Após ônibus ‘sumirem’, vans se multiplicam na Zona Oeste do Rio

Do O Globo
Foto: Fabiano Rocha/Extra

Enquanto mais de 140 linhas de ônibus municipais desapareceram nos últimos meses segundo os póprios passageiros, as vans tomaram conta da Zona Oeste, região mais atingida pelo sumiço dos itinerários. Quem circula pelos bairros de Santa Cruz e Campo Grande percebe que o número de veículos do transporte alternativo nas vias se multiplica, ao passo que os coletivos são mais raros. Na Avenida Cesário de Melo, por exemplo, praticamente não se vê ônibus. Mas vans são encontradas aos montes. E não apenas as legalizadas, mas também veículos irregulares e até piratas.

— Com a ausência das principais linhas de ônibus, as vans e kombis hoje se tornaram um refúgio para nós moradores da Zona Oeste. Se não fossem elas, estaríamos a pé ou entregues ao aplicativos. Estamos totalmente isolados, refém do transporte alternativo. Existem comunidades periféricas em Santa Cruz que só são atendidas por vans e kombis há anos, porque as empresas simplesmente abandonaram aquela região. A população de Santa Cruz vem crescendo monstruosamente e o transporte público não está acompanhando essa evolução — reclamou o comerciário Rafael Monteiro, de 27 anos, morador no bairro.

O número de veículos do transporte complementar autorizados a circular na cidade é de 3.358. A prefeitura não tem estatísticas da pirataria, mas o Sindicato dos Proprietários de Vans estima que sejam pelo menos dois mil piratas. Ontem, o EXTRA flagrou uma kombi fazendo o embarque de passageiros na Rua Senador Camará, em Santa Cruz, o que é proibido para esse tipo de veículo. Já algumas vans circulavam sem a indentificação em faixas padronizadas e exigidas pela Prefeitura do Rio. Algumas até exibiam a faixa lateral pintada na lataria, mas sem informar o itinerário, por exemplo.

Alessandro Carracena, subsecretário executivo da Secretaria de Ordem Pública (Seop), reconhece que a Zona Oeste é uma das regiões mais complicadas no combate às irregularidades do transporte alternativo, mas assegurou que a fiscalização é diária.

— O transporte alternativo é um dos braços dessas organizações criminosas, tanto de tráfico como da milícia. Quando a gente combate (o transporte irregular e pirata), está atacando frontalmente essas organizações criminosas, o que torna a dinâmica do trabalho muito desgastante para nós — afirmou, acrescentando que os pontos mais sensíveis estão em bairros como Pavuna, na Zona Oeste, Bangu e Santa Cruz, na Zona Oeste.

A Coordenadoria Especial de Transporte Complementar, responsável pela fiscalização, informou que apreendeu 917 veículos de transporte alternativo, sendo 261 (28,5%) piratas, do começo de janeiro até o último dia 9. Santa Cruz, Pavuna, Campo Grande, Bangu e Barra da Tijuca lideram as apreensões. Desde que a coordenadoria foi criada, em agosto de 2018, até dezembro passado foram retirados da rua 1.005 piratas de um total de 4.101 remoções, segundo o órgão.

Carracena disse que o combate às vans piratas, aquelas sem permissão para circular, tem sido prioridade, e as ações diárias resultam no índice alto de apreensão. Mas ele reconheceu que há horários mais sensíveis, como a noite e a madrugada, quando os operadores desses veículos se aproveitam da ausência de fiscalização para ir às ruas.

— As nossas equipes, em que pese ser compostas por policiais, ainda são em número reduzido. Não temos muitos fiscais para dar todo aquele suporte, inclusive para a nossa segurança pessoal. Temos relatos de estarmos em fiscalização à noite e sermos alvejados com tiros nessas regiões mais complicadas, que ficam próximas das comunidades — contou.

O subsecretário da Seop Alessandro Carracena não informou o número de agentes utilizados na fiscalização ao transporte irregular, sob a alegação de se tratar de uma medida de segurança. Em 2018, reportagem do Globo apurou quem eram apenas 20 fiscais para mais de duas mil vans existentes na ocasião. Carracena garantiu que o quantitativo aumentou, mas não informou quanto. Segundo ele, o crescimento foi possível por conta da legislação que, por meio do Proeis, permite a contratação de PMs para atuarem nos seus momentos de folga.

A Zona Oeste é a região em onde a prefeitura enfrenta mais dificuldade para reorganizar as vans. Uma licitação para preenchimento de 1.795 vagas, sendo 967 imediatas e outras 828 para reserva, chegou a ser iniciada em junho de 2016, mas o processo foi suspenso pela Justiça e até hoje não foi concluído. Ao todo, seriam licitadas 99 linhas para nove bairros.

— Todos eles (os motoristas) estão ansiosos e aguardando o fim dessa licitação para fechar o ciclo de regulamentação de todas as linhas do sistema — cobra Vitor Rodrigues, diretor do Movimento em Defesa do Transporte Alternativo.

Sobre a licitação, a Secretaria municipal de Transportes informou que o processo está suspenso. Com relação à revisão dos itinerários das vans, outra reivindicação dos motoristas, o processo segue em curso na pasta, “mas foi afetado pela pandemia, já que as pesquisas de campo e de demanda não seriam condizentes com a realidade, devido à alteração na rotina dos passageiros, por conta do isolamento social”.

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