Presidente da Fiat Chrysler para América Latina diz que há ‘retrocesso de 15 anos’ nas vendas

Do O Globo
Foto: Paulo Pinto / Fotos Públicas

Depois de 45 dias de paralisação, a Fiat Chrysler Automóveis (FCA) foi uma das primeiras empresas a retomar a produção de veículos no Brasil, em suas três fábricas no país (Minas Gerais, Pernambuco e Paraná), em 11 de maio. A queda de vendas entre a demanda doméstica e as exportações foi de 70%.

Por isso, as linhas de montagem estão trabalhando em sistema de stop and go, com paralisações semanais ou diárias, para se adaptar ao mercado.

Uma das grandes preocupações da FCA é o caixa. O setor automobilístico tem necessidade de até R$ 50 bilhões em capital de giro, segundo a Anfavea, a associação dos fabricantes. Antonio Filosa, presidente da FCA para a América Latina, avalia, em entrevista ao GLOBO, que só em 2023 será possível recuperar os níveis de vendas de 2019 na região, de 4,1 milhões de unidades.

Quais são as dificuldades na volta da produção?

— Havia a dificuldade de manutenção dos empregos, mas isso foi resolvido rapidamente pelo governo com a MP 936, que permitiu otimizar custos e garantir o trabalho até o fim do ano. Agora, a dificuldade é de caixa, com a queda dramática das vendas.

A Anfavea negocia com bancos e governo usar créditos tributários em empréstimos. Como andam as conversas?

— Temos diálogo, mas ainda não temos a solução. O caixa neste momento é um problema de toda a cadeia do setor, de 7 mil empresas, que geram 1,2 milhão de empregos e equivale a 18% do PIB industrial. A montadora tem mais folga, mas para alguns fornecedores, mais vulneráveis, o caixa dura apenas semanas.

Não é possível pedir socorro financeiro à matriz?

— A crise provocou um problema de caixa nas montadoras em todos os países. Minhas matrizes são Itália e EUA, que foram muito afetados. Antes, quando um mercado estava mal, outro que estava bem compensava as perdas. Agora, estão todos ruins.

A FCA manterá os investimentos previstos no Brasil?

— De 2018 a 2024, o investimento previsto é de R$ 14 bilhões em novas tecnologias, motores e modelos. Vamos manter mas, sem caixa, os projetos terão que ser postergados entre seis e doze meses.

Qual é a perspectiva para a retomada do mercado no país?

— Depende dos estímulos que o governo dará. No Brasil, a demanda por veículos poderá cair até 40% este ano, para 1,8 milhão de unidades. Significa um retrocesso de 15 anos. Mas acredito que, na América Latina, só em 2023 teremos o nível de mercado de 2019, com 4,1 milhões de unidades vendidas.

Com a volta da produção não há risco de crescimento do estoque?

— A produção não voltou a 100%. Teremos paradas diárias para nos adaptarmos ao mercado. Temos mil fornecedores diretos e indiretos. Será um esquema de produção inédito. A demanda, entre exportação e doméstica, caiu 70%. Vamos ter que monitorar.

Quais a novidades para estimular as vendas?

— Todas as vendas agora nascem digitalmente. Antes, 20% começavam pela internet. Estamos oferecendo test drivedelivery. Também há a possibilidade de pagamento da primeira parcela em 2021, em financiamentos com entrada.

Como será o consumidor pós-crise?

— Teremos aquele consumidor com receio de aglomerações, que vai procurar a melhor forma de ter um carro no segmento de entrada do mercado. Outro perfil é o do consumidor que não teve — ou teve pouco — impacto no caixa. Com demanda reprimida nesses meses, ele vai voltará a comprar carros premium.

Qual é o novo normal na fábrica?

— Máscaras, distanciamento nos ônibus da empresa, refeitórios e vestiários. Há proteções plásticas para evitar contatos e tomada de temperatura na entrada. Todos os dias os funcionários têm que responder pelo aplicativo se estão bem ou tiveram contato com alguém infectado. Montamos hospitais de campanha nas três cidades brasileiras onde estamos, com 400 leitos no total.

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