo às outras regiões”, explicou.

Segundo Jobim, as mudanças também atingirão linhas que fazem ligações da Zona Oeste com outras regiões. Bairros como Campo Grande e Santa Cruz são os principais alvos. É importante lembrar que o município passou por uma longa racionalização das linhas no fim de 2015, no governo anterior. O projeto recebeu críticas da população, que passou a fazer mais baldeações e a esperar mais tempo nos pontos. O atual secretário, no entanto, diz que a intenção é acertar e ficar atento para corrigir possíveis erros.

“Todo estudo precisa primeiro ser feito por uma equipe técnica competente, com doutores na área de transporte que conheçam a região. O ânimo é fazer muito bem feito e com a disposição de fazer melhor (…) Podemos garantir que nada será perfeito, porém estamos dispostos a rever sempre as mudanças”, concluiu.

Desde o início da pandemia foram feitas mais de 920 ações de fiscalização e aplicadas 4.339 multas. As principais irregularidades encontradas são as de sempre: inoperância de linhas, má conservação, intervalo entre os ônibus acima do estabelecido e desorganização dos terminais do BRT. Um canal por Whatsapp com a população, o ‘SMTR com Você’ (98909-3717), tem auxiliado na revisão das linhas.

Ajuda financeira só para empresas obedientes

O comitê executivo na SMTR foi criado no dia 11 de agosto, com o prazo de 30 dias para apresentar um relatório com os resultados e propostas de intervenções. A medida foi motivada por denúncias da população que apontam para o sumiço ou redução da frota de cerca de 150 linhas regulares. Segundo o secretário Paulo Jobim, quatro operações já foram realizadas nas garagens e nos pontos e 76 linhas teriam voltado a funcionar. Mas reportagem publicada pelo DIA após uma dessas ações mostrou que as linhas voltaram a sumir ou a circular com menos ônibus.

Programar nova licitação não está em estudo pela Secretaria de Transportes, mesmo após décadas de descaso do setor. Como estratégia para regularizar a oferta de ônibus, a prefeitura opta por punir com multas e estuda priorizar empresas que atendem às regras contratuais, em detrimento das desobedientes, caso seja aprovado um projeto de lei no Congresso que destina auxílio financeiro ao transporte público para compensar as perdas da pandemia. “Existe punição maior que essa? Eu acho que não”, opinou o secretário.

A três meses do fim do mandato do prefeito Marcelo Crivella, a degradação do transporte público também afeta o BRT. Conforme reportagem publicada em julho, 54 de 134 estações estavam com o serviço interrompido, o que representa 40% do total. Os motivos são diversos, segundo o consórcio: desde “otimização operacional” a vandalismo. Nesse fim de semana, mais cinco estações foram alvos de vandalismo e furtos. O secretário comentou que 21 estações estão sendo recuperadas, conforme já foi anunciado, e que conversa com a PM e a Guarda Municipal. O corredor Transbrasil, que tinha promessa de inauguração em 2016, continua em obras.

Especialistas temem prejuízos aos passageiros

A engenheira de Transportes Eva Vider, professora da Escola Politécnica da UFRJ, avalia que racionalizar um sistema que se encontra em condições instáveis de demanda, em função da pandemia, não parece ser uma medida tão eficiente. “Flexibilizar a oferta e adaptar a estrutura de algumas ligações, mediante alterações temporárias, monitoradas permanentemente, parece mais indicado”, aponta a especialista, que acrescenta:

“Não podemos nos esquecer que o distanciamento social precisa ser praticado, bem como outras medidas de controle. Isso influenciará no custo de produção, que demandará aumento de tarifa. Para não prejudicar o combalido orçamento dos passageiros, será imprescindível alterar o quanto antes o atual modelo de política tarifária”.

Baldeação

Já Alexandre Rojas, engenheiro de Tranpostes da Uerj, destaca que “a racionalização das linhas penaliza o passageiro, que passa a fazer mais transbordo. É ruim para a mobilidade, mas aumentar a tarifa não é uma alternativa, principalmente nesta época. Essa racionalização precisa ser explicitada e não ser uma ‘ação entre amigos’, beneficiando exclusivamente as transportadoras”.

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