Pandemia tornou transporte público inviável

Do Monitor Mercantil
Foto: Bruno Concha/Secom PMS – Ilustração/Fotos Públicas

Em manifesto contra a inércia do poder público diante do estado crítico do sistema de transporte coletivo urbano em todo país, a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) alerta para as graves consequências sociais e econômicas do colapso desses serviços, que deve ocorrer no pós-pandemia, pela necessidade de mudanças drásticas na forma de transportar as pessoas, com maior oferta do serviço e menos passageiros por veículo.

Para evitar isso a entidade pede, entre outras medidas, a destinação imediata de recursos extratarifários, provenientes de orçamentos públicos – em especial do Governo Federal -, para equilibrar o custo adicional da oferta de serviços em níveis adequados aos protocolos da Saúde que deverão ser seguidos daqui para a frente.

“Se nada for feito, a quebra dos sistemas organizados de transporte público vai gerar perdas para a sociedade da ordem de R$ 320 bilhões por ano”, afirma Ailton Brasiliense, presidente da ANTP, entidade que assina o “Manifesto por um Transporte Público Digno, Econômico e Ambientalmente Sustentável”. Segundo ele, esse seria o custo da substituição do sistema público coletivo por opções individuais de transporte. Para se ter uma ideia do que isso significa, apenas 10% deste valor já permitiria reduzir a tarifa do transporte em 50% para todos os brasileiros. “É inevitável e urgente rever toda a prestação de serviço de transporte público coletivo no Brasil”, reforça.

De acordo com o manifesto, uma eventual ausência de transporte público trará graves problemas econômicos ao desarticular a estrutura de produção local, distanciando a oferta de mão de obra dos locais de trabalho. “A dinâmica econômica das cidades, seu papel como ambiente de desenvolvimento, a sustentabilidade ambiental e a qualidade de vida urbana dependem fundamentalmente de um transporte público universal e de qualidade”, alerta Brasiliense.

Nesse sentido, o presidente da ANTP afirma que, ao contrário do que muitos imaginam, a população não poderá contar com o transporte individual motorizado como solução para realizar seus deslocamentos. “Uma parcela razoável das pessoas que usam o transporte público não tem qualquer condição de pagar por um veículo individual”, esclarece e antecipa que haverá exclusão social e econômica de uma parcela significativa da sociedade, que deixará de ter acesso às oportunidades oferecidas pelas cidades, como emprego, estudo, saúde e lazer.

A ANTP reforça a urgência de ações organizadas e articuladas com participação de entes públicos das esferas federal, estadual e municipal, e também da sociedade civil, para se evitar a extinção desse serviço no novo formato imposto pela pandemia.

O manifesto destaca ainda que a prestação dos serviços por ônibus é realizada por empresas privadas, estruturadas e com experiência reconhecida na área. No Brasil, segundo a ANTP, cerca de 1.800 empresas operam diariamente 107 mil ônibus, percorrendo 191,4 milhões de quilômetros por mês. O setor gera mais de 400 mil empregos diretos, entre motoristas, cobradores, pessoal de manutenção e demais profissionais. Já o transporte sobre trilhos – metrôs e ferrovias metropolitanas – administrado por estados, pelo Governo Federal e também pela iniciativa privada, congrega atualmente 15 operadoras com um total de 1.105 km de linhas, transportando diariamente 10,9 milhões de passageiros.

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