SP: Cidade paulista inova com o ‘Uber do transporte público’

Do Jornal O Globo
Foto: Jan Vašek (Pixabay)

Com o celular na mão, o cidadão indica seu ponto de partida e o local para onde quer ir. Mas no lugar de um carro de aplicativo, chega para atendê-lo um micro-ônibus, com outros passageiros que vão para destinos próximos.

A operação é feita por uma empresa de transporte público e o preço, em função do compartilhamento, é mais baixo do que os oferecidos por plataformas como a Uber ou 99.

O modelo, chamado de rota flexível, deve começar a ser operado em janeiro de 2021 em São José dos Campos, pólo tecnológico do Vale do Paraíba (SP), e é apontado como uma das saídas pensadas pelas cidades para modernizar um serviço cuja utilidade tem sido, ao longo dos anos, inversamente proporcional à qualidade.

Se a pandemia do coronavírus evidenciou o flagelo dos mais pobres na área da saúde, no transporte público a crise afetou fortemente o sistema adotado por quase todos os municípios do país.

Segundo a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), por falta de passageiros, as empresas de ônibus acumularam prejuízo de R$ 3,72 bilhões de março a junho, período de maior isolamento social. De julho a dezembro, a estimativa é de um déficit de R$ 5,07 bilhões.

Tudo isso acabou acelerando a discussão sobre a perda de competitividade dos ônibus como meio de transporte urbano. Segundo a ANTP, eles já vinham sendo trocados por motocicletas e carros de aplicativo. A rota flexível de São José dos Campos, que vai conviver com as linhas tradicionais, surgiu dessa realidade.

No município de cerca de 720 mil habitantes, antes da pandemia, o faturamento da Uber e do 99, com 4 mil automóveis somados, chegou a R$ 15 milhões por mês, apenas R$ 1 milhão a menos do que a receita mensal das empresas de ônibus, que operam uma frota de 389 veículos. Nos últimos 10 anos, os ônibus da cidade perderam 25% dos passageiros.

— Quero que o usuário pegue seu aplicativo e veja as opções. Pode usar ônibus e bicicleta, ônibus e aplicativo, o que for melhor. O bilhete único será uma conta única digital. Ele tem o crédito e poderá usar em qualquer modal — diz Paulo Guimarães, secretário de Mobilidade Urbana de São José dos Campos.

Novos financiamentos: Entre as opções, há ainda 20 carros elétricos compartilhados, que hoje podem ser usados por aplicativo, nos mesmos moldes do aluguel de bicicletas. Os apps serão geridos por fintechs.

Sérgio Avelleda, diretor de mobilidade urbana do programa de cidades sustentáveis da World Resources Institute e ex-secretário de mobilidade de transporte de São Paulo, defende novas formas de financiamento, por meio da cobrança de vagas de estacionamento nas ruas e criação de taxas de congestionamento.

O setor ainda aposta na velha ajuda governamental.

— O governo federal tem que ser parte da solução do problema — resume o superintendente da ANTP, Luiz Carlos Mantovani Néspoli.

Deputados federais tentaram aprovar na madrugada da última quarta-feira um socorro de R$ 4 bilhões para o setor. O problema é que a ajuda foi inserida no texto de uma Medida Provisória que não tinha nenhuma relação com o tema transporte. A manobra irritou vários parlamentares e a votação acabou não acontecendo.

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